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Patativa do Assaré

A Voz que (ainda) Canta o Sertão!

Por: Luiz Carlos Lemos
Juiz de Fora / MG
luzcar@oi.com.br
www.compadrecordel.zip.net

Amigo Leitor, os dias
De hoje são diferentes.
Ainda temos repentes,
Ainda temos Cordel.
Ainda existe alegria
De se ler boa poesia
Escrita em bom papel.

Porém, o que tem mudado,
Eu falo aqui, sem temor,
Não é o som, nem a cor
Da arte de antigamente.
É a ferramenta, Doutor.
O tal do computador
Que faz as coisas pra gente!

Não se escreve mais à mão,
Nem com Datilografia.
Findou-se, pois, a magia
Do artesão-escritor!
Por um bom tempo eu lutei
E quase que recusei
O tal do computador!

Mas, enfim, ele venceu
E eu me rendi, conformado.
E um Cordel - digitado! -
Escrevo, neste momento.
Pois estaria isolado
Se tivesse recusado
Utilizar este invento.

Portanto, eu me assento.
Em frente ao computador,
Com a missão de expor
Uma estória verdadeira.
Peço a Deus proteção
E também a inspiração
Pra minha rima rasteira.

E a tarefa é pesada,
De responsabilidade.
Precisa seriedade,
Pra não mentir, na missão.
Pra dizer bem a verdade,
Mentira é calamidade
De que não faço questão.

Mas eu começo com fé
Que dou conta do recado.
Já rezei, “tou” preparado.
Para “o que dé e vié”.
Vou falar do afamado
Poeta, que foi chamado
“Patativa do Assaré”.

Começando do começo
Quando nasceu Patativa?
Sua fama inda é viva,
Ser verso é o melhor!
Sua poesia é tão linda,
Que o povo se lembra ainda!...
E menino sabe de cor!

Foi na Serra de Santana,
Município de Assaré
Que esse poeta de fé
Saltou pra luz, num repente.
O estado do Ceará
Muito se orgulhará
Do poeta, eternamente!

No dia cinco de março
De mil novecentos e nove.

O povo, então se comove.
Com o brilho daquele dia.
Mas não podia saber
Que estava vendo nascer
Um Menestrel da Poesia!

Naquele dia nasceu
Um forte e belo menino.
Na igreja tocou sino,
Como fosse dia santo!
E no choro, parecia
Que o menino dizia:
“Escutem todos, meu canto!”.

“Eu acabei de chegar”.
Nascido nesse Nordeste.
E sou um cabra da peste!
Uma promessa eu faço:
O mundo que me aprove,
Pois a vida me comove...
Vou ser poeta, no braço!”

“Eu vou cantar o sertão”.
Com a força do meu verso!
E o Rei do Universo
Me ajude, por caridade.
Vou cantar em verso nobre
A desventura do pobre
Sem faltar com a Verdade!”

Antônio Gonçalves da Silva
Foi na Pia batizado.
O padre disse, assustado,
Para a mãe de Patativa:
Eita, que choro danado!
Vai ser poeta, o safado,
De poesia criativa!

O pai, de nome Seu Pedro,
Não ficou muito contente:
“Vai ser poeta? Ô xente!
Mió sê trabaiadô!
Essa vida é uma briga
Poesia não enche barriga
Isso é coisa de dotô.”

Mas a mãe, Dona Maria.
Disse: “Deus sabe o que faz!
Deixa o menino em paz
“Móde sê o qui quisé.”
Selava assim o destino
Daquele feliz menino
Patativa do Assaré!...

E o Antonio menino
Cresceu ajudando os pais.
Não recusando jamais
O seu duro dia-a-dia.
Trabalhava ele na roça,
Morava em uma palhoça,
Mas sempre com alegria!

Aos quatro anos de idade,
O nosso pequeno artista
Fica cego de uma vista,
De um mal chamado “dordói”.
Mas a tudo ele resiste
Pois da lida não desiste
Quem já nasceu pra herói.

