Roni Santos
Bayeux / PB

 

 

 

Abissal da dor

 

O saco rompeu,
um feto caiu,
um homem gritou,
o feto não chorou
e o fio de sangue no chão
era um cordão umbilical
que não o ligava a mais nada.

Na transparência da pele,
finos rios coagulados.
Os bracinhos buscavam um abraço incompleto,
a boca era apenas um risco,
arriscando um peito para mamar.

Os olhos, como bolas de gudes escuras,
protrusas,
não abriram,
não viram a cor do mundo
nem os ouvidos ouviram,
tudo era mudo.

Seus olhos não abriram,
não viram o coletor de lixo
que descobriu, no seu ofício,
a dor parir na calçada.

 



 






Poema publicado no Livro "De corpo & alma"
Maio de 2022

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