Helio Sena
Massapê / CE
Conto desinventado do Velho Machado
Preciso, com urgência, de uma cartomante... Sabes, por acaso, onde posso encontrar uma? É que desconfio que Conceição, minha espoa, está me passando a perna... O rapazito tem só dezoito, dezenove anos; está na flor da idade!
Quem é ele? Adivinhe! Meu vizinho, filho do finado Brás Cubas, que o diabo o tenha. E irmão de Capitu, que é outra que não me engana, com aqueles olhos de mar ressacado...
Família desmiolada, essa aí, viu! Um dia desses, sabe o que aprontaram? Os dois, Quincas Borba e Capitu, e mais a mãe, aquela velha interesseira, a tal de Marcela? Nem te conto!
Chamaram o Bento e o Escobar, aqueles dois meninos de rua que sempre estão por aí, deram comida para eles e, à socapa, ligaram para o Doutor Simão Bacamarte, aquele que dizem ser médico de doido e parece ser mais doido que os próprios doidos...
Por que fizeram isso? Vá lá saber! Só sei que os meninos não são bobos nem nada e deram no pé, assim que o carro branco riscou...
Filhos da égua! Não, não os meninos, mas os três lá. Os dois e a velha interesseira. Quem sabe ela não queria era vender os pivetes, ganhar uma grana em cima deles? Não duvido nada! Capaz até que esse Simão Bacamarte seja um traficante de crianças, ou de órgãos... Pode ser. Cada coisa nessa cidade!
Bom, o certo é que esse pessoal todo está me dando nos nervos, é isso! Uma cartomante bem que poderia me esclarecer umas coisas que têm martelado a minha cachola. E não estou falando só da minha esposa e Quincas Borba, não...
Pois pronto: preciso de uma, com urgência. Uma cartomante! Sabes onde posso encontrar uma? Sabes? Se souber, me diga, por favor. Ajude a este pobre e velho Machado, vá!
Senão, é capaz que eu morra de um ataque de apoplexia, ou então de febre tifoide... e aí virá o primeiro verme, o segundo, e outros tantos, até que eu me transforme numa saudosa lembrança, um epitáfio... Ou não?
Regulamentos