Alberto Magno Ribeiro Montes
Belo Horizonte / MG

 

 

O papel do papel do mundo

 

Um dia, ao sair lá fora, ver a paisagem, tanto verde…celulose à espera da transformação. O mar é azul, mas a terra é verde. Verde das folhas da madeira, que virará papel…papel…e mais papel. Então, deduzi que nada é mais importante que o papel do papel no mundo. Ao nascermos, de cara recebemos um papel. Primeiro papel, que geralmente tem nome de pai, tem nome de mãe…Ao morrermos, para outro papel, toda nossa vida vai: nosso nascer-crescer-viver-morrer-empapelado. Papel para limpar, papel para se sujar. Este escrito, faço-o num papel…Barquinho de papel boiando na lagoa, com crianças-crianças e adultos-crianças à toa. Num papel grosso, as primeiras letras... grandes, charmosas, que até cego vê também. Ultimamente tenho pensado com frequência, em meu papel na vida do Universo. Não faço papel de bobo e isso não é um embuste. Sem maldade, fiz o meu papel… A cruz de madeira do papel que Cristo carregou, e que agora eu carrego. O caixão de madeira-papel…A palavra sagrada, no papel está, desde os tempos do papiros,  ao hodierno papel-seda de bordas douradas.

O papel do palhaço no mundo, é dos mais bonitos. Nada pior do que fazermos esse papel. Papel embrulhadinho, jogado num canto da rua, aguça minha imaginação. Não pense que meu coração é de papel (sofre também, como o seu). Papel que embrulha o pão, mata-fome dos miseráveis, sustentando a vida…. Meu cachorro gosta de comer papel, e fazer bolinhas de papel. Flores de papel enfeitam o túmulo: doce-papel, flores coloridas de papel colorido. Papel-moeda que gira e corrompe o mundo. Papel-ofício oficialmente o oficial, junto com o papel-comercial. Papel-de-imprensa é papel-mentira!...Papel-origami, tem todas as formas e o mundo é só um molde.

Ah!...O papel-cartão-postal que me enviaste do Bodocongó, em minha gaveta está. Papel-bilhete-passagem é garantia de viagem. Bandeirolas de papel no céu junino é mistério silencioso que não domino em meu pensar-papel.

Minha fantasia: alegoria de papel-crepom. Meu brinquedo é de papel-marchê. Briquedo-madeira-pau, não é briquedo não! Papel-pau-brinquedo.

Jingle bell, jingle bell
Acabou o papel
Não faz mal, não faz mal…
Limpa com o…papel!

 

 

 

 

 

 
Poema publicado no livro "Contos Urbanos" - Abril de 2018