Antonio Laurentino Sobrinho
São Paulo / SP

 

 

A loura fatal

 

Era uma manhã de sexta-feira quando ela surgiu na minha frente. Eu estava contemplando um monumento de  Brecheret e as bandeiras no Parque Ibirapuera.
Ela era um monumento humano de um metro e oitenta. Era muita beleza. Aproximou-se.
- Bom dia!
- Por favor, você poderia tirar uma foto  minha com minha amiga em frete ao monumento?
- Com prazer.
Na lente da câmera pude contemplar o brilho da sua alma, a pureza de seu sorriso, sentir o perfume de seu corpo bem de pertinho. Penetrei no infinito dos seus olhos verdes. Queria acariciar seu rosto angelical através de meus infinitos pensamentos, fiquei flutuando diante daquela mulher. Era a figura de um anjo que estava na minha frente, nunca tinha visto tanta beleza. Cada vez mais nos aproximávamos através das lentes da minha câmera, cada vez mais meu corpo ardia em chamas,  eu era todo um vulcão incandescente, meu corpo ardia de desejo de abraçá-la,  beijá-la,  sussurrar em seus ouvidos.
Meu coração disparava, as minhas pernas ficaram flutuando sobre a grama eu me sentia como uma folha no ar ouvindo sons de sinos, estrelas brilhando em plena manhã ensolarada.
Na pauliceia desvairada do Mário de Andrade eu também me sentia desvairado, em todos os sentidos, não conseguia raciocinar direito diante daquela mulher fascinante. 
Era uma linda manhã de sexta-feira 7 de setembro,  dia da Independência do Brasil,  e fim da minha solidão amorosa,  ela era tudo que um homem de bom gosto poderia querer na vida.
- De onde vocês são?
- Do Paraná, Ponta Grossa.
- Ela é minha amiga Ivone Venturele, eu sou Isabel Zélia Muciel e você?
-Meu nome é Tone Moreira.
Surgiu uma conversa muito agradável e também uma paixão fulminante. Na hora do convite para visitar o resto do parque não demorou muito já estávamos de mãos dadas, nos anos 70 era comum as pessoas vestirem-se de jeans; era como ela estava trajando um conjunto jeans com blusa vermelha;  seus cabelos  louríssimos,  olhos verdes como uma pedra de esmeralda, sorriso belíssimo penetrante,  rosto rubro como uma maçã nos campos de Santa Catarina, era tudo tão mágico que parecia que eu estava sonhando, mas era mesmo verdade, real foi a paixão fatal. Passaram-se dois meses, ficamos noivos, marcamos a data do casamento, não queríamos ficar longe um do outro.
Como já disse era uma paixão avassaladora, finalmente chega o grande dia do casamento com direito a igreja toda decorada a noiva lindamente vestida com um belíssimo vestido branco representando a pureza do nosso amor.
Quando a noiva adentrou  na igreja minhas pernas tremeram, a noiva estava acompanha de seu pai ao som da marcha nupcial de Mendelssohn, era tudo muito belo a igreja repleta de convidados, decorada com cravos vermelhos, flores brancas de Bugaris.
Depois da cerimônia fomos para o salão receber os comprimentos e a seguir viajamos para uma praia bucólica em Icapuí no litoral cearense.  Estava tudo muito bem até que o avião levantou voo com o barulho das turbinas eu me assustei e acordei com o despertador westclok de duas companhias despertando.
Eu quase caí da cama assustado, revoltado foi quando me dei conta que não passava de um  anjo torto que tinha soprado nos meus ouvidos aquele malfadado sonho. Depois de jantar, uma grande pizza... foi mesmo uma noite mal dormida. Acordei desorientado,  meu coração  estava deserto, solitário,  vazio,  carente  de amor, não tinha ninguém comigo naquela manhã.  Era um delírio, não passava de um pesadelo, aquela mulher não existia. A loura era fatal!!!

 

 

 
Poema publicado no livro "Contos Urbanos" - Abril de 2018