Literatura
de Cordel |
J. Borges
Cordel e xilogravura de Bezerros para o mundo Thelma
Regina Siqueira Linhares
Nasceu José Francisco Borges em 20 de dezembro de 1935, no Sítio Piroca, em Bezerros, cidade do Agreste pernambucano, distante da cidade do Recife, cerca de 110 km. Pouco estudo e muito trabalho, desde cedo. Fez de quase tudo na infância e adolescência: trabalhou na agricultura, foi marceneiro, mascate, pintor de parede e oleiro. Aos 20 anos tornou-se vendedor de folhetos nas feiras-livres do interior. E, somente com 29 anos publicou o seu primeiro cordel, O Encontro de dois Vaqueiros no Sertão de Petrolina, com ilustração de mestre Dila, de Caruaru/PE. Um sucesso! Em dois meses vendeu cinco mil exemplares. Mas a sua principal arte, a xilogravura, foi descoberta por acaso e necessidade. Sem dinheiro para comprar os clichês (chapas de zinco que serviam de base para a confecção das capas dos cordéis) pegou um pedaço de imburana e talhou uma igrejinha, que ilustrou o seu segundo folheto: O Verdadeiro Aviso de Frei Damião. Nascia, então, o mais completo xilógrafo popular do Brasil. Em seu ateliê e gráfica, às margens da BR-232, à entrada da cidade de Bezerros e próximo ao Centro de Artesanato do Agreste, J. Borges, cria, produz, expõe e comercializa sua obra. Já escreveu mais de 200 folhetos e ilustrou igual número de xilogravuras. Tem trabalhos expostos nos quatro cantos da Terra. Sua obra é tema de estudos acadêmicos, no Brasil e no exterior, desde a década de 1970. Ele, inclusive, já ministrou cursos no exterior e já participou de turnês de exposição na Europa e América. Recebeu prêmios nacionais e internacionais. Graças a sua inquietação criativa, inovou a arte da xilogravura, colorindo as gravuras, com uma técnica que elaborou. Faz uso, também, de materiais inusitados para a xilogravura tradicional como azulejos e tecidos. Os temas recorrentes em sua obra vão do cotidiano do pobre às histórias do cangaço, da religiosidade popular (castigos do céu, mistérios, milagres) aos crimes e corrupções. Tanto reporta seu tempo quanto viaja no universo do imaginário popular e coletivo. Presente em várias feiras e eventos de artesanato e cultura popular. A
CHEGADA DA PROSTITUTA NO CÉU (*)
(página
1) Sabemos
que a prostituta Vive
metida em orgia (página
2) Falar
sobre prostituta Perante
a sociedade Ela
vive aqui na terra (página
3) Assim
que foi enterrada Saiu
correndo atrás dela Mas
na carreira que iam (página
4) Essa
mulher que morreu Furou
a mulher na perna Nessa
zuada São Pedro (página
5) Mas
atrás dela já vinha São
Pedro lhe respondeu Disse:
vocês lá na terra (página
6) E com
três dias depois Depois
disso a prostituta Uma
noite de São João (página
7) Disse
ele: hoje mesmo Ele
foi disse a Jesus Na
terra não teve apoio (página
8) Ele
ficou cabisbaixo Aí
ficou sem efeito Aqui
termino o livrinho (Cordel de maior sucesso de J. Borges. Já vendeu mais de 100 mil exemplares e foi a gravura que deu origem ao cordel porque todos queriam saber a história da gravura... Década de 80.) No ano de 2006, J. Borges foi o responsável pela decoração de um dos shoppings do Recife. O Paço Alfândega, no bairro do Recife Antigo, cujo tema, o céu estrelado, trazia gigantescas figuras das seis xilogravuras especialmente criadas para o evento, nas versões preto e branco e colorida. No espaço central, um personalíssimo presépio, onde Reis Magos ornavam suas cabeças com chapéus de couro e a árvore de Natal, entre cactos. Da cúpula central desciam estrelas de um lindo céu idealizado por J. Borges. Completando, um folheto sobre o Natal e uma brevíssima biografia do homenageado. Sensibilidade e bom gosto, certamente. Num ambiente sofisticado e que dá espaço para a arte, dita popular, a pluralidade e riqueza cultural do Brasil só realçam.
|