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140
anos de nascimento de Comemora-se este ano
os 140 anos de nascimento de Leandro Gomes de Barros, o maior expoente
da Literatura de Cordel. O poeta nasceu na fazenda Melancia, em Pombal-PB,
no dia 19 de novembro de 1865 e faleceu em Recife-PE, no dia 4 de março
de 1918, segundo alguns pesquisadores, vitimado pela Influenza espanhola.
Era sobrinho materno do padre Vicente Xavier de Farias, que ajudou a criá-lo.
Por causa dos maus tratos que o padre lhe infligia, fugiu de casa aos
11 anos, tendo passado muitas privações. Qualquer semelhança
com a história de Cancão de Fogo e Alfredo, personagens
criados pelo mestre de Pombal, talvez não seja mera coincidência...
"Fui
um menino enjeitado Esse
homem que me cria Leandro residiu até
os 15 anos de idade no Teixeira, na Paraíba (berço dos grandes
cantadores do passado), tendo se mudado após esse período
para Vitória de Santo Antão-PE, onde casou-se com dona Venustiniana
Eulália de Barros, com quem teve quatro filhos, segundo apurou
a conceituada pesquisadora Ruth Brito Lemos Terra em sua obra "Memórias
de Lutas: Literatura de Folhetos do Nordeste - 1893 - 1930". Os filhos
de Leandro eram Rachel, Erodildes (Didi), Julieta e Esaú; este
último seguiu a carreira militar, tendo participado da Revolução
de 1924 e da Coluna Prestes. Durante as pesquisas realizadas para elaboração
de sua obra, Ruth Terra conseguiu entrevistar Julieta Gomes de Barros,
uma das filhas de Leandro. Um dos filhos, Esaú, assinou juntamente
com mãe o documento de venda da obra de seu pai ao poeta João
Martins de Athayde, em 1921. Estima-se que a vasta
produção literária de Leandro, iniciada em 1889,
no estado de Pernambuco, atinge cerca de 600 títulos, dos quais
foram tiradas mais de 10 mil edições. Entre 1906 e 1917
foi proprietário de uma pequena gráfica - a Typografia Perseverança
- destinada exclusivamente à impressão e distribuição
de seus próprios folhetos, tendo vendido o seu prelo ao amigo Francisco
das Chagas Batista, da Popular Editora, em função de suas
muitas viagens e pouco interesse dos filhos (ainda pequenos) pelo ofício
de tipógrafo. Após a sua morte, em 1918, seu genro Pedro
Batista (irmão de Chagas Batista e esposo de Rachel Aleixo de Barros,
filha de Leandro), continuou editando a sua obra em Guarabira-PB, fazendo
algumas revisões de linguagem. Na 3ª edição
completa de "O Cachorro dos Mortos", um dos maiores clássicos
de Leandro, publicado em Guarabira-PB em 1919 (um ano após a sua
morte), Pedro Batista colocou o seguinte aviso: "Tendo falecido
o poeta Leandro Gomes de Barros passou a me pertencer a propriedade material
de toda a sua obra literária. Só a mim, pois, cabe o direito
de reprodução dos folhetos do dito poeta, achando-me habilitado
a agir dentro da lei contra quem cometer o crime de reprodução
dos ditos folhetos." Ainda na contracapa
do dito folheto, Pedro Batista dá nome aos "bois" responsáveis
pela "pirataria": "Já
achava-se este folheto em composição quando chegou ao meu
conhecimento que em Belém do Pará, um indivíduo de
nome Francisco Lopes e no Ceará um outro de nome Luiz da Costa
Pinheiro, têm criminosamente feito imprimir e vender este e outros
folhetos do poeta Leandro Gomes de Barros, sem a menor autorização
de minha parte que sou o legítimo dono de toda a obra literária
desse poeta. (...)" Ora, bem pior fez
João Martins de Athayde, que após adquirir por compra o
espólio de Leandro, tentou usurpá-lhe a autoria suprimindo
o seu nome da capa dos folhetos e alterando os acrósticos que Leandro
utilizava no final dos poemas, a fim de confundir a identificação.
