Neri França Fornari Bocchese
Pato Branco / PR

 

 

Até parece ter sido ontem...

 

A idéia renasceu de uma foto publicada para comemorar os 50 anos de Professora de uma representante da Turma. Embora já tivesse sendo gestada há tempo.
A lembrança aflorou. Precisamos nos encontrar. Depois de 50 anos a motivação se fez em necessidade. O tempo passou. Mas a alegria da turma de 1967 continuou florescendo. As normalistas espalhadas por diversas cidades, empreendedoras no seu papel de Professoras. Hoje, aposentadas, senhoras de bem com a vida, reconhecidas pelo que deixaram, pelo que fizeram em sala de aula, nos tantos dias vividos. Atuantes ainda na sociedade. Simplesmente queriam se encontrar, se abraçarem, conversarem era o grande desejo. A saudade tanto tempo adormecida, houve como que um despertar:
- Vamos fazer um encontro? Tem que ser em Pato Branco, onde nas ruas poerentas ou cheias de barro, daquele tempo, nos idos dos anos 60, caminhávamos todos os dias até o Colégio das Irmãs, o Instituto Nossa Senhora das Graças. Recebidas, na porta, pela Irmã da Escola Normal Colegial Estadual Dr. Francisco Xavier da Silva, de acordo com os ditames da época. Olhadas de cima a baixo, verificar se estava tudo de acordo com o uniforme exigido. Se a saia estava na altura adequada.
Uniforme impecável. A saia bem para baixo do joelho. Se essa era enrolada na cintura, enquanto se fazia o passeio na Praça Presidente Vargas antes ou depois da aula, teria que ser desenrolada ou seria puxada pela severa Irmã Irene a disciplinadora, na entrada da sala de aula. Muitas voltaram para casa, com a barra desmanchada. Não adiantava chorar, era regra. E não podia ser desobedecida.
As meninas, todas adolescentes, não importava o ano, tinham os seus desejos, próprios de uma idade de sonhos. Mas um tempo que se obedecia ao que os professores e os pais determinavam. Até passar o dedo por entre os botões da blusa do uniforme, a fim de verificar se elas estavam usando a combinação. Menina que se preza não deixa o corpinho, assim era chamado o sutiã da época, aparecendo.
Marcada a data do encontro, os trabalhos começaram. Novos tempos, saber onde viviam, o que faziam as Belas Normalistas de 1967.
Os Estados brasileiros foram garimpados, morando elas com seus familiares do Sul ao Norte do País. A maioria está casada com filhos e netos. Tendo até uma jovem bisavó. Outras por opção, vivendo sólitas, algumas já com mais de um bem-amado. A vida apresentada como ela é. Normalistas que tiveram o seu companheiro escolhido no calor da juventude, nos sonhos de uma vida amorosa com um Príncipe Encantado. Chegando a cavalo ou a pé ou quem sabe em um Mustang, muito bonito.
As meninas-moças, envaidecidas fizeram parte da história da bela Pato Branco que iniciava a sua trajetória de sucesso e prosperidade. Sonharam em fazer uma viagem de formatura. Mas não podia ser essa muito perto. Com as asas de um pato branco era preciso voar e voar bem longe. Nada a mais, nada a menos que a Cidade Maravilhosa foi o local escolhido.
Decididas se puseram a trabalhar na concretização do sonho. Bailes, desfiles, rifas. E, o que mais aparecia para conseguir os proventos necessários. Ouviram em uma noticia de Rádio que em determinada cidade havia sido feito uma partida feminina de futebol.
- Como as moças tinham realizado um jogo de futebol?
Sem pensar duas vezes:
- Vamos fazer também aqui na nossa cidade. Ainda, cidade pequena, cheia de preconceitos. Moças jogando futebol? Como?
Foi um alvoroço. Porém bem aceito pelas lindas normalistas, como diz a canção:
Trazendo um sorriso franco
No rostinho encantador
Minha linda normalista
Rapidamente conquista
Meu coração sem amor.
