Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA

 

Data venia! ... E tenho dito!

 

          

    

E disse um dado interlocutor ao dirigir-se ao empoderado emissor deste emaranhado discurso vibratório e interditado por um outro emissor que se esconde por trás do digníssimo escrivante. Digne-se conceder que um outro discurso subjaz dentro de outros discursos que como “bola de neve” é mergulhado por ideologias que, doravante, atrai multidões de interlocutores. Dá-se início ao mergulho de ideias que proliferam de um lugar que não possui consistência. Reside entre quem diz interpelações de um ego que quer tornar-se um superego no total empoderamento do dito dizido, tecido e costurado por desagradáveis estruturas que operacionalizam quem pensa quer diz o que gostaria de dizer. Eu, escrivante que escreve, não mais como antigamente, tradicional e artesanalmente, sente a necessidade de concordar com o dito pelo dito e discordar do não-dito que não foi dito. E na esteira de quem já denunciou que o artesanal está em crise, o digital assume a liderança, e provoca uma racha no presente que rapidamente se distancia do passado como ovelha desgarrada que foge da morte anunciada pelo rei da floresta, o faminto leão, que sente, por instinto, a vontade de saciar sua fome… Depressa a ovelha dispara a correr de seu inimigo, mas não consegue fugir de sua cruel realidade. Vê, diante de seus olhos, um final inevitável, a insana morte e o fim de uma longa história. Data vénia!... E tenho dito! Tudo pode mudar… no de repente que interrompe a ação voluntária da natureza. Ovelha não se entrega ao seu destino e luta com toda a sua força na fragilidade impotência diante da potência do inimigo. A vassalagem se dispersa de sua enigmática força semanticista e é corroída por um simples sinal de mudança, tão incerta, tão insegura, mas operacional. E no de repente, o leão sente uma tremenda dor em seu corpo potente e é paralisado em seu movente desejo de predador. O céu se abre, a noite não chega, e, saindo de um entre-lugar, surge milhares de ovelhas que se juntam à ovelha perdida, e a perdida ovelha é rebanhada por seu grupo em alta velocidade, potencializada por uma de repente força coletiva que tira o sucesso do leão enfraquecido. Data vénia!... E tenho dito!
No chão pisado por homens outros homens habitam. Tenho dito. E, neste chão, corpos já foram vencidos. Canhões apodrecem ao ar, e a história ainda resiste à velocidade erguida pela Nova Era, era que elimina de si o Tratado da História dos Vencidos. O cruel neoliberalismo estende suas garras na profundidade de feridas de heróis enfraquecidos pelo sistema devorador de passado. Data vénia!… e tenho dito! Dito na sinceridade da lei de retorno anunciada por Nietzsche em seus pergaminhos filosofantes… Reais discursos que ameaça a voz do bom combatente… Será o fim da História!? O fim da Filosofia!? Da Sociologia!? Global força avança em direção ao povo, numa devoradora fome de violência sem precedência na história de um povo servil… Tenho dito, sem emendas ou complementos discursivos. Ninguém tira de cena o que está sendo encenado! A raiz foi bem plantada e pode até ser sangrada, mas como fênix renasce de suas cinzas. Dito está, tenho dito!
No marasmo do orgasmo que apodrece a alma dos famintos cães repousa a delirante e opressora morte, faminta errante que abraça primeiro os insanos bichos feitos de carne podre. Ma sabem que o mais importante não está sendo feito. São devorados por suas cobiças e tornam-se incapazes de enxergar o que está tão claramente exposto. Nem com auxílio de microscópio conseguem ver o óbvio porque estão cegos, e como cegos materialistas, perdem a alma gentil e o espírito geme em profunda agonia, pois gostaria de não está agregado a um corpo sem proveito. Corpo morto, embora vivo! Corpo devorador de propinas dilacerantes… São rinocerontes da modernidade líquida que dissolve o que ainda resta nesses corpos doentis… a razão desprovida da emoção e da reflexão, da divina comédia, abraçados apenas pela catastrófica tragédia de suas vidas sem graça, sem piada, sem magia… Data vénia! E tenho dito! Dito francamente num efémero ponto final que é despontuado de sua materialidade discursiva, pois com ferro fere e com ele é ferido.
