Roni Santos
Bayeux / PB
Abissal da dor
O saco rompeu,
um feto caiu,
um homem gritou,
o feto não chorou
e o fio de sangue no chão
era um cordão umbilical
que não o ligava a mais nada.
Na transparência da pele,
finos rios coagulados.
Os bracinhos buscavam um abraço incompleto,
a boca era apenas um risco,
arriscando um peito para mamar.
Os olhos, como bolas de gudes escuras,
protrusas,
não abriram,
não viram a cor do mundo
nem os ouvidos ouviram,
tudo era mudo.
Seus olhos não abriram,
não viram o coletor de lixo
que descobriu, no seu ofício,
a dor parir na calçada.