Maria Rita de Miranda
São Sebastião do Paraíso / MG

 

 

Árvore da amizade

 

        

          Há muitos anos, uma sementinha foi plantada por mãos hábeis, no canteiro da praça central. Germinou e um broto viçoso apareceu. Assim nasceu a árvore que foi batizada com o nome de “Árvore da Amizade”, visto que fora plantada por membros da Casa da Amizade do Rotary Club local.
          Bem cuidado, o ipê branco logo cresceu. Atingiu seu ápice com, mais ou menos, 15 metros de altura. Ali ficou enfeitando o local, deu sombra e na primavera, despido das folhas, se tornava todo branco com as frágeis flores em forma de pequenos cálices que, quando caíam, deixavam o chão como se fora um tapete branco.
          O tempo passou e, como todo ser vivo, a árvore também envelheceu. Seu tronco, de uma circunferência notável, já mostrava sinais de decadência. Mantinha-se de pé, mas já não apresentava o frescor de tempos atrás.
          Foi aí que algumas pessoas acharam que estava na hora de cortá-la. Lançá-la ao chão para que fosse evitado algum acidente. Em meio de uma ventania, ela poderia se tombar. Estava condenada.
          Pessoas contra o corte. Pessoas a favor. Durante algum tempo, as discussões se exaltaram. Os que queriam conservá-la exigiam um laudo dos peritos no assunto, pois achavam que o ipê branco podia se manter ereto por muitos e muitos anos.
          Depois de algumas vistorias o laudo confirmou que a árvore oferecia perigo, pois estava tomada por pragas e a qualquer hora podia se tombar.
          Integrantes do Rotary continuavam contra a derrubada e protestaram.
          De nada adiantou. A árvore caiu por terra através de também mãos hábeis que usavam desta feita, a motosserra. Deixaram um toco do tronco da altura de um metro e pouco. Ele ficou ali firme, ouvindo os comentários contraditórios de pessoas que por ali passavam: - que pena! Diziam uns. –Isso tinha que acontecer mesmo, falavam outros. Assim por diante.
          Com o desenrolar dos dias, o assunto foi minguando. O tronco do velho ipê resolveu reagir. Primeiro um frágil broto apareceu em um dos lados. -Nossa, a árvore ainda está viva! Era muitas vezes ouvido.
          Outro broto despontou. Mais um sinal de vida apareceu bem no centro do tronco. Ficaram lá por algum tempo, parecendo que ganhariam força. Outro dia, passando por lá, vi esses brotos secos. Tive pena e pensei: será que ainda veremos o ipê branco novamente florido provando que ninguém morre antes do tempo? Não sei...

 

 

 
 
Poema publicado no livro "E daí?... Como ficamos?..." - Edição 2019 - Janeiro de 2020