Continua seu trabalho,
Sua vidinha na roça.
Porém sua língua coça
De vontade de versar.
“Se óio pra qui pra li
Vejo um verso se buli”,
Viria ele a cantar.

Mil novecentos e dezessete
Ele, com oito anos,
Passa por desenganos
Da sorte e triste vai,
Com a mãe e os irmãos,
Todos, juntando as mãos,
Ao enterro de seu pai.

Falecia, assim, Seu Pedro.
De quem tanto ele gostava.
E Patativa chorava,
Tomado de emoção.
Ao mesmo tempo, rezava.
E ao povo todo ele dava
Exemplo de bom cristão.

Logo depois, a má sorte
Novamente lhe alcança.
Ele, ainda criança...
E a mãe, morreu de repente.
Saudosa Dona Maria!...
Mas eles, com valentia,
Tocaram a vida pra frente!

O Nordestino é assim:
Um forte, por natureza.
Mesmo em grande tristeza
Não se abate, e vai com fé.
A força mais se aviva!
E assim foi com Patativa,
O Poeta do Assaré.

Os doze anos contava
Quando na escola entrou.
Só quatro meses ficou,
Devido sua pobreza.
Pois nem à escola primária
A classe minoritária
Tem direito, com certeza.

Mas esse tempo de estudo
Foi, pra ele, de valia.
Rapidamente aprendia
As letras do ABC.
Nesse tempo, ele já faz
Alguns versinhos e traz,
Para a professora ver!

E ele, pra conseguir
Um sucesso tão marcante,
Teve um bom ajudante,
Facilitando o trabalho.
Estudou e deu valor
Ao livro do Professor
Felisberto de Carvalho
.

Começa assim, nesse tempo,
A carreira do poeta.
Sua alma inquieta
Sempre buscando a Poesia.
Nas festas da redondeza
Declamava, com beleza,
Já dando ao povo alegria.

Nesse tempo, ele já lia
Poesia de Cordel.
“Na casa dos Coronel,
Lia tudo o que achava”.
“Apois, então, muito bem,
Eu posso fazer também!”
Já Patativa pensava.

E começou a escrever
Guardando o seu rabisco
Para não correr o risco
De sua obra perder.
Escrevia com emoção,
Falando sobre o sertão,
Onde adorava viver.

Só pra citar um exemplo,
Num poema, ele dizia:
“Eu sei que minha poesia
Já nasce do coração.
Não canto as coisa impussive,
Eu canto as coisa visive
Do meu querido sertão”.

E continua o poeta,
Com sua simplicidade
Dizendo só a verdade,
Pois quem não mente, não erra:
“Assim que eu óio pra cima
Vejo um dilúvio de rima
Caindo in riba da terra”

No ano de vinte e cinco,
Ele, já quase homem feito,
Fez um negócio direito
E ficou todo pachola.
Vendeu uma cabra, um dia,
Apurou uma quantia
E comprou uma viola!

E começou a cantar!
Com a violinha na mão,
Percorria a região,
Fazendo e cantando verso.
Viajava sempre a pé,
Contando com sua fé
No Criador do Universo.

Nesse tempo ele faz
Sua primeira viagem.
Conhece nova paisagem
Que jamais esquecerá.
Com o primo Zé Montoril,
Vai conhecer o Brasil
Lá em Belém do Pará!

Ficando por cinco meses
Naquelas terras do Norte,
Conhece, com muita sorte,
Zé Carvalho, um jornalista.
Que lhe diz com voz ativa:
“Você nasceu Patati
va
É o seu nome de artista!”

Patativa logo aceita
E muito gosta do nome.
No entanto, ele diz: “Home,
Não esqueço meu lugar.
O nome bonito é...
Mas, Patativa do Assaré
Eu passo a me chamar.”

