Iza Engel
Quatro Barras / PR

 

 

Previsão da viagem de Carlinhos

 

Nessa época, os pais e demais adultos ainda se preocupavam com a educação das crianças.
Além das noções de higiene e normas comportamentais, os pais ensinavam os filhos serem responsáveis e cumprirem tarefas domésticas entre outras.
Três crianças conversavam 
Enquanto limpavam os ovos que teriam de ser entregues no dia seguinte na cooperativa. Toda renda da família era proveniente da venda dos ovos e também da venda de algumas verduras produzidas pela família.
Aquelas crianças estavam acostumadas ajudar a mãe em vários trabalhos domésticos.
Pela manhã iam para escola, e na parte da tarde se encarregavam de pequenos trabalhos. Faziam com gosto, pois sabiam da importância de aprender. 
Enquanto trabalhavam, escutavam as histórias que a mais velha sempre tinha para contar. 
Nesse dia ela resolveu falar sobre o destino que se apresenta gravado nas palmas das mãos de todas pessoas.
Através da leitura de uma revista, que existia naquela época, chamada “Família Cristã”, a menina sabia como ler alguns itens sobre o destino das pessoas. Na revista estava estampada o desenho das mãos suas linhas e o significado de cada uma delas. Com base nessa leitura, a menina resolveu fazer a previsão da vida deles.
Tomou as mãozinhas do maior deles, e disse : 
Que legal você terá uma vida longa , e também pode ser bem feliz. Aqui aparece uma estrelinha que prevê alguma fortuna. Mais embaixo mostra que terá que aprender sair das dificuldades que irão aparecer em sua vida.
Em seguida pegou as mãozinhas do menor, e disse:
Nossa! A linha da sua vida é bem curtinha. Parece que vai viver bem pouco. Em sua mente surgiu uma série de preocupações, então diante delas falou:
Não vou conseguir saber qual será seu futuro.
O menino, diante dessa fala, fixou o olhar em  uma escada de madeira que estava encostada em uma das paredes e disse:
Eu queria ser como uma escada, quando a escada quebra pode ser consertada e continua com vida.
Nesse ponto, a menina ficou sem palavras e mudou completamente de assunto.
Poucos dias depois, a mãe das crianças observou que o pequeno estava com algum problema de saúde. Não estava conseguindo se alimentar e reclamou sentir muita dor no pé. A mãe verificou que havia um ferimento no pé do menino e que estava inflamado.
O menino foi levado ao médico da família. Após uma consulta completa, o médico constatou que a criança estava com tétano. E pior, verificou que seu coração era muito fraco, pois seus batimentos não eram normais. Sofria de sopro no coração. Além disso, o menino estava com a língua completamente roxa e nem sequer conseguia falar. O médico colocou a família ao par da situação: 
Já existe uma injeção que cura o tétano, mas não sabemos se o coração do menino irá aguentar seu efeito. Uma outra criança suportou e foi salva, mas não tinha nenhum problema com o coração. Portanto, preciso autorização da família para aplicar a injeção e tentar salvar a criança.
Para a família não existia outra alternativa, estavam todos preocupados com a saúde do pequeno. Diante disso,a mãe autorizou a aplicação da injeção.
Assim que a criança recebeu a medicação partiu...
O médico não teve como salvá-la.

A irmã, durante muito tempo ficou pensando naquele acontecido. De certa forma foi preparada para perder o irmãozinho que tanto amava, por outro lado não quis mais saber de prever o futuro de ninguém...

 

 

 

 
Poema publicado no livro "Contos Urbanos" - Abril de 2018