Neiva Teresinha Paludo Chemin
Pato Branco / PR

Marcas do que se foi...

Itatiba do Sul, uma cidade, no alto da montanha coberta de uma vegetação nativa.
Casas simples contornando as ruas com muitas curvas.
Céu azul... Sol radiante...
Uma casa modesta no final da rua, quase à beira de um precipício.
Assobio do vento...
Pássaros no ar, com seu canto a bailar.
Um lugar impressionante... onde quase as nuvens se consegue alcançar.
Cenário fantástico... mágico... e quase amedrontador.
Nos dias de sol, enxerga-se ao longe cidades que parecem miniaturas. E bem lá embaixo, entre o verde da mata, as águas do rio brilham parecendo espelhos.
Nesse aconchego, nasceu o terceiro filho de um casal sonhador. Era o dia primeiro de março de mil novecentos e cinquenta e um. O pai, carpinteiro.
Quarenta dias depois do nascimento do menino, os pais, mudaram-se do lugar, em busca de uma vida promissora.
Descidas... e subidas...
Nas estreitas estradinhas de chão, com um velho caminhão seguiram viagem.
Em uma balsa, atravessaram o enorme rio Uruguai.
Subiram a perigosa serra; o perau, ameaçador.
Com muito desconforto seguiram adiante.
Destino, São Lourenço D’Oeste, em um outro Estado. Poucas casas...
Vida bem sofrida... Trabalho e muito sacrifício...
O menino cresceu, sempre ajudando seus pais.
Dormiu embaixo da escada, no hotel que o pai construiu. E queimou os pezinhos no ferro forjado, na ferraria de um tio. A mãe e a irmã preparavam a comida para os hóspedes que de longínquas caminhadas, ali se abrigavam.
Ainda pequenino, com os pais foi morar em Cascavel.
Estudo aos filhos o pai procurava e por isso novamente a família mudou. Chegou a Pato Branco no início dos anos sessenta, e ali para sempre morou.
Das adversidades da vida, o pequeno fez aprendizados. Aos quatorze anos, emancipou-se para poder trabalhar.
Estudou... Formou-se Administrador. Foi professor universitário e doutor de empresas. Muitas ele salvou.
No limiar de sua existência trabalhou muito...
Aprendeu, ensinou. Subiu ao topo. Amor, respeito e honestidade foram exemplos que à família legou. Uma vida grandiosa!
Agora, sessenta anos depois, nesta tarde ensolarada, em cima dessa montanha, seu pensamento volta ao passado. Uma mansa saudade...
Sensação de completa satisfação ao ver o lugar onde nasceu envolve o coração do menino que na alma jamais envelheceu.
Absorto em seus pensamentos, revendo a terra natal, neste instante glorioso, como um filme em sua mente vêm as marcas do que passou.
Na trajetória da vida, em sua face muitas lágrimas rolaram.
O sentimento o envolve... Então, a Deus agradece por tudo o que conquistou. Sendo o seu maior orgulho, a família que criou, dois filhos e seis netos que, certamente, um dia, esta cidade ainda conhecerão.
Com toda emoção, com as marcas do que se foi, fica a interpretar as muitas chaves do enigma da vida que jamais imaginou vivenciar.