Alberto Magno Ribeiro Montes
Belo Horizonte / MG

 

 

Hotel Mona Lisa

 

           

Às vezes, se quisermos melhorar de vida, temos que tomar decisões firmes, mesmo contrariando os familiares e amigos. Assim pensava o José. Tendo vivido sempre na roça, um dia cansou-se de tudo e disse: -Vou pra cidade grande arrumar emprego. Os parentes e os amigos, receosos, tentaram fazê-lo desistir: - Mas Zé, você  não tem uma profissão, não sabe fazer nada a não ser serviço de roça…Não vai dar certo! Mas ele, teimoso como era, mostrava um recorte de jornal, com o endereço de uma construtora da capital, que estava contratando servente de pedreiro e assim, a todos tentava convencer de que tudo daria certo. Esse serviço é moleza, dizia. E não é preciso experiência, eles ensinam o ofício e fornecem até alojamento. Além do mais, achava que, estando na cidade, seria mais fácil conseguir outra atividade e quem sabe até mesmo poderia voltar a estudar… E lá se foi, todo esperançoso, em busca de uma nova vida.
                        Antes da partida, foi despedir-se de seu amigo Joca, que já estivera na cidade grande, e que lhe falou assim: -Zé, quando você chegar lá, não deixe de conhecer os motéis que existem perto da rodoviária. Lá eles são chamados de hotéis, mas são de um tipo diferente, desses em que não entram famílias… É zona mesmo, entende? Há uma praça em frente à rodoviária e ao lado dela, uma rua com vários deles. Sei que você não vai lá pra isso, mas antes de procurar o dito emprego, não custa nada dar uma passada lá.
                        E lá se foi o Zé, com aquilo que seu amigo disse, fervilhando em sua cabeça e carregando  uma maletinha, tendo como referência apenas o recorte do jornal, com o endereço da tal construtora. Ao desembarcar na rodoviária, foi antes conhecer a praça em frente à mesma. Sentou-se num banco e ficou observando o vai e vem das pessoas. Em apenas uma hora, viu mais pessoas passarem naquela praça, do que já tinha visto em toda a sua vida lá na roça. Depois, ansioso, procurou a tal rua indicada pelo amigo. Foi fácil localizá-la. Ficou então olhando os nomes dos hotéis e o entra e sai constante de pessoas. Achou alguns nomes curiosos, mas o que mais lhe chamou a atenção foi o Hotel Mona Lisa. Aquele nome atiçou sua imaginação: -Será que lá encontrarei uma MONA…e  além do mais LISA???
                        Decidiu que era naquele hotel que entraria. Antes, olhou para trás…depois de um lado pro outro, pra ver se não havia ninguém conhecido por perto, lhe vendo. Mas que doideira, finalmente pensou, pois estava longe de casa, viera sozinho, impossível encontrar algum conhecido ali…Primeiro havia uma longa escadaria. Subiu devagar, passo a passo e lá em cima, encontrou um enorme corredor, cheio de portas, nos dois lados. Alguma fechadas…outras entreabertas, onde os homens paravam, davam uma olhada, alguns perguntavam algo e às vezes entravam e fechavam a porta. Descobriu que havia um quarto em que os homens chegavam na porta, davam uma olhada pra dentro dele e saiam, cada um com um expressão diferente no rosto. Uns sérios, alguns com um discreto sorriso, outros com cara de espanto… O que havia lá, que todos eles só olhavam e voltavam? Bastante curioso, dirigiu-se àquele  misterioso quarto, e ao observar seu interior, dá logo de cara com uma grande cama, tendo em cima um quadro velho da MONA LISA, todo empoeirado, a estampa com cores desbotadas e ela lá, impassível, olhando diretamente para ele e sorrindo com aquele seu sorriso enigmático.
                        Após ter matado sua curiosidade…refeito do pequeno susto, naquela hora ele apenas pensou:  E agora, José?

 

 

 
 
Poema publicado no livro "E agora, Bob?"- Edição Especial - Maio de 2017