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Ilustração: Dila A volta de Virgulino para consertar o sertão Num verso espetacular: "Minha mãe me deu ao mundo De maneira singular Me dizendo uma sentença Pra eu sempre pedir licença Mas nunca deixar de entrar". E por isso eu peço à História E aos guardiões da verdade Permissão para escrever Com natural liberdade Solto no tempo e no espaço Um tema sobre Cangaço Justiça, Moralidade. O tempo bom já se foi Muita gente pensa assim E se a vida era difícil Por certo está mais ruim Parece até que este mundo Mergulha num caos profundo Já decretando o seu fim. Hoje em dia só se vê Guerra, sequestro, atentado Miséria, fome, doença Vulcão, enchente, tornado Desemprego, violência Corrupção, indecência Se espalham por todo lado Os jovens sem esperança Que haja melhores dias Se entregam logo às drogas Às badernas e às orgias Amparando-se em galeras Se tornam vorazes feras Fazendo selvagerias. Políticos demagogos Jurando santa inocência Só se elegendo por serem Uns ladrões de consciência Mantendo o povo carente E por isso dependente Dos programas de assistência. Também os capitalistas Que lucram com a pobreza Dão apoio a esses homens Pensando só na riqueza Nos bancos seu saldo cresce Enquanto o povo padece Sem comida sobre a mesa. Pior mesmo são aqueles Que plantam a tal da maconha Vendendo falsa alegria A quem a ela se exponha Perde a liberdade, o tino Se tornando um libertino Viciado e sem-vergonha. Mas a praga mais atroz Atende por Impunidade Quem tem poder pinta e borda Quer no campo ou na cidade Porém nada lhe acontece Só o pobre é quem conhece O rigor da autoridade. E aí o povo pira Sem saber o que fazer Quem é reto raramente Prova o gosto do vencer Já o tronxo se sai bem Mangando sempre de quem Vive no mundo a perder. Mas no Nordeste houve um tempo Que a coisa foi diferente Os poderosos de antanho Sentiram que à sua frente Um outro poder nascia Afrontando a tirania Sem temer ouro ou patente. Velames e macambiras Deram moldura à odisséia E muitos já escreveram Sobre essa grande epopéia Como eu nunca pesquisei Com o pouco do que eu sei Aqui dou só uma idéia. Quer força seria esta Que causou apreensão A quem achava ter o Mundo na palma da mão Foi ela um cabra-da-peste Este El Cid do Nordeste VIRGULINO, LAMPIÃO Por muito tempo causou Grandioso rebuliço Enfrentando os poderosos - O povo precisa disso - Desde quando começou Virgulino demonstrou Que não brincava em serviço. Igual ao vate Camões Na luta perdeu uma vista Mas em termos de campanha Foi um bom estrategista Em fileira a tropa andava E o derradeiro apagava Seus rastros, pra não dar pista. Se morresse um cangaceiro Levavam o corpo consigo Escondendo pois a baixa Confundindo o inimigo A outro seu nome dava E a macacada pensava Que ainda era o antigo. São estes rasos exemplos Da sua pródiga malícia Por isso Lampião foi Expoente na milícia Sendo assim, anos a fio Com astúcia conseguiu Dar um quinau na polícia. A quem tinha o bom guardado Pedia contribuição Se atendesse ao pedido Dava eterna gratidão Mas ai daquele sujeito Que dissesse "não" ao pleito Do Grande Rei do Sertão. Não há bom sem ter defeito Sempre ouvi do meu avô Se matou gente inocente E moçoilas profanou Foram cenas isoladas Em horas desatinadas Isso Deus lhe perdoou. O que vinga para a História É que o grande Virgulino Procurou fazer justiça Forjado pelo destino À elite fazendo ver A pujança e o poder Do matuto nordestino Porém na Fazenda Angicos Essa fase se findou O poder dos potentados De novo sozinho reinou Mas para o povo sofrido Lampião não foi vencido Não morreu, só dormitou. Mas o Sino-Salomão Acabou de revelar Que esses modernos algozes Não perdem por esperar Pois pra nossa salvação O nosso herói, Lampião Breve, breve, irá voltar. Já formou sua nova tropa Seu roteiro está traçado Muita arma e munição Deixa o bando preparado Da alpercata à testeira Pra cantar "Mulher Rendeira" E se esbaldar no xaxado. Pra não perder muito tempo Nem sair da direção Se verá na próxima estrofe Uma curta relação Cujos nomes metem medo E revelam um segredo: São os cabras de Lampião. Inocêncio, Meteoro Pau-de-Sebo, Mutirão Torpedo, Dila, Vandame Zé Orvalho, João Tufão Raio Laser, Mó-Sentado Rola-Grossa, Delegado Terremoto e Folião. Começarão perseguindo O cafajeste que ilude Crianças que mal adentram No verdor da juventude Pra vender corpo e moral Esse vai morrer no pau Sem ninguém que lhe ajude. Prefeito que contratar Trio Elétrico no São João Renegando a melodia De xote, coco e baião Ficará nuzinho, pelado Para dançar um xaxado De costas pra Lampião. Mas também quem só gastar Grandes somas de dinheiro Com essas bandas medíocres Que tocam forró fuleiro Inventado por cearense Manda avisar que não pense Que escapa do cangaceiro. Sua Excelência, o político Que não honrar seu mandato Crescendo às custas do sangue Do povo ordeiro e pacato Lampião já avisou: A esse perdão não dou Mas lhe surro, capo e mato. Salteador das estradas Cantadas por Marcolino Se não der um basta nisso Será triste o seu destino Vai comer quilo de sal E engolir um Sonrisal A mando de Virgulino. E o plantador de maconha Perdição da juventude Trate logo de parar Peça que o bom Deus lhe ajude Mas caso não se arrependa Faça logo a encomenda Ligeiro, dum ataúde. Onde e quando voltará Ninguém tem convicção Mas parece que o Nordeste Só tem mesmo solução Com a vinda de um sujeito Com raça, coragem e peito Do valente Lampião.
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