Zilah dos Santos Borga
Guapimirim / RJ

 

 

Funeral sem finado

 

 

          

Eu era garotinha ainda quando ouvi o pessoal comentando que o defunto havia sumido da capela do cemitério. E havia sumido mesmo. Segundo informações, a viúva, Dona Emerenciana, fechou a capela à noitinha e foi pra casa descansar já que Seu Vitinho não conseguiu aprontar a tempo a papelada do enterro, ficando o sepultamento para o dia seguinte no primeiro horário.
Só que no dia seguinte quando os primeiros amigos voltaram para os finalmentes lá encontraram a porta da capela aberta, mas sem o respectivo defunto dentro do caixão. “Roubaram o corpo do Saturnino!!!” – berrou alguém lá dentro.
Daí foi uma confusão danada. Chamaram o cabo do destacamento, o padre, até o prefeito foi convocado. Conclusão nenhuma. Ou, quem sabe, segundo Samuel Pastorzinho, foi um caso de roubo para fins de “despacho pesado”. Diante do mistério, o cabo disse que tudo seria averiguado. Por enquanto o sepultamento estava adiado. (Ora bolas, claro que teria que ser adiado, afinal, o primeiro interessado sumiu!!!)
Só que para surpresa dos presentes, de repente, Dona Emerenciana surge na esquina pilotando um carrinho de mão que trazia na caçamba o corpo do marido.  
“ – Foi nada não, gente! É que eu não quis deixar ele aqui sozinho ontem. Daí eu levei ele pra casa e aproveitei dei um banhinho nele... Saturnino nunca dormiu sem tomar banho. Agora taí... cheirozinho como ele só... Podemos enterrar.”  

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Contos Premiados" - Edição 2019 - Abril de 2020