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O
paraíso
Caio nasceu de um grande amor. Foi planejado e esperado. O caminho dele
até a chegada aqui no planeta foi traçado com cuidado.
Já na gravidez, seus pais comemoravam com jantares junto aos
amigos e familiares cada mês completado. Quando ele nasceu foi
uma festança! Moravam no centro de uma grande cidade. Passado
o período das licenças de gravidez e amamentação,
Ester voltou ao trabalho. Gabriel curtia o filhinho à noite quando
chegava e nos fins de semana. Ele ocupava um alto cargo na Assembleia
Legislativa e ela era juíza na Vara de Família e professora
Universitária. Portanto Caio estava acolchoado na cultura e na
vida de regalos. Foi matriculado numa creche, a melhor e mais perto
de casa. Ester deixava o bebê às oito e pegava às
dezoito horas. Nos finais de semana o menino ia para o apartamento de
uma das avós. Saiu da creche para um Jardim de Infância
e passava lá o dia todo. Não podemos sentir falta de nada
do que não tivermos vivido, conhecido ou até mesmo sido
apresentados. A criança convivia bem com as outras crianças.
Foi treinado para obedecer regras, andar na linha, respeitar horários.
O tempo dele era preenchido de tal maneira que era muito raro ele tomar
decisões. Brinquedos de última geração,
videogames e muitos outros, todos eletrônicos. Uma vida robótica.
O casal resolveu visitar uma parenta que morava no interior. Passariam
lá uma semana.
Um menino com seis anos de idade, que vivia de apartamento em apartamento
e o pouco que conhecia da natureza era através de filmes e revistas,
ir a um sítio no interior foi uma bênção.
De tudo que viveu e aprendeu naqueles dias, ficaram as melhores aulas
de vida, colheu eternas lembranças, recebeu e vivenciou situações
que embasaram suas atitudes em todos os aspectos de aprendizagem.
Quando viu um vasto gramado ficou extasiado. Descalço, pisou,
rolou e se esfregou na relva verdinha. Encontrou ali o aconchego, transmutou
para a sua alminha infantil o prazer de interagir com a força
da natureza. Nada pode ser comparado ao sentimento da troca de emoções
simultâneas. Era a descoberta de um novo portal que a vida lhe
oferecia.
Na manhã seguinte acordou cedo, olhinhos curiosos e felizes.
Foi levado ao pomar, as jabuticabeiras estavam carregadinhas de frutinhas,
estaladas na boca soltavam um líquido
denso e saboroso. Mais adiante, viu um pé pequeno cheinho de
frutinhas vermelhinhas, colheu uma e estalou na boca, e foi um “Deus
nos acuda”, o menino gritava, chorava, esperneava até que
descobriram se tratar de pimenta Malagueta. Aula difícil. Aprendeu
que não se coloca nada na boca sem antes perguntar. Bochecho
com vinagre e depois bolo de chocolate, sorvete e guloseimas para esquecer
o fato. No jardim conheceu lindas borboletas, joaninhas, gafanhotos
em bando como se fossem soldadinhos. . Não resistiu a um bichinho
pequeno todo vermelhinho e peludinho, resolveu alisá-lo e foi
nova gritaria, correram a acudi-lo, ele mostrou o bichinho, o jardineiro
pegou a lagarta de fogo, abriu-a com canivete, tirou as tripas e colocou
encima da queimadura, imediatamente a dor foi diminuindo e meia hora
depois nem sinal de ter sido sapecado por um “sauí”.
Aprendeu que só se põe a mão no que se conhece.
Teve uma aula de lagartas onde conheceu as lisas, as peludas com as
respectivas cores e as funções delas nos jardins. Foi
apresentado ao bicho-pau e ao louva deus.
No outro dia conheceu os animais do sítio, porcos, coelhos, porquinhos-da-índia,
patos, galinhas e galos. Encantou-se com os gansos, achou divertido
correr atrás deles com uma varinha na mão, até
que um ganso deu meia-volta e foi em cima do menino deu-lhe boas bicadas
no traseiro e novas gritarias e pronto-socorro. Aprendeu que animais
gostam de respeito e carinho e atacam quando se sentem ameaçados.
O conhecimento perde o valor se não usarmos a nosso favor.
Foi até o lago de peixinhos onde maravilhosas carpas japonesas
desfilavam uma exuberante beleza. Resolveu deitar na beira do lago para
pegar um peixinho vermelho que exibia um rabo que parecia um véu
flutuante, escorregou e caiu dentro do lago, ralou os braços
e os joelhos, nova gritaria. A tia passou uma camada generosa da gosma
de uma planta chamada Babosa e a cura foi rápida e em alguns
dias não tinha nem sinal do arranhão. “A natureza
é uma só, com um único objetivo: - proteger o homem.
E enquanto o homem não entender essa máxima vai destruí-la
impiedosamente e sofrer na pele as consequências.
Numa tarde o tio levou-o para passear num pônei, relutou um pouco,
mas cedeu e foi uma sensação maravilhosa a que sentiu
passeando sentado no lombo do animal.
No último dia o tio apresentou ao menino os ninhos dos passarinhos,
cada um de um formato, feitos de material diferente. Mostrou-lhe também
os casulos das lagartas, futuras borboletas. Nesse dia ele compreendeu
a individualidade de cada ser, que não existem desigualdades
e sim variedades.
À tarde viu um bichinho grudado num galho e resolveu cutucar
com um pedaço de pau, o bichinho pulou nos cabelos dele e grudou.
Mais gritaria. Era uma ingênua perereca.
Chegando à sala de aula, depois da temporada na casa dos tios,
a professora estava falando sobre Deus e o Paraíso que ele criou.
Caio levantou-se dizendo: - É verdade o Paraíso existe,
eu passei uma semana lá, tem cada coisa e a gente leva cada susto!!!
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