Hita Dutra
Barra da Estiva / BA

 

 

Um olhar miúdo cheio de
sentimentos graúdos

 

        

Tinha uma morena linda que quase todos os dias passava numa avenida onde morava um menino muito simpático, quando ele percebia que ela vinha, preparava logo um sorriso, e pra ela com muita alegria, acenava e sorria. 
Ela até que se esforçava e o sorriso correspondia, mas na maioria das vezes ela mudava de calçada, quando de longe avistava que ele estava em seu banquinho de madeira, sempre de óculos escuros, mas tinha um sorriso lindo, sorriso largo, e depois de um tempo ela começou a perceber, que por trás daquele sorriso tinha algo querendo-a envolver, ela ficava até envergonhada, na verdade aquele menino há um bom tempo a paquerava.
Nessas idas e vindas uma rotina quase que consagrada, parecia que ele sabia até a hora que a morena passaria, e já ficava esperando na calçada.
Um certo dia então, aquele menino ganhou coragem e assim que ela passou, uma inquietude dentro dele se instalou, ele seguiu em direção a ela e com uma timidez gigantesca, pra aquela morena ele se declarou. Uma cena que pra ela ficou marcada, uma declaração de amor feita em uma avenida, naquela hora ela sentiu um frio na barriga, a voz dele tremia e até um pouco gaguejava, mas com clareza ele disse, que por ela estava encantado, pediu uma oportunidade para conhecê-la, logo o nome dela quis saber, quando ela respondeu, o sorriso dele ainda mais floresceu, a voz dela o deixou maravilhado, um sotaque diferente, e ele a ela disse muito sorridente :
-"Sua voz traz paz pra gente, por favor deixa eu te conhecer melhor, e me conheça também, o que sinto por você é real, pois há muito tempo, por ti me encantei." 
Foi uma conversa rápida e seguiram cada um sua direção, mas ele não se conformou e no mesmo dia a procurou, conversaram com tanta alegria que parecia que há muito tempo se conheciam, muitas coisas em comum eles tinham, falavam de vários assuntos e o que mais os atraía era poder ver juntos o pôr do sol, quem sabe um dia…
Muitos dias se falaram, até que o primeiro encontro foi marcado, com intenção do pôr do sol admirar, mas chegaram atrasados e não puderam o espetáculo do Sol apreciar.
No alto daquela serra ficaram a conversar, uma conversa tão agradável que os corpos desejaram logo se abraçar… se abraçaram com muita intensidade e não queriam se soltar, era como se tivesse acontecido o encontro de almas alí naquele lugar… e a ventania que fazia lá em cima favorecia, e os impulsionava à abraçar, mas aquele menino queria mesmo era a morena logo poder beijar.
Não se beijaram, mas naquele abraço caloroso, que a ambos acolheu, ela logo descobriu naquele menino, um olhar miúdo cheio de sentimentos graúdos, e isso, ela pra ele falou, ele sorriu alegremente, pois a morena nele também despertou algo diferente.
Veio então o segundo encontro depois de mais uma semana de conversa, o pôr do sol queriam ver, o menino a levou em um lindo lugar, que pra chegar até lá, era de tirar o fôlego, uma escada gigante, uns 300 degraus à contar, aquilo pra ele era fácil pois era acostumado pedalar, mas pra aquela morena, foi um desafio conseguir chegar.
E mais uma vez perderam o espetáculo do sol, a lua já estava ansiosa para aquela noite iluminar.
Admirando então o luar o cenário lindo os levou a se beijarem, se beijaram com tanto carinho, e dentro de longos abraços ficaram a conversar, por lá perderam até a noção do tempo, não queriam pra casa voltar.
Muitos outros encontros tiveram, todos planejados para o pôr do sol admirar, mas nenhum deles concretizados parecia até algo premeditado, que não queria o universo, aquele desejo deles realizar, talvez seria mesmo para que muitas outras vezes ainda pudessem se encontrar.
Um dia foram à um lugar incrível, e esse com certeza foi o melhor lugar que ele a levou, lá onde estavam os dois sozinhos apenas acompanhados pelo canto dos passarinhos, os dois se divertiram, regaram as plantas, e logo a morena quis dar nome àquele lugar, o chamou de Recanto do Sossego, e ambos tiveram por aquele nome apego, a tarde inteira ficaram por lá e ao final da tarde na esperança do pôr do sol admirar, uma gigantesca nuvem, o sol escondeu, e não permitiu mais uma vez, que eles pudessem o seu espetáculo contemplar, se contentaram por estarem juntos e alí do lado de fora da casinha, comeram frutas, mas em seguida tiveram que pra casa voltar, aquele passeio ficou afixado na memória e coração da morena, que sentiu muito, aquela tarde ser tão pequena.
Quando se encontravam, sentiam afago, ele com os olhos miúdos cheios de sentimentos graúdos, dizia que gostava de tê-la ao seu lado, mas havia muitos medos ao derredor, enquanto tudo que a morena queria era enchê-lo de xodó. Ele até que a compreendia, mas o medo era tanto que o menino às vezes dela fugia…
A fuga dele, judiava demais do coração da morena, pois ela não conseguia esquecer a primeira cena, de quando ele se declarou, e aos poucos a conquistou. 
Era mesmo um enigma para decifrar, pois ela não cansava de expressar, o tamanho da saudade que ela estava em seu peito a carregar. Ah! Se aquele menino soubesse, e enxergasse o coração dela por dentro, não deixaria passar a oportunidade e quem sabe como nunca, experimentaria o amor de verdade, pois ela o amava mesmo com muita intensidade.
De tanto que a morena dizia que tinha medo de se envolver, aqueles olhos miúdos cheios de sentimentos graúdos a cada dia a convencia, que o coração precisava de mais uma chance pra quem sabe um grande amor viver.
Ele dizia que ela era especial, e também estava sofrendo com aquela distância.
Mas que medo gigantesco afastaria duas pessoas que se gostavam e não podiam se amar? 
E resolveram então aquela história cantar.
Os dois:
-"Ah! Coração, esquece esse medo de amar de novo." 
Ele: 
-"Coração, diz pra mim, por que é que eu fico sempre desse jeito?"
Ela:
-"Corri na tua direção, na direção do teu sorriso, dos teus olhos, do teu coração."
Cantar, foi uma maneira que eles encontram para tentar acalmar o coração.
E até hoje aguardam e se perguntam: 
-"Qual será a próxima canção?"

 

 

 
 
Poema publicado no livro "E daí?... Como ficamos?..." - Edição 2019 - Janeiro de 2020