Rozelene Furtado de Lima
Teresópolis / RJ

 

 

A árvore do dinheiro

                

 

   As crianças estavam reunidas na sala à mesa de jantar fazendo as lições de casa, quando meu pai entrou e anunciou: - Acabei de plantar seis árvores de dinheiro. O quê? Uma árvore de dinheiro! Como é isto meu pai? Explica melhor.  Nós ainda éramos oito filhos, digo ainda porque a turma chegaria ao número de onze.
          Todos ficaram com olhinhos espantados com aquela revelação. E em cada cabecinha foi criada a imagem de uma árvore carregadinha de dinheiro. Naquele momento paramos de fazer a lição de casa para discutirmos como seria uma árvore cheia de dinheiro. E cada um tinha uma dúvida para perguntar.
        Meu pai sentou-se à cabeceira da mesa e falou: - continuem a fazer as lições e em outro dia eu respondo a vocês. O irmão mais velho com dez anos de idade arriscou: - a árvore vai ficar na chuva e o dinheiro vai ficar todo molhadinho, então vai estragar. Vamos aguardar, pois vai demorar uns meses para ela ficar bem carregada de dinheiro. Respondeu meu pai e em seguida saiu da sala.
       Era proibido para nós tomar refrigerantes. E a minha irmã e eu amávamos tomar escondido uma Coca-Cola geladinha. Resolvemos montar um plano para nosso pai dar um dinheiro para nós, mas ele não podia saber que era para comprar refrigerante. Combinamos que eu iria chorando e ela segurando a minha mão para conseguir o dinheiro. Não era nenhum pecado nem desobediência já que ele tinha seis árvores de dinheiro e dar duas moedas para nós não faria falta para ele e nós ficaríamos felizes demais. Ensaiamos o teatrinho e quando chegamos perto dele a minha irmã fala: - Meu pai a Sara está com muita dor de cabeça. Eu chorava com as mãos na cabeça. E ela continua: - lá em casa não tem nada para dor de cabeça, o senhor poderia dar dinheiro e eu vou comprar o remédio para ela. Ele perguntou: - Está doendo muito mesmo? Muito meu pai estou até um pouco tonta, respondi. Quando ele enfiou a mão no bolso, Lúcia apertou minha mão num gesto de “deu certo”. Minha irmã esticou a mãozinha e ele colocou na mão dela um comprimido de cibalena. Vão para casa, tome o comprimido com água e deita, mais tarde vou ver se passou a dor de cabeça. Saímos as duas olhando para o chão. Meu pai nunca gostou de remédio, como poderia ele ter um comprimido no bolso. Que decepção! Lá se foi nosso gostoso refrigerante. Partimos o comprimido em quatro partes. Eu tomei uma parte, ela outra. As duas que sobraram pusemos dentro de pedacinhos de pão e demos para os cachorros.
        A vida gosta de fazer surpresas e quanto maior a surpresa maior o aprendizado.
       Construímos tantos sonhos por causa das seis árvores de dinheiro. Eu fiz um desenho da árvore e pendurei muitas bolsinhas e imaginei que elas estavam cheias de dinheiro.
      O tempo passou correndo e chegou o dia tão esperado do meu pai levar a turma para conhecer as árvores do dinheiro.
       Nós morávamos num sítio muito grande e tinha cantos que a gente não ia porque tinha muito mato. E foi num desses cantos que ele preparou a terra e plantou as mudas de dinheiro que já estavam bem grandes. 
       Quando chegamos tinha seis árvores carregadinhas de caquis. Ficamos totalmente desapontados. Cadê o dinheiro meu pai? – Vamos pegar as cestas, colher os caquis e colocar as cestas do lado de fora do portão. Apontou para um de nós dizendo: - Você que tem uma letra bem bonita vai escrever: Dúzia - 5 cruzeiros. Vamos fazer isto todos os dias até os caquis acabarem. E sempre dois de vocês ficarão para fazer a venda das frutas e então vão ver o dinheiro. A vizinhança passava e comprava as frutas.
       Foi uma grande aula de educação financeira.
       Ele plantou abacateiros, jabuticabeiras, bananeiras, pereiras, goiabeiras, laranjeiras e muito mais árvores de dinheiro. Os ciclos das frutíferas eram alternados e tinha dinheiro o ano inteiro.


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Publicado no Livro "É tão verdade que ninguém duvida..." - Edição 2019 - Junho de 2019