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Antonio Carlos de Almeida
Valparaíso de Goiás / GO

 

Mas levar para onde? 

 

 Todas as incertezas se encontram na adolescência. A primeira vez é sempre o mistério que se apresenta como um imenso obstáculo. Um simples que se apresenta complexo.
    Numa tarde Raquel caminhava para escola. Naquele dia a agonia a acompanhava. Na mente a necessidade de transpor as incógnitas da vida. Na vontade o desejo de deixar tudo de lado e não enfrentar a realidade, de concretizar um simples desejo. De deixar  ultrapassar esta aprendizagem, de saber como tocar um lábio. De compreender o sentimento que faz disto tão propício a um enlace.
    Para cada passo a preocupação lhe atingia. Apesar de ter imaginado, treinado nada diminuía a sua preocupação por nunca ter deixado chegar o toque dos lábios. Em sua mente a imagem da inocente princesa, que adormecida perdia a esperança isolada em uma floresta, que com um beijo nos lábios chega-lhe o despertar para o amor com um príncipe encantado. Do sapo que era príncipe e vivia em uma lagoa encantada, até que beijado por uma princesa retorna ao lado de um amor verdadeiro. Do beijo do homem aranha em Mary Jane, que lança um sorriso nos lábios de uma bela que se apaixona pelos lábios de um ser amado.
    De tantas perguntas que fizera, recebera uma simples resposta: Deixe-se levar. Mas levar para onde? E como pode ser apenas soltar as emoções. Perder o controle das ações e mergulhar no incerto. Outras respondiam: Independente do que possa acontecer, dará errado, pois a primeira vez, mesmo que seja de um beijo guardado, sempre será lembrado como um grande desastre.
    Nos braços carregava apertado aos peitos cadernos e livros, nos pés um tênis de cor rosa de meias da mesma cor, levantadas até o joelho. Saia de duas franjas de diferente cor e um conjunto de blusas que sobrepunham uma sobre a outra em contraste claramente arrumado. Nada poderia dar errado. Se não carregava a prática, estava arrumada, para esta primeira vez encantada.
    Chegando frente a escola percebeu Rogério encostado na porta. Chegou-lhe um olhar apavorado, ao ver se aproximar o seu dever de amado. Raquel se aproximava lentamente quando uma brisa chegou-lhe ao ouvido, como palavras de alguém que tinha passado por isso.
    Face na face, olhos nos olhos e um pequeno gesto iniciou tudo. A mesma amiga que falara a empurrou de encontro ao inesperado e num simples toque de lábios tudo ficou de lado e enquanto beijava pensava nas palavras da amiga ousada:
    - Deixa-se beijar ...

  

 
 
Conto publicado no livro "Contos de Outono - Edição 2016" - Agosto de 2016