E assim, nosso poeta
Em todo lugar chegava.
E o povo o aclamava
Dizendo: “Esse é que é
O poeta arretado,
Que pelo povo é chamado
Patativa do Assaré!”

Nesse tempo também,
Se bem me lembro e não erro,
Ele anda de trem de ferro,
Alegre, feito criança.
Pra percorrer o Estado,
Ele vai aboletado
No trem da Belém-Bragança!

De volta ao Ceará
Continua a sua luta.
Na roça, tem a labuta.
À noite, escreve poesia.
Conhece, ainda pequeno,
A um Juvenal Galeno,
Poeta, que lhe auxilia.

É citado em um livro
Pelo seu belo trabalho.
O mesmo José Carvalho,
Lá do Belém do Pará,
Escreve bela missiva
Dizendo que Patativa
Grande poeta será!

No dia seis de janeiro
Do ano de trinta e seis
Chega a hora e a vez
De Patativa casar.
Casa-se, então, com Belinha,
Uma linda moreninha,
E a família vai formar.

Desse belo casamento
Quatorze filhos nasceram.
Só sete sobreviveram...
Outros sete, Deus levou.
Mas os dois não protestavam.
Humildemente acatavam
Aquilo que Deus mandou.

E Deus mandou ao Poeta
Nunca esquecer a Poesia.
Patativa então seguia
Sempre, sua vocação.
Na roça, durante o dia,
E à noite ele fazia
Seus versos, de coração!

E sempre fiel à terra
Nordestina, que amava.
Em seus poemas falava
Das coisas do seu Sertão.
Observando, escrevia
O que de belo havia
Entre o céu e o chão.

Amava também contar,
Dizendo sempre a verdade,
Toda a dificuldade
Da vida de quem é pobre.
Descrevendo, com amor,
A vida do agricultor
Em verso simples, mas nobre!

Junto com João Alexandre,
Que era um grande violeiro,
Roda o Sertão inteiro
Levando sua poesia.
Onde quer que ele chegava
O povo já o aclamava
E ele, contente, sorria!

No ano cinqüenta e cinco
Conhece José Arraes
Que, impressionado demais,
Pega seus versos e bota
Nun livro de um escritor
Que lhe faz grande louvor!
Seu nome: Moacir Mota.

No ano cinqüenta e seis,
Cumprindo a sua sina
Inspiração Nordestina
Patativa então publica.
Poesia que dá e sobra!
Era o começo da obra
Que viria a ser tão rica!

Já em sessenta e dois,
E tendo um certo cacife,
Vai cantar lá no Recife
Em um São João Popular.
Miguel Arraes patrocina
A Poesia Nordestina
Para o povo admirar!

Dois anos depois, somente,
O grande Luiz Gonzaga,
Encantado com a saga
Contada em “Triste Partida”,
Pega o poema e grava.
Essa obra, aonde chegava,
Por todos era aplaudida!

Esse fato por si só
De tal forma projeta
Patativa, o poeta,
Por todo nosso país.
Mas sua simplicidade
Não lhe permite vaidade
E humildemente, ele diz:

“A minha rima é rasteira
É fruita de jatobá.
É fulô de trapiá
É canto de passarinho.
É fulô de gamilêra,
É gente humilde, na feira,
E na puêra do caminho!”

E, assim, nosso poeta
Seguia sempre em frente.
Escrevendo humildemente
Sem nunca ligar pra fama.
“Eu escrevo porque gosto
Se nun escrevesse, eu aposto,
Morria in riba da cama!”

Porém dois anos mais tarde
- Mil novecentos sessenta e seis,
Usando mais uma vez
Sua veia criativa,
Ele lança um livro novo
E entrega a seu povo
Os “Cantos de Patativa

Já em mil novecentos setenta
J. Figueiredo Filho
Lança, com muito brilho,
Os “Poemas Comentados
São versos de Patativa
Comentados, em voz viva,
E grandemente exaltados.

