Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA

 

 

Entre-lá, entre-cá

 


Tem dias que a gente não consegue ler nada
Ver nada, definir nada, crer em nada...
Somos tocados por um sintoma que nos abandona a si mesmo
Num frenético som abandonado por sua sombra,
Letra não escrita, deixada num deserto árido lugar.
Traço de algo que se perdeu e que não se acha
Pois desapareceu, num tão de repente repentinamente
Mas está presente de certa forma numa desconstruída entre-forma.
Soltamos uma lágrima indiscreta, solteira, individualista!
Indigna lágrima que tenta sair de dentro, mas não consegue.
Ela foi feita para manter de pé a longa e curta estrada da vida!
Sem olhar para trás e olhando distraidamente…
No sofrido retorno de querer que o tempo nos devolva
O que no presente fora excluído...
Segue a vida! Segue o tempo!
Seguem os corpos em seus movimentos
Nesta vida tão feita de interrompidos caminhos
Que nos levam para lá e para cá!
Para lá aonde moram os seres invisíveis
Para cá, onde estamos ainda vivos,
Sobreviventes deste estranho "cá", sem "capsula", sem útero!
Lugar de passagem! Anti-lugar! Escorregadio e sombrio!
Lugar que só pela poesia ele se mostra:
Tão certo, tão completo! tão concreto!
E tão estranho e incompleto ao mesmo tempo!
Eis a vida humana!
De lá, e de cá!
Estamos num entre-lugar
Entre-lá e entre-cá!

 


 




Poema publicado no livro "Grandes Poetas Brasileiros"
Edição 2021 - Agosto de 2021

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