Maria Rita de Miranda
São Sebastião do Paraíso / MG

 

 

Vida e Morte

 

 

          

          Nasci em um dia de primavera e trouxe muita alegria para os meus pais. Não podia imaginar que seria a irmã mais velha de uma grande família. Presenciei meus irmãos nascerem e se tornarem donos de suas próprias vidas.
          Tive uma infância relativamente tranquila. Morei por algum tempo na casa dos meus avós maternos para iniciar meus estudos, visto que meus pais viviam na fazenda.
          Depois, já adolescendo e morando todos na cidade, me encantei, coisa natural, por um rapaz. Começamos um namoro. Escondia dos meus pais, pois tinha medo de que não aprovassem. Meu pai era autoritário. Mas ele descobriu. E de uma forma abrupta.
          Eu estava conversando com o meu namorado e não sei de onde ele apareceu. Fiquei tão assustada que corri. Quando cheguei a casa, me esperava quase uma tragédia. Meu pai ficou de tal maneira bravo, que chegou a me ameaçar de morte. Hoje sei que foi de boca para fora, mas naquele momento fiquei tão apavorada que adoeci.
          Para encurtar a história, meu namoro seguiu em frente. Depois que me tornei normalista noivamos e nos casamos. Fomos agraciados com um casal de filhos que, para nosso orgulho, se tornaram médicos. Fomos avós de dois meninos lindos e saudáveis.
           Ao mesmo tempo, passei por várias provações, dentre elas, o período em que o meu marido começou a beber além da conta, o que resultava em várias brigas.
          Trabalhei muito durante toda a minha vida e jamais poderia sonhar que seria martirizada com a perda do meu filho, o primogênito, vítima de acidente.
          Desde então fui me alquebrando física e mentalmente, Comecei com os primeiros sintomas do mal de Alzheimer. A doença foi me invadindo lentamente, Até que já não reconhecia minha família, minha filha, netos, esposo. Muitas vezes não me lembrava do meu próprio nome. Tive o apoio de todos, em especial do meu marido que foi um companheiro inseparável.
          Oito longos anos... Meu corpo já não aguentou mais. Fui hospitalizada, porém não resisti. Parti de essa vida indo me juntar ao meu filho.
          Deixo esse relato para que quando alguém o ler se recorde de uma pessoa que não passou pela vida em brancas nuvens, mas que, se pudesse tudo recomeçaria.

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Contos Premiados" - Edição 2019 - Abril de 2020