No ano setenta e dois
Raimundo Fagner, cantor,
Que é também composit
or,
Faz uma coisa malina:
Com música de sua autoria
Encantado com a poesia,
Grava o poema “Sina”.

Mas no encarte do disco,
Esquece, sem ter má fé,
De registrar de quem é
O poema que gravou.
Patativa não reclama
Mas logo Fagner lhe chama
Reconhecendo que errou.

Ficam, então, amigos,
Sem guardar nenhum rancor.
Patativa, o professor,
Ensinando humildade.
E Fagner, reconhecendo,
A ele disse: “Pretendo
Te mostrar, lá na cidade!

Alguns anos mais tarde
Isso iria acontecer.
Nós ainda vamos ver
Patativa, em grande show,
Mostrando sua verdade,
Com toda a simplicidade,
Que nunca lhe abandonou!

Mas prossegue o poeta
Cada dia, a criar mais!
Aparece nos jornais,
Sua fama se espalha.
Enquanto o mundo comenta
Patativa não esquenta.
E simplesmente... trabalha!

E a sua produção
Vai ficando numerosa.
A poesia, talentosa,
A muita gente comove.
Ele não se envaidece.
“Não sou aranha, que tece,
Quem gostar... que me aprove!”

No ano setenta e três
Um fato inesperado:
Patativa é atropelado,
Andando em Fortaleza.
Perna mecânica ganhou
Até o fim da vida, usou.
Mas não chorava tristeza

Dizia ele, brincando:
“Chorar, por que, meu irmão?
Eu escrevo é com a mão
Obedeço o que Deus qué.
Não tenham pena de mim.
Sou poeta, até o fim!
Não faço verso com o pé!”

Chegando setenta e oito,
Conformado com o acidente,
O Poeta, diligente,
Continua a trabalhar.
E publica, sem problema,
O seu mais lindo poema:
“Cante Lá, Que Eu Canto Cá”.

Um ano depois, se muda,
Indo morar na cidade.
Pois já tá com certa idade
E se vai, todo feliz,
Residir no Assaré.
Porque é homem de fé,
Bem na Praça da Matriz.

Nesse ano acontecem
Inúmeras homenagens
Onde grandes personagens
Se rendem ao seu talento.
Entre participações,
Faz “Poemas e Canções”
Em disco, nesse momento.

Na Campanha da Anistia
Ampla, Geral, Irrestrita,

Sua poesia bonita
Comove o Brasil inteiro.
Fizeram um filme, até!
E Patativa do Assaré
Participou, bem faceiro.

Do Show Massafeira Livre,
“Theatro José de Alencar”
,
Ele foi participar
Nesse ano produtivo.
Sua obra, conhecida!
E ele, feliz da vida,
Um poeta sempre ativo.

No ano seguinte, oitenta,
Fagner de novo estava
Com ele, e assim grava
“Vaca Estrela e Boi Fubá”.
E, sem correr qualquer risco,
Patativa grava o disco
“A Terra é Naturá”.

Tinha um programa na Globo,
Chamado de “Som Brasil”.
O poeta, então, se viu
Convidado a apresentar.
Foi o Rolando Boldrin
Quem lhe chamou e, assim,
Não podia recusar.

Foi um sucesso da gota!
Foi um show de Patativa!
O povo, gritando “Viva
O nosso Poeta Maior!”
E Patativa seguia,
Humilde, como se via,
Sem querer ser o melhor.

Já no ano oitenta e quatro
As multidões, inquietas,
Lutavam pela Diretas
E a História registrou.
Patativa, convidado,
Participou e, aclamado,
Ao povo assim falou:

“Eu sou home lá da roça,
Mais respondo meu presente
E junto com minha gente
Quero tomém falá.
Ao Governo Brasileiro
Que este povo ordeiro
“Só qué as Direta Já”.

