Alberto Magno Ribeiro Montes
Belo Horizonte / MG

 

 

Falta de paciência

 

 

 

           Um dos grandes males da atualidade é a falta de paciência das pessoas. Até mesmo com relação à chegada dos bebês nota-se isso, pois os pais geralmente não estão conseguindo mais esperar pacientemente os noves meses de gestação. No oitavo mês e meio, no máximo, já estão ansiosos para marcarem logo a cesariana, método cada vez mais escolhido pelos médicos e gestantes. Os pais querem logo ver o rosto da criança (da qual já sabem antecipadamente o sexo). E as crianças, à medida que crescem, também ficam cada vez  mais impacientes: ao invés de brincarem (com os brinquedos das crianças de hoje, claro!), querem fazer coisas que antigamente somente os adultos faziam. Perdem o melhor da infância, que é a época mais lúdica da vida, a que mais rápido passa e da qual geralmente mais sentem saudades, depois que ficam adultas. Meninas de cinco, seis anos (ou menos ainda) se maquiando, usando roupas de moças e sapatos de salto alto. Meninos que curtem pouco os brinquedos  infantis. Adolescentes querem logo chegar aos 18 anos, e como o tempo “custa a passar” fazem, aos 12, 13 anos (ou mesmo antes), o que antigamente somente naquela idade era permitido fazer. Depois que completam 18 anos, o tempo voa. Aí só lhes resta, tristemente dizer: “Ah, como eu queria ter aproveitado mais minha infância e adolescência!” Infelizmente, o tempo não para e nem volta atrás.

           Hoje em dia, não estamos nem mais conseguindo aguardar o sinal abrir para atravessarmos uma rua tranquilamente. Estamos sempre apressados, atrasados, estressados… Atravessamos no meio dos carros, correndo o risco de sermos atropelados.  

           Quando viajo de ônibus, chego com bastante antecedência no local de partida. Não me importo de ter que esperar, pois há tanta movimentação e coisas para se ver no local, que o tempo passa rapidinho. Hoje, nas viagens aéreas, geralmente a recomendação é de que devemos chegar pelo menos duas horas antes do voo, para fazermos o “check-in,” despachar a bagagem, etc. Chego com um pouco mais de antecedência. Imagina se na ida para o aeroporto pego um congestionamento, uma simples batida na estrada e…adeus viagem!

           Antigamente tirava-se uma foto (individual ou da família toda), que ficava para a posteridade; era guardada por dezenas de anos. Hoje, em qualquer passeio que fazemos, costumamos tirar centenas de fotos, na máquina digital ou celular e depois a vemos uma vez, no máximo duas. Mais que isso quase ninguém o faz, pois já estão tirando fotos em outras situações, as quais também não terão muita disposição para ver depois.  

           Atualmente, a principal consequência da falta de paciência das pessoas, revela-se nos relacionamentos. Quase ninguém aguenta mais ficar muito tempo diante do outro, ouvindo calmamente. É tudo muito rápido! As relações entre os seres humanos estão se tornando cada vez mais superficiais, com o envio de mensagens e fotos pela Internet, através das redes sociais (que aproximam os  distantes, mas afastam os próximos), onde dezenas, centenas de pessoas veem, comentam, mas onde falta o principal que é a presença física delas. Estamos caminhando para uma época em que as pessoas só conseguirão se expressar virtualmente. Se colocarmos jovens de hoje, diante de outros, mesmo que se conheçam, para que conversem, na maioria das vezes, permanecerão calados, sem saber o que dizer, pois só conseguem se “relacionar” em redes sociais (com sua “linguagem” própria). O “toque” entre eles passou a ser apenas de seus dedos em dispositivos mecânicos.

           Acho que a causa maior do estresse de nosso tempo é a pressa das pessoas, pois quer queiramos ou não, para tudo temos que esperar. Nem que, com a tecnologia atual, tenhamos que esperar menos tempo, de qualquer modo, temos que aguardar. O problema é que, com a agitação da vida moderna cada vez temos menos disposição para isso.     

           Certa vez, vi um senhor entrando numa loja, e o balconista que estava terminando de atender a um cliente, lhe perguntou: “O senhor pode esperar um minutinho?” E o homem então respondeu: “Claro! Como em tudo nesta vida… Até para nascermos, nossa mãe esperou nove meses (antigamente).” Fiquei então pensando naquilo. A maioria das pessoas não agiria assim. Algumas até iriam embora, procurariam outra loja e levariam mais tempo ainda, para serem atendidas, visto que o deslocamento retardaria o atendimento, mas a ansiedade foi tanta que não as permitiu ficarem paradas, esperando “um minutinho”.

           Observo que  numa conversa, a maioria das pessoas não deixa a outra terminar de falar, interrompendo a todo o momento, dizendo suas próprias opiniões, contando seus casos…enfim, elas não querem ouvir, querem é falar. Não importa que a outra pessoa  esteja escutando realmente ou não. O que é isso? Impaciência de esperar o outro falar, para depois comentar ou falar de si, dar sua opinião, falar de suas experiências. No fim, as coisas ficam reciprocamente pela metade, tanto para quem fala, como para quem ouve.

           Nos dias atuais, são poucos aqueles que sabem “escutar” o outro. Um diálogo, por exemplo, pode começar assim:-Hoje cedo quando  saí, estava chovendo, aí eu…-É mesmo, eu me molhei todo, pois também saí e não levei guarda-chuva. Eu…eu…eu… A primeira pessoa não chegou a terminar o que queria dizer e a outra já interrompeu, para falar de si… Tudo gira em torno do “eu”. Para mim, isso é “não saber ouvir”, para só então depois falar.  

           Hoje, quase ninguém consegue ler um livro com centenas de páginas. Uma compilação do mesmo basta. Ouvir músicas longas então (como algumas clássicas), raramente… mesmo aqueles que gostam muito.

           Diante disso tudo é que só tenho que concordar plenamente com o cantor e compositor LENINE, que diz numa linda música dele que: “A gente espera do mundo e o mundo  espera de nós um pouco mais de paciência.”

           Poderia citar milhares de exemplos, mas fico por aqui. Se você não foi lá muito paciente ao ler este texto, pode ter uma certeza: você também já está sendo contaminado por esse grande mal da atualidade…

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Contos de Verão" - Edição 2019 - Fevereiro de 2020