Merari dos Santos Tavares
Atibaia / SP

 

 

O pedido

 

           

      
Era sexta-feira, ela estava completando naquele dia o seu 22º aniversário. As aulas da universidade já haviam retornado naquela semana. Rebeca estava no terceiro ano de jornalismo. Amava o que fazia. Adorava estar ao redor do público, realizar entrevistas, escrever matérias, enfim, era sua vida, sua paixão. E foi no seu primeiro ano de faculdade que realmente conheceu o amor. O amor da sua vida e, a partir daí, descobriu realmente o significado dessa palavra, ou melhor, desse substantivo masculino, escrito com quatro letras: duas vogais e duas consoantes.
Enfim, essa palavra tem uma descrição fixa pertencente ao nosso vocabulário, é nada mais nada menos que a atração espontânea e intensa por alguém ou por alguma coisa, é o desvelo, carinho ou até mesmo diremos que é o próprio namoro.
Rebeca, como já mencionado, conheceu o seu grande amor: Rodrigo. Ele, um jovem simples, inteligente, romântico, de olhar profundo, talvez um pouco mais profundo do que o dela. Rodrigo era muito mais que simples, pois, além de ser um jovem muito concentrado no que fazia – como Rebeca –, amava a sua profissão, era arquiteto. Porém, ele não arquitetava apenas as construções, os prédios, ele arquitetou do piso ao teto um monumento certo: o coração de Rebeca. Quando a viu pela primeira vez, não teve dúvidas daquilo tudo que sentiu: coração disparando, frio e arrepios eram sintomas de amor, não de paixão, pois paixão é passageira, que dura em média de dois a três anos. E ele, como arquiteto profissional, jamais poderia construir algo que pudesse vir no futuro a trazer grandes transtornos, não poderia construir, desenhar algo em sua vida que pudesse desmoronar. Então, com muito cuidado, precaução e zelo, ele selecionou o lápis mais delicado e começou o design da sua vida: como conquistar o coração daquela que fizera o seu disparar, saltitar, e que fizera aquela linda imagem nunca mais desaparecer do seu pensamento, do seu coração.
O tempo passou e certo dia, Rodrigo, o arquiteto, conquistou o coração de Rebeca, a jornalista. Um par perfeito, não? Sim, perfeitamente perfeito, pois um arquiteto desenha, planeja, constrói, e uma jornalista aproveita as situações e realiza entrevistas, produz matérias, constrói uma história. Então, uma construção é igual à matéria. Uma matéria é igual a uma história. E uma história é igual a um livro, e um livro se resume a uma obra a ser lida e a ser lembrada por toda a vida!
Rodrigo e Rebeca deram início ao namoro no primeiro ano de jornalismo de Rebeca. Ele, como um bom arquiteto, planejava a cada dia um novo cômodo em seu relacionamento, em seu futuro ao lado dela. E o dia mais importante havia chegado. Já era tempo de tomar essa decisão. Ele precisava mais que nunca dessa resposta; ele necessitava da presença dela ao seu lado, não por um dia de lua de mel, mas sim, para toda a vida.
Naquela sexta-feira, dia do seu aniversário, Rebeca atravessou a roleta da universidade e percebeu um alvoroço no pátio. As luzes de repente se fizeram trevas. Escuridão e correria. Ninguém sabia ao certo o que estava ocorrendo. Apenas avistaram ao alto um helicóptero e uma voz que dizia: “Atenção, atenção! Todos os alunos da universidade deverão ficar onde estão. Ninguém se mexe. Algo muito importante está para acontecer!”.
Todos pararam assustados diante daquela situação. Rebeca estava entre a multidão e seus olhos piscavam perante a luz do helicóptero. Novamente, alguém lá em cima pegou o alto-falante a anunciou: “Quando duas pessoas realmente nascem uma para a outra, quando o amor é recíproco e é apenas uma felicidade indescritível, amor puro, ternura delicada, a-m-o-r, amor daqueles vistos em filmes, daqueles lidos nas histórias infantis, daqueles sonhados quando criança e daqueles vividos quando chega o momento certo. E o meu momento chegou faz 2 anos e 9 meses...”
Nesse intermédio, os estudantes já estavam alvoroçados, pois perceberam que tudo aquilo não se tratava de algo policial ou alguma perseguição. Na verdade, era nada mais, nada menos que uma declaração de amor, ou, poderia ser até algo mais. Eles estavam parados, agora mais calmos, esperando o espetáculo final.
A voz então prosseguiu: “Agora, preste atenção, Rebeca! Onde está você, meu amor?” – a voz soou a fim de encontrá-la e as luzes agora mais intensas começaram a rodar o pátio da universidade. Entre a multidão viu-se alguém erguendo as duas mãos já com lágrimas no rosto.
“Rebeca, você está aí! Escute o que tenho a lhe dizer: queria que Deus permitisse que a maior distância entre nós fosse a dos nossos lábios entrelaçados para sempre em nosso amor. Meu coração bate forte e alto, para que o seu possa senti-lo e ouvi-lo. Que seu amor nunca morra e jamais se esqueça do meu! Assim como os pássaros não vivem sem o céu, assim como os peixes não respiram sem a água, assim como os planetas não existem sem o universo, posso dizer, com toda a sinceridade, que não vivo sem você. São palavras proclamadas agora, mas para serem lembradas para sempre, guardadas em seu coração e em sua mente. Te amo, te amo tanto… Desse coração você ouvirá apenas palavras de amor, carinho e apoio. Viva, cresça e envelheça ao meu lado. Por isso, gostaria de lhe fazer um pedido: Case-se comigo!”
Rebeca não conseguiu segurar a emoção. Houve uma mistura de sorriso e pranto, mas pranto de alegria. Com toda a sua força, o seu amor e o seu desejo de estar para sempre ao lado de Rodrigo, ela gritou: “Sim, eu aceito”.
As luzes então iluminaram Rebeca e Rodrigo, que descia agora pela escada de corda e ia ao encontro de sua amada. Ajoelhou-se e retirou do bolso do seu terno o par de alianças de ouro. Colocou-a no dedo anelar da sua amada e ela logo em seguida repetiu o gesto com Rodrigo. Ele levantou-se, e agora a maior distância entre eles eram seus lábios, que provavam um novo sabor: o sabor de um beijo puro e eterno. Abraçaram-se e os fogos especiais em formas geométricas de coração decoraram o lindo céu azul escuro e marcaram a noite mais feliz de Rebeca e Rodrigo, um amor eterno!

 

 
 
Poema publicado no livro "E agora, Bob?"- Edição Especial - Maio de 2017