Não vai ter revolução
Queremos paz, nessa terra.
Somos todos contra a guerra!
A gente só qué votá.
É um direito da gente
Votar para presidente.
Queremos Direta Já!”

O seu verso assim ajuda
Ao sucesso da Campanha.
Patativa assim ganha
Mais respeito popular.
Vídeo e filme são lançados
Para os fatos detalhados
De sua vida contar.

Mas Patativa, humilde,
Nada disso lhe envaidece.
Volta ao Sertão e esquece
Toda essa homenagem.
Como roceiro que é,
Só quer viver no Assaré,
Em sua bela paisagem.

Mas Jefferson de Albuquerque
E Rosemberg Cariry,
Dois cineastas dali,
Fazem um filme novo.
Para mostrar como é
Patativa do Assaré
Filmam “O Poeta do Povo”.

Nesse tempo, grande enchente
Se abate sobre o Sertão.
Patativa, com emoção,
Ajuda ao povo carente.
Pra consolar tanta mágoa
Faz a música “Seca Dágua”
E ao povo dá, de presente!

Ajudando, dessa forma,
Ao flagelado Nordeste!
Vai socorrendo o Agreste
Com chuva ou sol a pino!
O Sertão lhe agradece.
Por isso ninguém lhe esquece
Nesse solo nordestino.

Nesse ano ainda grava
Novo disco, que encerra
Poesia de sua terra
E grande sucesso fará.
O disco é, por sinal,
Um projeto cultural
Do Banco do Ceará.

Em oitenta e seis, apóia
E da campanha faz parte,
Doutor Tasso Jereisati
Ajudando a eleger.
E Patativa, na hora,
Diz: “Dotô, tu, agora,
Que faça por merecer!”

E já no ano seguinte,
Trabalhando, sem parar,
Vem ele a publicar
Mais um poema de amor.
Se revelando romântico
Escreve um belo cântico
Chamado “Espinho e Fulô”.

No mesmo ano, porém,
Já quase sem poder ver,
É obrigado a fazer
Uma grave cirurgia.
Em São Paulo, em Campinas,
Operou-se das retinas

E a vista quase perdia.

Chega a oitenta e nove
Comemora oitenta anos.
O fato então dá panos
Pras mangas de toda a Imprensa.
São muitas as homenagens
Recebe tantas mensagens
Que refletindo, ele pensa:

“Meu Padin Ciço, me diga:
Como é que pode, um roceiro
Desse sertão brasileiro
Ser querido, desse jeito?
Eu não sou nada, sou pobre,
E esse povo, tão nobre,
Dizendo que sou perfeito?...”

O Senhor que me perdoe,
Se eu tô dizendo besteira.
Mas penso dessa maneira:
O bom aqui não sou eu!
O Senhor, que é meu Padin,
Foi quem fez isso por mim...
Isso é milagre seu!”

E assim, o nosso Poeta,
Com grande simplicidade
Não enxergava a verdade
Sobre o próprio talento.
E tudo o que recebia
Ao Padin Ciço agradecia,
Demonstrando sentimento.

E nesse ano, embalado,
Pelo reconhecimento
Que tinha, nesse momento,
Bonito, do seu destino,
Lança um disco novo
Tira, “da casca do ovo”,
O seu “Canto Nordestino”.

E faz apresentações
Em diversas capitais.
Raimundo Fagner jamais
Lhe esqueceu! E cumpriu
O compromisso que um dia
Ele, com muita alegria,
Com Patativa assumiu.

Leva o Poeta a São Paulo,
Recife e Fortaleza.
E um show de muita beleza
Para ele então criou.
O povo não esquece mais
Pois em muitas capitais
Nosso roceiro reinou!

O Show, gravado em disco,
Foi sucesso! Genial!
Do simples ao maioral,
Cada um reconheceu
Que ali estava a Poesia!
O Brasil inteiro aplaudia
E o poeta mereceu!

