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ENTREVISTAS
Entrevistas exclusivas com autores renomados, publicados nas antologias da CBJE nesses 22 anos de existência. Conheça suas histórias, suas obras e veja seus depoimentos.


Vicência Maria Freitas Jaguaribe

Quem sou eu
Eis uma pergunta de difícil resposta. Mas vamos tentar. Nasci em uma cidadezinha do vale do rio Jaguaribe, no estado do Ceará, a 183 quilômetros de Fortaleza. A data... 7 de agosto de 1948. Tenho, pois, 61 anos. Estudei em Jaguaruana, em Russas (cidade vizinha) e em Fortaleza, onde cursei Letras, na Universidade Federal do Ceará. Nessa mesma Universidade, fiz Mestrado em Literatura. Minha experiência profissional foi somente no magistério, primeiro no nível médio, depois no nível superior – na Universidade Estadual do Ceará – por onde me aposentei. Sou, portanto, pelo ângulo que se queira olhar, professora. Digo sou, mesmo já estando aposentada, porque o magistério é uma espécie de sacramento – quem é professor, não deixa de ser nunca. É professor para sempre. O mais deixo em sugestão nas palavras de Álvaro de Campos:
Eu, eu mesmo...
Eu, cheio de todos os cansaços
Quantos o mundo pode dar.
– Eu...
Afinal tudo, porque tudo é eu,
E até as estrelas, ao que parece, me saíram da algibeira para deslumbrar [as crianças...
Que crianças não sei...
Eu...
Imperfeito? Incógnito? Divino?
Não sei...
Eu...
Tive um passado?
Sem dúvida...
Tenho um presente?
Sem dúvida...
Terei um futuro?
Sem dúvida...
A vida que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...
Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu...


2) Como e quando você começou a se interessar por Literatura?
Não posso falar em um como nem em um quando, pois, nas minhas lembranças mais remotas, vejo-me com um livro na mão. Fui uma leitora compulsiva – como digo em um dos meus contos, uma devoradora de livros, uma menina com a cabeça cheia de livros. Tive duas tias que me alimentavam essa paixão: uma que morava na capital e mandava-me livros com frequência, e uma que, mesmo morando no interior, assinava a revista infantil da época, a Tico-Tico.

3) Como é a relação que você identifica entre a sua vida e a sua obra?
Diz Moacyr Scliar, na introdução de Histórias que os jornais não contam, que os escritores, com frequência, “partem da realidade – um episódio histórico, um personagem conhecido, um fato acontecido – para, a partir daí, construírem suas histórias”. É isso aí. E a vida pessoal do autor entra no processo como uma parcela dessa realidade. Às vezes, mais, às vezes, menos. Eu diria que o que acontece, de verdade, é um amálgama desses elementos da realidade, que são aproveitados pela ficção. Eles são o pontapé inicial; depois, o ficcional domina a situação. Quando se cria uma personagem, ela pode apresentar características de várias pessoas da vida real, inclusive do autor. O mesmo acontece com os fatos. O ficcionista pode aproveitar elementos de acontecimentos reais diferentes e apresentá-los como se pertencessem a um único fato. Daí se conclui que a narrativa ficcional nunca é o retrato da realidade, mas sempre uma recriação dessa realidade. E isso não é novidade para ninguém. Mas, mesmo não sendo novidade, sempre existe a curiosidade do leitor e a inevitável pergunta: Até onde vai a realidade e onde começa a ficção? Interessante, não?


Meus autores preferidos
Outra pergunta difícil. Mas vamos lá. A ordem é a da memória. Mas aviso logo que gosto de histórias contadas.
Machado de Assis, Clarice Lispector (contista), Lygia Fagundes Telles, Érico Veríssimo, Graciliano Ramos,José Lins do Rego, João Ubaldo Ribeiro, Moreira Campos.
Dostoievski, Eça de Queiroz, Gabriel Garcia Marques, Mário Vargas Llosa. Camões (lírico), Fernando Pessoa (e Alberto Caeiro), Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Leminski, José Paulo Paes, Roseana Murray.

Como você conheceu a CBJE e como você vê nossa atuação em relação aos jovens autores brasileiros?
Conheci a CBJE navegando na própria rede. Por acaso, cheguei ao site. Acho que é uma oportunidade ímpar para quem nunca publicou, pois todos conhecemos a política das editoras – só publica quem já tem um nome conhecido ou quem pode pagar caro.

Um conselho para quem está começando
Em primeiro lugar, dominar o instrumento, que é também matéria prima da literatura – a língua com a qual se escreve. Não se faz uma boa literatura sem esse domínio. É preciso conhecer as normas da língua para poder inovar e alcançar a originalidade do estilo. Em segundo lugar, ler bastante os bons escritores, pois somente com o exemplo deles se chega a distinguir o joio do trigo. Em terceiro lugar, ter a humildade de reconhecer que sempre se está longe, muito longe da perfeição, que é algo inatingível, mas que se pode sempre melhorar. Em quarto lugar, ter a coragem de se expor e serenidade para aceitar a crítica (institucionalizada ou não), pois é por meio dela que o aprendiz de escritor consegue crescer e chegar a ser, pelo menos, aprendiz de feiticeiro. O bom escritor é, para mim, um feiticeiro.

Contato: vmjaguaribe@netbandalarga.com.br