Na vasta voz popular emana a força, o grito, a mudança… O povo agiganta-se e a praça é tomada por seus ruídos. Finos e potentes ruídos capazes de dissolver o que tiver á frente da estrada. A praça é ocupada por seus verdadeiros donos, e  o Grande Salão que detém as discussões, oriundas de interesses que não são e não fazem parte da maioria, é desmontado de descontrolado, porque quando o povo quer, o povo alcança porque quem está no Salão não possui legitimidade de representação social. São interesses que fere a democracia e a liberdade de expressão propagadas desde a democracia ateniense. Os gregos bem souberam resolver, inventando a democracia, o debate não-fechado, o debate onde cabe todas as vozes. No entanto, o país em que vive o emissor desta história cronicamente viável sofre de um mal que é incurável. Data vénia!... e tenho dito! Há controvérsia. Na contrapartida dos agitados sons o que é cronicamente inviável torna-se cronicamente viável e sustentável. Pois um povo unido devora seus governantes desnutridos da razão, da lógica exata da explicação. Está criada a nova civilização que em sua pequena minoria ameaça a democracia no silêncio da madrugada quando o galo esquece de cantar, o povo dorme e a cidade adormece em profunda ignorância de carnavalesca gente que vai pular e esquece de estar atento aos fantasmas que agem em plena luz do dia e na calada noite esquecida por seus moradores. Data vénia!... e tenho dito! É preciso estar atento porque os morcegos que espreitam a sugar o sangue à noite também estão em plena luz do dia sugando os direitos de uma gente que se descuida rapidamente… Atenção! Preste atenção! Muita atenção. O escrivante precisa parar de escrever, pois precisa dormir e aguardar o novo dia que virá… E sabe que, um dia estará mudo, mas valeu a pena segurar a pena e escrever em tão longe terra sobre sua terra natal. Abre as portas da sanzala! Deixem o povo passar! Não esqueçam de que a democracia é o governo do povo, pelo povo, para o povo! Fora disso é corrupção e violência, falta de governo, de sabedoria e de justiça. Tenho finalmente dito. Mesmo que o tempo diga não, eu não me cansarei de dizer “Sim” e acreditar que o Brasil tem jeito, e pode ter um presente melhor, basta tentarmos ver o presente, sem perder de vista o passado que dele se desvinculou, pois só haverá futuro próspero quando o presente é bem sustentado por um passado que não pode ser esquecido. Quem deseja anulá-lo é ditador, devorador, monstro com a face coberta por um rosto humano. Na verdade, não passa de um fantasma da meia-noite que virou lobisomem e quer devorar os bons homens deste grande país continental que sofre por seus erros, e não pode esquecer de que há sempre tempo para corrigi-los. Dito no dito, tudo foi dito. Agora só resta aguardar a mudança, com os pés firmes na História de heróis que querem dizimar em pleno Século de conquistas. Viva a democracia. Saia de nosso meio a demoniacracia absurda que impõe ao seu povo o direito de ser povo… Pronto… Sem ponto final… Até breve… e que venham mais reticências para iluminar de razão e esclarecimento o leitor devorador de verdade, porque um povo quando vai à praça, vai por direito a protestar… Ninguém pode impedi-lo, nem mesmo a falsa democracia e a injusta justiça que agrega em si um violento e sórdido jogo político… Afinal de conta, no final de tudo, está nas mãos do povo o seu próprio caminho. Dito no dito, tudo está dito, só não ver quem não quer ver... quem é cego de nascença.. Ensaios de cegueira, doença que precisa ser vencida porque seu diagnóstico é passageiro. A estúpida fragilidade da falta de provas concretas não pode violar nosso poder de decisão. Que venha Curitiba! E, se de repente, o mal se alastrar, que o povo devore quem os ditou… A enxada vencerá a batalha… E o novo São João de 2018 só reinará quadrilhas juninas! Chega de quadrilhas falsas que querem nos devorar e impedir-nos de dançar, girar e ser feliz...

 

 

 

 
Poema publicado no livro "Data venia!... E tenho dito!" - Contos - Março de 2018