No ano seguinte, noventa,
Dois fatos muito marcantes:
Violeiros atuantes
Das mais diversas escolas,
Com grande contentamento,
O levam para o evento
Fortaleza das Violas.

“Patativa do Assaré –
Oitenta Anos de Luz ”.

É lançado, e Jesus
Abençoa o lançamento.
E mais um disco termina:
O seu “Canção Nordestina”
É lançado, no momento.

O artista Cleyvan Paiva
Faz música para os poemas
Como pérolas, como gemas,
São lançados no mercado.
O povo se admira
Que esse pobre caipira
Seja um poeta inspirado!

Já em noventa e um
Geraldo Gonçalves, um amigo,
Dá apoio e dá abrigo
Ao poeta brasileiro.
E, cheio de esperança,
Patativa então lança
Mais um livrinho: O Balseiro!

Esse livro não contém
Só poemas de Assaré.
Pois o dito cujo é
Uma linda coletânea
De poemas nordestinos
Mostrando “a esses meninos”
Poesia contemporânea.

No ano noventa e três,
Indo pra boca do lobo,
Vai parar na Rede Globo
E ator ele vai ser.
Participa, com talento,
Com arte e sentimento,
Da novela “Renascer”.

Faz a novela na Globo,
Depois, muda de estação,
Pois a tal televisão
Tem muito a oferecer.
Querendo mudar de ares
No SBT, Jô Soares
É quem vai lhe receber.

Conheço gente que tem
A entrevista gravada.
Jô Soares dá risada
Admirando o progresso
Do poeta brasileiro
Que, sendo um simples roceiro,
Consegue fazer sucesso!

E ainda nesse ano
Sua vontade de ferro
Diz: “Trabalho e não erro,
Quero estar sempre na ativa”.
Fazendo o que certo acha
Lança, então, numa caixa,
“Os Cordéis do Patativa”.

No ano seguinte, o Poeta
Não pára de trabalhar.
Agora vem a lançar
Um livro novo na praça.
“Aqui tem coisa” é o nome
Da obra, e o couro come,
O povo, achando graça!

Ronaldo Nunes juntou-se
Com o Osvaldo Barroso
E um filme caprichoso
Fizeram, com inventiva.
Trabalho extraordinário
Chamou-se o documentário
“O Vôo da Patativa”.

Ainda em noventa e quatro,
Mais um disco ele grava.
O poeta não parava
De rimar, com maestria.
Abrem-se, pois, os panos,
Para “Oitenta e cinco anos
De Luz e de Poesia”.

Nosso poeta, então,
De outro evento faz parte
Mostrando a sua arte.
Do jeito que ele queria.
“Oitenta e cinco de idade,
De amor e fidelidade
À sua gente e à Poesia”

Esse ano foi o pior
Que tive na minha vida”
Diz ele, voz abatida,
Voz saudosa, bem baixinha:
“Uma grande dor senti,
Pois nesse ano eu perdi
Minha esposa Belinha!”

“Pessoa que eu devo muito,
Ela foi a companheira.
Muito trabalhadeira
Igual, assim, não havia!
Eu quase não enxergando
Meus poemas ia ditando...
Era ela quem escrevia!”

“Pro resto da minha vida,
E nunca vou me cansar
De sempre assim falar
Fazendo verso e Cordel.
Aqui na nossa terrinha
Eu cuido da sorte minha
Belinha já tá no céu!”

E assim, no ano seguinte,
Continua trabalhando.
E logo está mostrando
Um novo livro, na mão.
Falando sobre o seu verso.
“Patativa e o Universo
Fascinante do Sertão”.

Plácido Cidade escreveu
Essa obra muito altiva.
Falando de Patativa
E tudo que ele criou.
Patativa lhe ajudando,
Conferindo e revisando,
Da obra muito gostou.

