Francisco Martins Silva
Uruçuí / PI

 

 

A barca

 

 

Eram dias ensolarados, eram noites enluaradas, o barulho das ondas do mar seguia-se como um canto permanente e contagiante. O azul do céu era a cor mais presente naquele episódio diurno. A barca seguia ora tranquila, ora agitada dependendo da força dos ventos e do sopro das ondas daquele mar tão infinito.
Ali, naquela barca conduzida por um marinheiro cuja vida era habitá-la, estavam seus pertences como potes de água doce, redes de pesca, lanternas para acender nas noites, colchões e cobertores, e ainda sua mulher e dois pequeninos bebês. Dali se pescava peixes para alimento que saciava a fome daquela singela família. O marinheiro conduzia a barca com intenso cuidado apoderando-se da fé e da esperança, pois, ali conduzia sua vida e um grande tesouro, a família. O amor e o zelo pela mulher e os pequeninos era o motivo de tão nobre cuidado.
A espera da terra firme, de uma pátria... necessitava de calma, muita calma, visto que, o mar mostrava-se infinito e a barca era seu lar, seu aconchego, até mesmo seu próprio porto até que um dia chegasse no lar prometido. Quando os ventos sopravam forte e o mar se agitava, o cuidado, o capricho na condução das velas para o equilíbrio da barca em alto – mar, e a fé na segurança garantida eram seus meios de superar momentos de tensão e de perigo. E quando a chuva vinha quando tranquila era motivo de contemplação, de paz e de serenidade, as orações daquela bela família soavam como um hino de gloria e agradecimento, quando a chuva era forte com intensa ventania, raios e trovões, as orações daquela família eram de apelo e salvação, mas a fé e a esperança em chegar na terra firme e no lar prometido eram presentes no coração de cada um naquela barca.
Todas as noites as estrelas serviam de belas luminárias a céu aberto para embelezarem o cenário que os envolvia, e a lua sempre servia de luz e companhia, não importava em que fase se manifestasse, estava sempre lá, refletida nas águas fazendo um festival de luzes junto às estrelas, era o que mais comovia e acalmava nas longas noites naquela barca a emoção e o encanto dos pequenos bebês.
Quando o dia amanhecia, enquanto ainda todos dormiam, o generoso marinheiro estava sempre a conduzir a barca, pois era a sua missão, sendo que podia contar nas horas mais precisas de uma força especial, a de sua mulher que mesmo voltada para as crianças, sabia contribuir com os afazeres necessários que o curso daquela barca exigia. A cumplicidade, a compreensão e a partilha faziam parte da rotina.
Como já era claro o dia, o mar agitado e ventos fortes, o céu azul e nuvens brancas agora a embelezarem o cenário que os envolviam, de horas por outros pássaros, muitos pássaros sobrevoavam até cantarolando por sobre a barca, motivo de riso dos bebês e encanto da senhora mulher que na barca habitava. Tudo que era motivo de emoção e alegria da senhora mulher e dos ilustres bebês, era também para o bom marinheiro.
Durante todo aquele curso, à espera da terra firme e do lar prometido o pensamento em Deus era presente, e como livro predileto a senhora do marinheiro levava consigo uma bíblia para ler e meditar junto com os seus, e depois, um cântico de louvor era entoado como prova de gratidão e agradecimento.
E durante o longo trajeto na barca sobre o mar, quando os peixes, alimentos daquela sagrada família já estavam pra acabarem, era hora do marinheiro jogar as redes ao mar, e dali trazer novos peixes pra família alimentar, e a insistência era sua marca por jogar as redes em águas cada vez mais profundas até muitos, muitos peixes pescar. Com esse feito a alegria do marinheiro e os seus era grande. Ele sabia que com peixes suficientes além de outros mantimentos que levava consigo podia ter a tranquilidade de viajar em sua barca por mar adiante até aquele lar que projetara chegar, o seu destino.
 E avançava mais e mais como quem queria atravessar um mar sem fim e chegar na outra margem, uma outra margem que nunca chegara, e mesmo nas tempestades que fazia medo enfrenta-las, preferia deixar a família repousar quando se encontrava em sono profundo no convencimento de que a barca era o seu próprio porto, o seu próprio lar.
Após longos dias na barca navegando em alto-mar por dias e noites, mesmo com sol ou chuvas, enfrentando as tempestades e ventanias, a fúria das ondas e toda a sorte de desafios, sempre soubera manifestar atitude, força, fé e perseverança, foi então quando já de longe, muito longe avistou o solo, aquela terra firme, o lar prometido. A alegria divina tomou de conta dos corações dos entes daquela tão sagrada e amável família. Muitos amigos e parentes já os esperavam no porto para o desembarque, admirados pelo heroísmo do marinheiro, enquanto o este e sua senhora com as crianças já começavam a recolher da barca todos os seus pertences e preparavam-se para compartilhar com os seus amigos e parentes as experiências de fé, resistência, esperança e amor. Recolhiam também, inúmeros peixes do mar que ainda havia na barca para repartirem com os seus.

 

 
 
Publicado no Livro "Contos que copiam os sonhos" - Edição 2018 - Novembro de 2018