Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA

 

Esperançar sempre

 

 

           No doce dizer do dito amargo faz-se essa crônica permeada por vozes ameaçadoras da boa ordem do tempo presente. Num entre-lugar assaltado pela voz que nada diz, e dizendo se desfaz em seu delírio jocoso. O corpo ainda pensa! O corpo ainda resiste! O corpo implora na sua deplorável forma de ser seu destino de outrora! No novo inverno, que virá por certo, teremos de volta nossa harmonia, o nosso sentido ferido, sobrevivente, renovado, reconstruído das cinzas escuras deixadas por um passado que envergonha o homem que teclou o “dígito do mal”, e deu a nós, criadores de fantasias e realidades, a árdua tarefa de não sair dos trilhos da imaginação, dos trilhos do sentido do bem que a vida determina que seja cumprido!
           Eis o homem inumano! Eis “era uma vez um não-presidente que desgovernava uma grande nação!”. Triste é a história de um país desgovernado! Ou de um indigente que foi eleito por tanta gente indigente, gente que se identificou num indigente corpo insano! Não sei, não sei, não sei se fico ou passo! Se fico calmo com tantos desastres ou se passo… Passar aqui é ter vergonha de ser, neste momento de tanta corruptela, brasileiro! Passar com o direito de sonhar que, em breve, tudo vai voltar ao lugar que nós temos, por direito, na história das gentes não-indigentes! Na história legitimada pela voz que se ergue das cinzas das horas!
           Eis o tempo! A democracia ameaçada por nojentos “urubus” a degustar de sua carniça! Perdoe-me os urubus, pois são belos em sua função! Refiro-me aqui aos “plantadores de ódio”, de falsas verdades que aviltam nossa forma humana!
           O tempo. Eis o Mestre das horas amargas que atraiu para si o veneno da serpente vestida por nome semelhante a um animal deplorável por sua espécie. O boi, a espécie que suga o alimento, ao lado de jumentos, aliados cruéis, representativo da última face de uma perdida forma desumana que se estrutura por meio da mentira, inspiração maltratada, sem portador, estregue ao pasto errante!
           O futuro. Eis o devir que nos cobre com sua linhagem temporal. O tempo há de se vingar do estado deplorável de sua existência, e cobrará de seus fiéis mortais, por cada hora vigiada pela dor de quem sobreviveu para ler esta crônica futurista, crônica que esconde de si seu real desejo: o de não ser lida por um leitor alienante, por um leitor indigente!
           O passado. Página virada. Estamos em outubro de 2022. Vitória da democracia! Vitória da vida! A faca não mais encontrará o medido corpo, pois este corpo nunca foi filosoficamente corpo. Corpo que não sente o semelhante é um não-corpo, uma “seta que voa de dia” e esquece, de que pela noite, ela se perde, em meio a tantas vítimas que cobram, em silêncio, por não estarem mais a habitar o nosso meio. Foram traídas por seu bajulador, “falso messias” que tirou de si a faca e matou a milhares de homens, mulheres, idosos e crianças.
           O hoje. De repente tudo se faz diferente. Você aprendeu a ser gente, a ver como gente, a sentir como gente, a ler como gente. Gente que cuida da gente, gente que não explora gente, mas a transforma em gente pensante, em agente da gentilidade humana! É neste hoje que o cronista anuncia o amanhã que se pronuncia, e como profeta que lê o mundo ao seu redor, reconhece o futuro de uma gente que se permite ser gente, e não mais indigente!
           31 de dezembro de 2022. O mundo está diferente. As pessoas estão diferentes. As escritas também diferentes. Os hábitos mudaram. A crônica anuncia um caminho mais fértil e seguro. O natal passou tão rápido! As pessoas queriam logo ver a chegada de 2023 com o novo presidente, eleito por muitas gentes para governar a todos por meio de um único ideal: o de igualdade, fraternidade e solidariedade. O “barco do mal” ficou no passado, afogado por reles defensores de um tempo fascista, negacionista, monstruosionista. Agora estamos sob a égide de um presidente verdadeiramente humano, feito de gente, eleito por pessoas pensantes que preferem a liberdade a viver no mundo de engano e de falsos discursos.
           1º de janeiro de 2023. Renasce a esperança. Renasce um novo Brasil. Renasce um novo tempo. Renasce um novo caminhar. Ouço de minha janela lusófona, ao lado de amigos da esperança, um grande grito: Feliz ano novo! O céu abriu-se como as asas de um pássaro a voar livremente, e eu percebi, distante de meu país, que o melhor a fazer é ter esperança: esperançar sempre…

 

(Homenagem aos amigos Joaquim e Samara)

 


 




Conto publicado no "Livro de Ouro Contos "- Edição 2021 - Outubro de 2021

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