Chegando noventa e sete
Já temos mais novidade.
Oitenta e oito de idade,
O primeiro CD é lançado.
Com humor que ninguém paga
Pega o CD e indaga:
“O que tem, do outro lado?”

E o nome do CD
Já presta justa homenagem
Ao poeta de coragem
Que a força nunca perdia.
Idoso, porém afoito,
“Patativa, oitenta e oito
Anos de Poesia!”

A sua cidade querida,
Numa homenagem pura,
Nesse ano, inaugura
Uma Rádio Comunitária.
E o Nome da Rádio é
Patativa do Assaré
,
O que a torna lendária.

No ano noventa e oito
José Lourenço Gonzaga
Ao nosso poeta afaga
Com respeito e com doçura.
Lança um álbum bonito
E enaltece o mito
Usando a xilogravura.

Contém dezesseis matrizes,
Feitas em Umburana.
Sua beleza empana
As outras obras que havia.
E intitula belamente
A obra resplandecente
“Patativa – Amor, Poesia”.

No Estado de São Paulo,
A Câmara Legislativa
Recebe, então, Patativa,
Com uma grande homenagem.
Com lavratura em Ata,
Marcam pra sempre a data
Da importante passagem.

Patativa – Noventa anos
Discursa até o Prefeito!
E poetas de respeito
Louvam o Menestrel.
E cada um, em seu canto,
Declara: “Ninguém fez tanto
Assim, por nosso Cordel”
.

Em Fortaleza, inauguram
Uma grande exposição,
Para louvar, com emoção,
O Mestre das Obras Primas.
E cantam, sem dor nem mágoa,
Nasce, “De um pingo d’água
Um oceano de rimas”
.

A Universidade Federal
Do Estado do Ceará

Promove o que será
Um pleito extraordinário.
Usando xilogravura,
O Poeta ela figura
Em um lindo calendário!

O autor desse projeto
Foi o artista Evandro Abreu.
A Xilogravura, quem deu?
O artista José Lourenço.
Patativa, bem contente,
Só dizia: “Minha gente...
Assunta só o que eu penso:

Já tenho noventa anos
E ainda não fiz nada.
Minha obra ser louvada?
Eu ser louvado por isso?
É, só por muita bondade,
Dos amigos, dos cumpade,
Milagre do Padin Ciço!”

Já quase no fim da vida,
Já poeta consagrado,
Sendo homenageado,
Ele nunca se envaidece.
E falando com humildade
Agradece “a bondade
De louvar quem não merece”.

Chega então noventa e nove.
A festa de Aniversário!
O feito mais legendário,
Um evento magistral!
Na cidade de Assaré,
Inauguram, pois, com fé,
O Grande Memorial.

Trata-se de um museu
Com toda sua grande obra
Poesia lá tem de sobra,
Pois o poeta escreveu.
O povo reverencia
O Poeta e sua poesia
Que os noventa já venceu!

E pede a Deus saúde
E vida mais longa ainda
Ao que tanta coisa linda
A todos proporcionou.
Parece que Deus, ouvindo,
Diz ao poeta: “Vá indo,
Dois anos mais Eu lhe dou”.

Já velho e bem cansado,
Cego, o nosso bardo
Carrega ainda o fardo
Da fama, como poeta.
Sentado em sua cadeira
De balanço, a tarde inteira,
Sua alma se aquieta.

Não pode mais escrever,
Mesmo assim não se entristece.
O coração não esquece
Toda a vida que viveu.
Se alguém lhe diz “-Obrigado”,
Ele diz: “Cê tá errado!
Quem agradece sou eu!”

Filhos, netos, parentes
E fãs, em todo país,
Querendo lhe ver feliz,
Nunca o deixam sozinho.
Ele, inverno ou primavera,
Cisma, recorda e espera
Sua hora, seu caminho.

E fala um dia, a um neto:
“Poeta é só quem diz
Escrevendo fui feliz,
Pois escrevi para o povo.
Se morrer, eu morro em paz.
Quem sabe bem o que faz
Faria tudo de novo!...”