Ver moças, em 1967, jogando futebol, um sonho de muitos rapazes. Iriam com que uniforme. Um calção curto? Escolhido o uniforme, dentro dos conformes, eram moças de família. Por cima do calção, usariam um saiote. Era essa pregueada e branca. Um pouco acima dos joelhos, afinal seria usada numa partida de futebol. Em um campo batizado de Frei Gonçalo onde até então só os homens tinham tido o privilégio de jogar.
Escolhida a data, seria 7 de setembro, dia da Pátria. O padre da cidade, jovem franciscano, moço bonito, seria o Juiz, para dar assim credibilidade ao evento.
Os dois times formados. Homenagearam os da paixão pato-branquense. Um do Internacional e outro do Palmeiras, representados pelas jovens jogadoras, moças escolhidas pelas Normalistas, sonhadoras, em viajarem até o Rio de Janeiro.
O jogo foi um sucesso o Campo do Internacional, no alto da Colina,  homenageando Frei Gonçalo torcedor  fanático, além de Vigário competente que liderou a construção da Igreja Matriz São Pedro Apóstolo.
O sucesso do jogo se igualou ao sucesso financeiro. A viagem estava garantida. Quem com mais de 50 anos foi capaz de sonhar grande, por em prática,  com certeza também seria capaz de planejar com sucesso um encontro:
Vestida de azul e branco
Trazendo um sorriso franco
No rostinho encantador
Minha linda normalista . . .
Eram especiais até no uniforme que do tradicional azul e branco, usavam grená e branco. Para dar mais destaque um role grená também e, meias brancas três-quartos.  Eram lindas na sua idade juvenil. Graciosas, inteligentes estudavam no mais alto Curso existente na cidade, seriam Professoras formadas, as Normalistas que toda a Escola almejava.
A ideia criou asas. Telefonemas, grupo formado, data marcada e, tudo foi acontecendo conforme como foi sendo determinado. Já havia sinal de festa nos ares da cidade das Normalistas de 67.
Hotel reservado. A imprensa notificada. O restaurante escolhido. Tudo  programado com carinho. O Colégio aderiu ao Jubileu, presenteou com a decoração da Capela.
A Santa Missa seria Celebrada pelo Frei Policarpo, homem Santo e, tinha sido o professor de música. Dizia ele:
- Com música vocês conquistam os seus alunos.
Essa Celebração, a de hoje, era por demais, especial. Além de ser uma Santa Missa na Capela do Colégio, muito bonita, acolhedora. Ainda rezada pelo Frei querido. Era preciso também resgatar a dignidade de 50 anos atrás quando as Normalistas entraram na Igreja, a Missa já estava sendo oficiada pelo Frei Ari que de comum acordo com algumas pessoas não queriam que elas, moças que voltaram do Rio de Janeiro, mal faladas fossem bem recebidas na Igreja. Cidadezinha pequena, povo com tantos preconceitos, como pode moças de família ir a Capital do Brasil e voltarem iguaiszinhas de como tinham partido? A imaginação corria solta. A língua do povo também. A Professora, a Dona Ivone, vinda de Curitiba, as acolheu e consolou. Foi ela refugio tranquilo das alunas.
O tempo passou, os anos trouxeram sucesso às jovens profissionais, senhoras competentes. As feridas cicatrizaram. Lembranças de um tempo bem vivido entre meninas de uma cidadezinha do interior que ousaram sonhar e realizarem o que queriam.
O encontro engrandeceu a alma das Belas Normalistas. Assim termina a canção de Nelson Gonçalves:
A entregá-lo ao cuidado
Daquele brotinho em flor

O tempo mostrou que além de lindas foram e, ainda são talentosas, realizando seus projetos de Vida, no Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rondônia. Normalistas desse Brasil, acolhedor. Professoras, que foram Mestras ensinaram e amaram seus alunos.

 

 

 

 

 

 

 

 
Poema publicado no livro "Data venia!... E tenho dito!" - Contos - Março de 2018