Teresa Cristina C. de Sousa
Piracuruca / PI

 

 

Casa da vovó




A sala da casa era pequena com um cheiro de cajus que vinha pela janela. Era um cheirinho bom que a gente sentia quando o vento da manhã de setembro percorria todo o quintal e passava da varanda para a casa. Minha avó fazia cara séria, tentando varrer o chão, prendendo o cisco debaixo da vassoura de palha. Quem dera, ela pudesse fazer isso direito! – o vento não deixava.
Depois ela se acomodava numa rede na cozinha como se fosse bem velha. Então, abria um largo sorriso desenhando covinhas em seu rosto arredondado.
— Menina, dê-me um pouquinho de café, bem pouco mesmo. Quero apenas espertar para fazer o almoço. — eu me enchia de felicidade nos olhos como um bichinho que foi acariciado com doces palavras.
O som dos passarinhos, para lá e para cá nas árvores, trazia o sabor da zona rural.
— Ora, vovó, a senhora adora os dias de domingo! É o dia em que meu padrinho vem pro sossego dele.
­— Isso mesmo! — e minha avó ia para a frente do fogão a lenha com aquela ladainha de que bom era ter galinha caipira no terreiro para fazer o cozido pro filho.
A casa de minha avó parecia um pedaço do céu, com sua varanda larga, dando boas-vindas ao vento. Havia redes por todo lado, que precisava as visitas se abaixaram para passar por elas. E havia pés de mamões bem maduros...
— Papai, papai! Ai, um mamão caiu na minha cabeça! — a voz de meu primo com seu dengo de menino da cidade ecoou pela manhã.
Meu padrinho correu com o celular na mão. — Pedro, você foi tirar mamão com uma vara. Devia ter usado a escada que está embaixo da caixa-d’água!
— Tentei chamar Aninha, mas ela não veio me ajudar...
As minhas manhãs eram lotadas de afazeres quando eles vinham... Também não podia deixar vovó sozinha na cozinha, mesmo que ela não reclamasse do serviço. Sei que era uma satisfação para ela cozinhar para a família...  
Meu padrinho piscou o olho para mim, como quem quer se desculpar pelas palavras do filho.  Depois, deu uma boa distância do menino e riu divertido de como este havia gritado com medo de se machucar com um mamão. Aqui me lembrei de que o mamão podia ter caído na cabeça dele machucado-o. Mas ri também gostosamente.
Vou contar é que tive de sair correndo com medo de Pedro me dar um beliscão, já que ele era mais velho que eu... Meninos têm mais força.
Depois do almoço, lá pela tarde, curicas passaram voando... Se eu pensar bem, elas passavam esvoaçando e cantando pela manhã e à tarde, todos os dias...
— Olhem minhas curicas — minha avó dizia a quem estava por perto.
Têm dias que as lembranças se tornam mais fortes, que ainda sei exatamente do caminho de terra batida que leva para lá... E guardo no coração as palavras de vovó Inês, mesmo hoje que faz quinze anos de sua partida, quando eu ia para a escola:
— Que Deus te abençoe, minha neta!

 



 




Conto publicado no livro "Fato ou ficção?" - Contos selecionados
Edição Especial - Setembro de 2020

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