Até que chegou o dia.
Foi pouco tempo depois.
No ano dois mil e dois
No dia oito de julho.
A figura se aquieta
Acharam morto o poeta
Motivo do nosso orgulho.

Morreu em sua cadeira
Na varanda, que gostava.
A ninguém incomodava
Como dissera, um dia.
“Quando eu seguir caminho,
Eu quero é ir sozinho,
Sem alarde ou arrelia”.

O Brasil, naquele dia,
Perdia um maioral
Pobre, até o final
Da carreira, mas contente.
Por ter cantado a beleza
Da terra e da Natureza
E o sofrer de sua gente.

O Brasil, naquele dia,
De sul a norte chorou.
Muita gente lamentou
O Mestre, que ia embora.
Mas ele, tranquilamente,
Só dizia: “Calma gente,
É que chegou minha h
ora”.

“Essa hora é Deus quem marca,
Com a Sua Onipotência.
Não há recurso ou ciência
Pra se mudar um destino.
Vou-me embora, é verdade,
Mas levo muita saudade
Desse povo nordestino”.

“Saudade da minha serra,
Que eu cantei, parcamente.
Saudade da minha gente,
Saudade do meu Sertão.
Mas vou-me embora contente
Pois a chuva, docemente,
Já molha o meu caixão”.

“E peço a todo poeta
Que vai ficar nesse chão:
Que abra o coração
Quando for versar de novo.
Para cantar nossa terra,
Pra castigar a quem erra,
Pra defender nosso povo”.

“Nunca perca a fé em Deus,
Nem no maior sofrimento.
De Jesus, o ensinamento,
Guarde no coração.
E tenha sempre na mente
O que ensinou lindamente
O Padin Ciço Romão!”

“Eu não quero ser lembrado!
Lembre só da Poesia!
E cantem com alegria,
Para o povo se animar.
No Brasil, de sul a norte,
O povo tem que ser forte
Pra dureza suportar.”

“Tenha pena dos pequenos,
Dos fracos, dos que não podem.
Enquanto bombas explodem
Causando tristeza e dor...
Tenha dó do povo inteiro
E, no solo brasileiro,
Espalhe um pouco de amor”.

“Pra ver um mundo melhor,
Tenha fé, tenha esperança!
Eduque toda criança
E lhe dedique atenção.
Pois, em meio a tanta guerra,
Felicidade, na terra,
Só vem pela Educação”.

Assim diria Patativa
Se, morto, pudesse falar.
Sua gente aconselhar,
Arrebatado de amor.
Resumindo: a esperança
É ver, um dia, a bonança
Chegar ao trabalhador!

Terminando, meu amigo,
Agradeço, emocionado.
O meu recado foi dado
Cumprida, a minha missão.
Com o meu verso rasteiro,
Quem falou, sempre primeiro,
Foi a voz do coração.

Agradeço a Deus do Céu
A graça de escrever
Podendo, assim, dizer
O que foi e o que é,
Para o Povo Brasileiro,
O Poeta Verdadeiro
Patativa do Assaré!...

Pergunte, leitor amigo,
Aonde foi Patativa?
Terminando a narrativa,
Atentamente eu lhe digo:
Teve ele o seu abrigo
Imediato, no Céu.
Velando pelo incréu,
Além de todo perigo.

Dizendo, sempre consigo:
O Pai proteja o Cordel!

Assim, fique, eternamente,
Seu verso, sempre presente,
Seu exemplo mais profundo!
Ao reviver Patativa
Repito: sua chama viva
É uma lição para o mundo!

Antônio Gonçalves da Silva
Neste Nordeste nasceu.
Para a Poesia viveu!
Estará morto?... Sei não!...
Ainda o vejo entre nós!
Pois Patativa é “A Voz
Que Ainda Canta o Sertão”!

 

FIM

 

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