Valdirene de Assunção Pereira
Santa Maria / RS

 

 

Conversa com a Lua

                

 

Naquele dia, eu conversava com a Lua, delirava meus sonhos. Ela me ouvia, ficava emudecida, com tanta informação que eu passava a ela.
A Lua é uma amiga, leal, ela escuta tudo com muita atenção, sabe ouvir.
Como é bom ter amigos que sabem ouvir. Falamos sobre muitas coisas, divagamos, falamos sobre o Sol, as estrelas, as nuvens, a chuva e o vento. Contei que escondo sentimentos, nas nuvens e que as nuvens me compreendem, formam no céu, um pouco de minha alma.
As nuvens também me entendem, sabem ser boas amigas.
Falamos sobre o Sol, que sempre me ilumina, até nas noites escuras, quando tenho medo do ser humano, de suas ações e palavras. O ser humano não sabe perdoar, mas ele sempre quer ser perdoado, falamos horas sobre este assunto.
A Lua pensa como eu, que o perdão é algo que cura, é remédio para a alma, quem não perdoa, não consegue chegar à cura. A mente e o espírito necessitam desta cura para dar fim ao ressentimento tóxico contra outra pessoa ou contra si mesmo. E continuamos por muito tempo trocando ideias, sobre o ser humano, de quanto os seres humanos não sabem falar, eles falam muito, falam tudo que vem na mente, não filtram nada, não se policiam. Vão magoando as pessoas, por conta de sua franqueza, conversam coisas que não dizem respeito a sua vida, palpitam em casos que não são seus, sem nunca terem vivido aquela situação, sem terem histórico de experiencia no fato. Falam mal das pessoas e sentam-se a mesa com elas para festejar.
Conversamos a respeito das estrelas, que cada uma representa uma esperança, que tenho no dia de amanhã. As estrelas conseguem transcenderem-se, embora muitas sejam incompreendidas. O ser humano é estranho, ele gosta do brilho, mas nunca gosta de alguém que brilhe mais do que ele. Do brilho da alma, foi nisso, que eu e a Lua, falamos.
Contei para a Lua, que é nos dias de chuva, que liberto minha alma. Choro toda a mágoa que  possa estar guardada em meu coração. Liberto os sentimentos ruins que poderiam me envenenar, vejo as mágoas escorrendo, indo embora. Minha alma festeja, após um tempo chuvoso.
Vejo muita liberdade em um dia de chuva. A minha alma agradece depois de um dia de chuva.
O vento batia em meu rosto, um vento suave e fresco, uma leve brisa. Confidenciei para a Lua que já vivi muito vendaval, mas que preferia sentir a brisa suave do vento, que a brisa suave, me parecia uma mãe que afaga, dá um colo a seu filho, entende suas aflições, comemora suas conquistas, e ora por sua vida e sucesso. Do vendaval, falei pouco, minha voz se calou, a chuva escorreu de meus olhos, contei das noites sem dormir, dos dias nublados, antes da chuva.
Ela me abraçou forte, me encorajou, fez gesto de quem me entendia, secou a
chuva dos meus olhos, beijou minha face e compreendi que tudo iria ficar bem. Somente neste momento a Lua sorriu.
A Lua sabe escutar com amor, sem nunca julgar. Sentia ternura em seu olhar, enquanto ela me ouvia. Ela sorria para mim.
Ficamos tanto tempo conversando, eu e a Lua, que nem sentimos a hora passar, parecia que fazia alguns segundos que conversávamos. O tempo voou. Já estava chegando o momento da Lua dar o seu grandioso espetáculo e brilhar naquela linda noite de lua cheia. Cheia de vida, cheia de amor, cheia de esperança, cheia de perdão e muita gratidão, por ser amiga da Lua.
Ah, como é bom contar as coisas da minha da vida, para a Lua.

 

 

 

 
 
Publicado no Livro "É tão verdade que ninguém duvida..." - Edição 2019 - Junho de 2019