Essa prática condenável verifica-se em dezenas de obras
reeditadas por Athayde. Vejam só o que aconteceu com a última
estrofe do folheto "A Força do Amor ou Alonso e Marina",
onde o acróstico LEANDRO foi alterado para IEANJRO: Folheto editado pelo
autor: Levemos
isso em análise Versão de João
Martins de Athayde: Isto
fica como exemplo A venda dos direitos
autorais de Leandro Gomes de Barros, pela viúva do poeta, Dona
Venustiniana Aleixo de Barros, a João Martins de Ataíde
ocorreu em 1921. O pesquisador Sebastião Nunes Batista, que muito
se empenhou pela restituição de autoria de Leandro e de
outros poetas populares, informa como se deu essa transação,
em artigo intitulado "O seu ao seu dono..." publicado na revista
Encontro com o Folclore (Rio de Janeiro, 5 de abril de 1965): "D. Vênus,
como era chamada na intimidade, desentendera-se com o seu genro Pedro
Batista, porque tendo este enviuvado de sua filha Rachel Aleixo de Barros,
que faleceu de parto da pequena Djanane, não concordou em que a
menina fosse para companhia da avó materna, e esta em represália
autorizou João Martins de Athayde a editar parte da obra literária
do grande poeta popular paraibano Leandro Gomes de Barros." Escreveu folhetos
de cordel de grande aceitação popular, como O Cachorro dos
Mortos, Branca de Neve e o Soldado Guerreiro, Batalha de Oliveiros com
Ferrabrás, Peleja de Riachão com o Diabo, História
da Donzela Teodora, Juvenal e o Dragão, Antônio Silvino,
o Rei dos Cangaceiros e O Boi Misterioso. Pioneiro na produção
de literatura de cordel no país, Leandro Gomes de Barros foi considerado
por Luís da Câmara Cascudo "o mais lido de todos os
escritores populares. Escreveu para sertanejos e matutos, cantadores,
cangaceiros, almocreves, comboieiros, feirantes e vaqueiros. É
lido nas feiras, nas fazendas, sob as oiticicas, nas horas do 'rancho',
no oitão das casas pobres, soletrado com amor e admirado com fanatismo.
Seus romances, histórias românticas em versos, são
decorados pelos cantadores". LEANDRO
POR ELE MESMO
Xilogravura
de Klévisson Viana A cabeça
um tanto grande e bem redonda, Tem
a fala um pouco fina, voz sem som, Olhos
grandes, bem azuis, da cor do mar; UMA PENA EM
DEFESA DOS OPRIMIDOS O poeta e pesquisador
Permínio Ásfora também escreveu sobre Leandro: "(...)
Trechos de sua vida são lembrados ainda hoje. Contam que já
morava no Recife quando um senhor de engenho, indignado com um morador,
resolveu aplicar neste uma sova de palmatória (...) Um dia o senhor
de engenho é surpreendido por violenta punhalada vibrada pela mesma
mão que levara seus bolos". E segue informando que Leandro
aproveitando a fato descreveu o folheto "O Punhal e a palmatória"
, publicação que o levou à prisão pelo chefe
de polícia. Ásfora informa que: "...apesar de folgazão,
Leandro era homem de muita vergonha e de muito sentimento. E que naquele
já distante ano de 1918 a cadeia constituía uma humilhação,
à humilhação da cadeia sucumbiu o grande trovador
popular". Tudo leva a crer que Leandro veio a falecer vítima
desse inconveniente. Eis a primeira estrofe do folheto questionado: "Nós
temos cinco governos
Projeto
Saber Cordel
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extras Imprensa
Como adquirir
Leandro Gomes de Barros,
o rei da Literatura de Cordel
Por: Arievaldo Viana
Capa do folheto "Discussão de Leandro com uma
velha de Sergipe"
Fui triste logo ao nascer
Nem uma ave noturna
Tão triste não pode ser
Eu sou igual ao deserto
Onde ninguém quer viver.
Me maltrata em tal altura
Que nem um preso no cárcere
Sofrerá tanta amargura
Não foi Deus, é impossível
Que me deu tanta amargura."
(Trechos de "A Vida de Cancão de Fogo e seu
Testamento", que narra o encontro de Cancão com o seu colega
Alfredo).
Então ver-se-á onde vai
A soberba é abatida
No abismo tudo cai,
Deus é grande e tem poder
Reduz ao pó qualquer ser
O poder dele não cai.
Então ver-se-á onde vai
A soberba é abatida
No abismo tudo cai
Jesus é grande em poder
Reduz ao pó qualquer ser
O poder Dele que é pai.
O nariz, afilado, um pouco grosso;
As orelhas não são muito pequenas,
Beiço fino e não tem quase pescoço.
De cor branca e altura regular,
Pouca barba, bigode fino e louro.
Cambaleia um tanto quanto ao andar.
Corpo mole, mas não é tipo esquisito,
Têm pessoas que o acham muito feio,
Sua mãe, quando o viu, achou bonito!
Não se sabe ao certo o número de histórias que escreveu.
Estima-se que foi autor de mais de 600 obras, das quais, pelo menos umas
50 são verdadeiros clássicos do gênero.
O primeiro o federal
O segundo o do Estado
O terceiro o municipal
O quarto a palmatória
E o quinto o velho punhal".
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