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ENTREVISTAS
Entrevistas exclusivas com autores renomados, publicados nas antologias da CBJE nesses 23 anos de existência. Conheça suas histórias, suas obras e veja seus depoimentos.


Rubo Medina

Quem é você?
Não tenho muito a dizer sobre mim. Prefiro ouvir das pessoas. Elas é que conhecem o Rubo Medina, mineiro, residente em Belo Horizonte-MG, professor e servidor público federal. Quanto à literatura, não me considero um escritor. Acho que ainda não tenho a “carteirinha”, mas havendo necessidade de uma denominação, prefiro dizer que sou ficcionista, pois o que faço é apenas dar um toque fictício ao que já existe, direcionando as coisas para o lado fantasioso do mundo da ficção. Adoro viajar, conhecer pessoas, fazer amizades e aprender. A vida tem muito a nos ensinar. E cada pessoa que cruza o nosso caminho deixa, de certa forma, uma bagagem de lições.

Como e quando você começou a se interessar por Literatura?
Sempre me interessei pelas letras e isso me deu a oportunidade de ter contato com bons livros, criando assim um mundo de fantasia, um mundo mágico onde personagens com as suas histórias fazem parte do meu cotidiano. Desde pequeno, tenho fascínio pelas letras. Na adolescência, estava tão envolvido na ficção, que fiz cursos de Letras e Estudos Sociais. Na Faculdade eu concretizava um sonho: adentrar mais no mundo mágico que os livros nos oferecem. Foi lá que conheci melhor os autores brasileiros e portugueses, tornando-me mais íntimo da literatura. Período fértil, com certeza, o qual me levou a consolidar essa paixão pelos livros. Naquele tempo, escrevia descompromissadamente, sem vislumbrar chances de publicar. Apenas escrevia. Nenhuma idéia podia escapar, por mais insignificante que fosse à primeira vista. Apenas, ia anotando, colecionando idéias. Vivia nesse processo contínuo: criando e engavetando. Hoje, embora a internet tenha democratizado a escrita e os escritores tem mais chances de serem conhecidos, adoto o mesmo processo. Só que o diferencial agora é jogar as idéias no computador. Escrevo sem grandes pretensões. Apenas, gosto de fazê-lo. É o meu prazer. Se alguém lê, a satisfação é maior ainda.

Como é a relação que você identifica entre a sua vida e a sua obra?
Todo o meu trabalho, embora fictício, é focado no dia a dia, nesse cotidiano rico de situações variadas, às quais procuro captar pelo ângulo fictício. Nessa relação realidade x ficção, existe o processo de transformar o que já existe, dando a isso o aspecto essencialmente literário. Eu sempre digo: podemos fugir de tudo e de todos, menos de nós mesmos. Daí, o nosso histórico de vida, naturalmente, passa para a nossa obra através da ficção. São as reminiscências, a transformação em literatura do que se aparenta comum aos nossos olhos, mas que por trás, há uma densidade de coisas para se extrair. Nesse processo, procuro usar as palavras de maneira que proporcionem o entretenimento.

Quais são seus autores preferidos?
Como disse anteriormente, li bastante. Gostaria de não ter uma preferência, mas certas influências permanecem diluídas em nós. Assim, vejo autores como Machado de Assis, um excelente contista. Acho simplesmente incrível o foco realista que ele dá às situações, o qual, até hoje, tem um valor atual. Aluísio Azevedo, no seu caráter essencialmente biológico e humano (no sentido etimológico da palavra), tem o poder de fazer o leitor identificar-se sobremaneira com a sua obra. Cecília Meireles (especialmente Olhinhos de Gato) no seu jeito aparentemente simples de escrever, nos leva a ver a profundidade na qual imerge as suas palavras. Isso nos traz a beleza da simplicidade aparente, que se desnuda quando repensada. Gosto muito de Dalton Trevisan, Clarice Lispector, Érico Veríssimo, o qual aborda coisas simples e triviais do cotidiano, mas com um colorido todo especial, criando personagens tão vivos que só faltam sair dos livros. Carlos Drummond de Andrade, Luiz Fernando Veríssimo, Mário de Andrade (com seu estilo inovador na linguagem), e tantos outros...
Dos estrangeiros, gosto sobremaneira de Frederick Forsyth (Sem Perdão, O Pastor), Milan Kundera (A Insustentável Leveza do Ser), Ken Follett (Noite Sobre as Águas), Pearl Buck (A Boa Terra), James Hilton... até Sidney Sheldon (na parte novelesca e sensacional, quase inverossímel).

A CBJE
Não me lembro exatamente como conheci a CBJE, mas sei que isso foi um achado. Nas coletâneas da CBJE estou tendo a oportunidade de conhecer obras diversificadas de escritores que despontam na web e que de outra maneira, não teriam chance de mostrar os seus trabalhos. Vejo na CBJE a oportunidade do escritor abrir canais para uma carreira literária.

Que conselho você daria aos que estão começando na carreira?
Quando comecei a publicar, no boom dos blogs, descobri que as pessoas estavam mais interessadas em mostrar o que escreviam, negligenciando a leitura. Às vezes não liam nem mesmo os próprios colegas blogueiros, muito menos autores consagrados, os quais lhes dariam a base para engajar na carreira. Muitos não tinham o talento que se espera de um escritor. Escreviam qualquer coisa porque era moda ter um blog e ficavam à espera de comentários muitas vezes bajuladores, feitos com o propósito de agradar. Esse tipo de escritor, de dias contados, desapareceu com o esvaziamento dos blogs. Os talentosos, aqueles que lapidam as palavras, aqueles que sabem recriar um mundo mágico de ilusões, permaneceram, apesar do mercado editorial não estar assim tão favorável a novos talentos. Estes escritores estão por aí nos sites de literatura ou publicando as suas obras a custo próprio. É uma falta de oportunidade lastimável. Muitos desistem e todos nós saímos perdendo.
Meu conselho: um escritor deve ler muito, ter intimidade com bons autores. Até com os não tão bons assim. Deve conhecer a teoria literária para classificar melhor a sua obra, não desvinculando completamente dos padrões estabelecidos. Enfim, deixo aqui uma recomendação para quem está começando: leia muito. Leia mais e mais. Isso é a base para escrever melhor. E não se considere forma perfeita, acabada. Sempre há o que aprender, melhorar. A cada vez que lemos um texto nosso, podemos dar um retoque, melhorá-lo. Seja humilde para acatar a avaliação do seu trabalho. Embora o que produzimos seja como um filho – nos sentimos muito orgulhosos, não vemos as falhas - a visão de outra pessoa ajuda a corrigir erros que talvez não percebemos e que podem comprometer um trabalho. Outra coisa fundamental é o cuidado com as palavras. Hoje o escritor dispõe de ferramentas no computador que o auxiliam na elaboração do texto, o que, de maneira nenhuma, substitui o domínio e o conhecimento da língua, mas auxiliam num melhor manejo dela.

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Gosto de ser avaliado por pessoas que leem e que de certa forma, tenham uma identificação com o que escrevo, sem vincular de maneira alguma a minha vida pessoal com os meus escritos, até quando escrevo na 1ª pessoa. Gosto do leitor capaz de distinguir o escritor da personagem, esse que se envolve na leitura e descobre coisas que até nós, ao escrevermos, não havíamos sequer imaginado.


Contato: rubomedina@oi.com.br