Isabel Cristina Silva Vargas
Pelotas / RS

 

Por intercessão de Maria

 

                

Lourdes é jovem, professora, católica e envolvida com os movimentos da igreja católica. Faz parte de vários grupos que se dedicam a ajudar ao próximo de várias maneiras. Não se limitam a rezar. Praticam a caridade. Ela já foi catequista por vários anos, já participou de grupo que toca e canta nas missas, tocando violão. Em anos mais recentes passou a integrar um grupo que sai à noite para alimentar moradores de rua. Quando encontram usuários de drogas, além de alimentá-los, orientam, conversam e encaminham para instituição que os trate, se assim o desejarem. Nestas épocas de frio intenso aqui no Sul, principalmente chuvosa, como neste mês que passou, arrecadou muitas roupas, masculinas, femininas e infantis e encaminhou para as instituições que se encarregam da distribuição. Também distribuem aos moradores de rua.
Aos domingos vão à missa das dezenove horas, local em que todos se encontram e depois vão distribuir alimentos. Café, sanduiches, leite, tudo que cada um do grupo faz, antecipadamente, em casa. Um dos lugares que costumam levar é no Pronto Socorro Municipal. Lá concentra-se um grande número de pessoas que permanecem durante o dia e à noite para acompanhar pessoas que estão em tratamento e como é local que atende, basicamente, pelo sistema único de saúde, muitos não têm condições de comprar algo nas lanchonetes dos arredores. Passam horas sentados na recepção.
Nesta noite, quando havia encerrado a distribuição, todos se reuniram e rezaram para Nossa Senhora, de quem o grupo é devoto e para quem dedicam todos seus atos, quando surge um rapaz na rua perguntando se havia algo para comer. Lourdes informou que pelo adiantado da hora só tinha sobrado café e estava frio. Faminto ele aceitou. Reiterou que sentia fome.
Como sempre fazem, perguntaram sobre sua vida, o que fazia. Ele informou que há alguns dias estava na rua. Viera de outra cidade. Era casado, separado da esposa com quem ficaram os filhos, a casa e todos os pertences. Estava desempregado e tinha vindo para esta cidade.
Pela aparência, pela conversa e estado sóbrio perceberam que não era usuário de drogas e que ele estava tendo um período de infortúnio e que estava sem saber o que fazer. Contou que tinha a mãe em uma cidade distante poucas horas e que antes de encontra-los vinha pensando na mãe, que desejava procura-la, mas achava que não era justo perturbá-la e dar gastos a ela. Chorava ao falar na mãe. Conversava com ela por telefone, mas não contara sua real situação. Um dos membros do grupo disse que compraria comida se ele prometesse que procuraria a procuraria. Não queriam que se acostumasse na rua e fosse perdendo a autoestima, as referências e a oportunidade de arranjar um emprego. Portava a carteira de trabalho e constataram que era uma pessoa que se desempregara há pouco tempo e em função de todas as atribulações familiares havia ficado desorientado. De comum acordo, Lourdes deu o valor da passagem na mão dos companheiros e outros dois rapazes depois de alimentá-lo o colocaram no carro e o levaram na rodoviária, não sem antes todos rezaram junto com ele afirmando que aquele encontro havia se dado por providência de Nossa Senhora, mãe de todos que sofrem.
Só voltaram para casa depois que o ônibus partiu, levando um homem com um sorriso de esperança na face.

 

 

 
 
Publicado no Livro "Contos que copiam os sonhos" - Edição 2018 - Novembro de 2018