Neri França Fornari Bocchese
Pato Branco / PR

 

A casa na árvore

 

       

As crianças estavam ansiosas por novidades. Nada servia, estavam impacientes, nada as entretia.
Quando então o Nonno teve a idéia audaciosa, de construir um jirau em cima do cinamomo, a árvore frondosa da propriedade. Só que não podiam usar pregos na árvore. É preciso cuidar da vida, do Meio Ambiente.
- Ela é uma árvore, é um ser vivo.  Disse a Victoria.
A Profe.falou que ela também sente dor. Disse com sabedoria o Gustavo.
Pensaram, pensaram. O Gabriel teve uma idéia sensacional.
- Vamos amarrar. Eu já li uma história assim, quando uns meninos construíram a sua cabana.
Foram atrás das tábuas, da soga, também um barbante, um pouco mais grosso que o convencional. Um serrote. Encostaram uma escada, começaram o trabalho. Foi uma semana de atividades. Todos trabalhando com muito afinco. Nem houve discussão. A casa ficou uma graça. Com duas janelas, a porta de entrada. Uma areazinha, para ao subirem, chegar e, assim entrarem com mais segurança. Até um posto de observação foi montado no galho mais alto. 
Os nós, aqueles que os escoteiros sabem fazer, foram os usados, para dar segurança. O assoalho colocado, a proteção envolta foi um pouco mais difícil, deu mais trabalho. Foi preciso pregá-las numa ripa, depois amarrar essa, com bastante segurança envolta da casinha. Para a parte mais alta, foi usada uma escada, já pronta, apenas foi ela encaixada na árvore. Para subir na árvore uma escada de soga que nem a dos marinheiros. Afinal as crianças são tataranetos de um deles.
A Victoria sempre cuidadosa lembrou:
- Aqui não vai dar para crianças pequenas subirem. É perigoso. E, lá no ponto de olhar, nem falar, não é muito grande, o espaço disponível.
Trabalho realizado. Feito a pintura. Os adultos subiram primeiro para sentirem se estava tudo dentro do conforme. A sensação era a escada de soga subir com ela balançando, mas logo se acostumaram.
No sábado seguinte, acordaram muito cedo, eufóricas, falavam todas ao mesmo tempo. Uma a uma subiram a escada. Os olhos brilhavam. Ficar em cima de uma árvore, foi sentir a volta ao passado da humanidade.  Elas já sabiam que nos primórdios da Vida o homem viveu por um bom tempo nas árvores. Até criarem coragem e descerem para o chão. Foi assim que aprenderam a andar eretos.  
Rezaram um Pai Nosso e ao Anjo da Guarda pedindo proteção, entoaram juntas, o Santo Anjo.
O Gustavo ficou encantado. Pensaram até em amarrar uns porongos, que a Tia Vania tinha, para servirem de ninho pros passarinhos.
Na hora do almoço, ninguém queria descer.
Então como sempre a Nonna, resolveu a situação. Foi improvisada uma mesa, levado os banquinhos para o alto, almoçaram ao ar livre. Ainda por cima no alto de uma árvore. As formiguinhas curiosas passearam pelos detalhes, apreciaram a novidade.  As pombinhas, dóceis como sempre pousavam no parapeito de proteção. Um tucano curioso veio ver de perto, o que era aquela construção. Até um Bem-te-vi,  anunciou a nova moradia.
No posto de observação, com um binóculo, enxergavam longe. Com lente de aumento viram insetos pequeninos, as folhas ficaram bem maiores, dava até para enxergar os vínculos. O Gabriel e a Giovanna observaram as nuvens com o seu ir e vir, em toda a sua majestade. Os desenhos que elas formavam davam asas à imaginação infantil.
De repente a Giovanna disse:
- Vejam, lá longe, naquela trilha, um cachorro andando bem devagar. Ele parece machucado. A pata da frente está sangrando. Todos quiseram ver o animal.
- Que peninha. . . Quem vai cuidar dele?
Desceram rápido da casa aérea, foram atrás do Nonno. Convenceram-no a ir buscar o animalzinho.  Com dificuldade ele, conseguiu subir a escada de madeira, com o binóculo,  identificou o local onde estava o cachorro com sua  pata ferida.
Pegou o carro, com os quatro amores, netos queridos, foram eles todos, fazerem o salvamento. Conversavam todos ao mesmo tempo.
- Será que ele tem dono??
- Será que é manso?/
Depois de algumas voltas encontraram o animalzinho ferido.
O Nonno disse:
- Me deixem descer por primeiro e ver se ele não está brabo? Parece estar sentindo dor.
O cãozinho não ofereceu resistência alguma. Até abanou o rabo, como se pedisse socorro.
Como era mansinho, com ordem do Nonno desceram os quatro, mais o amiguinho, um vizinho que também veio para aventura.
A patinha estava ferida, sangrando como se tivesse sido mordida. A cara do cachorro, também tinha uns arranhões. Estava faminto e com sede. Como tinham trazido uma garrafinha de água improvisaram uma vasilha e ele bebeu toda a água. Tinha também as gengivas sangrando.
- Ainda bem que não tem nem um dente quebrado.
A Gi andou um pouco e achou um preá morto. Os dois devem ter lutado. E, logo ali perto, perceberam dois filhotinhos que se esconderam nas macegas.
As crianças com imaginação, concluíram:
- Ele deve ter farejado os filhotinhos, com certeza a mamãe Preá o atacou. Mordeu com vontade a sua pata. O cãozinho valente e, metido também, acabou para tentar se defender, matar a mamãe dos preazinhos.
E, agora?? Não podemos deixar os filhotinhos aqui sozinhos, eles vão morrer de fome . . .
- Ainda bem que viemos com a camionete disse o Nonno. Vou colocar o cachorro na carroceria, vamos até aquela curva. Vocês, fiquem bem quietinhos, eu vou tentar pegar os filhotinhos.
Com os animaizinhos nas mãos o Nonno voltou. Os dois maiores tinham trazido uma toalha. Os bichinhos tinham voltado para mãe Preá que estava morta, queriam mamar. Então,o Gabriel jogou a toalha e consegui pegá-los.
Fizeram uma trouxinha, voltaram para casa com um cachorro e dois preás tão pequenininhos, pareciam serem uns ratinhos.
Cuidaram dos ferimentos do Perigoso, agora batizado com esse nome. Numa gaiola, com água, comida e muito carinho, criaram os dois preás.
Lá no alto da árvore, agora havia muita história, para ser contada, para ser partilhada e ser lembrada para sempre.
O Perigoso se tornou guardião, aprendeu até subir as escadas. Como estava bem alimentado também entendeu que não devia atacar os animaizinhos que depois de crescidos ficaram morando no pomar, por um bom tempo.
As crianças dizem sempre:
- Se não fosse o Posto de Observação, nós não tínhamos trazido esses bichinhos, que agora são nossos amigos.
Que coisa boa que o Nonno resolveu fazer para nós, a Casa na Árvore.
- Ela é agora a Árvore da Vida, o nosso Paraíso! Concluíram felizes.
As crianças precisam viver a infância com toda a motivação para que quando adultos tenham histórias para contar e, momentos agradáveis convividos com carrinho. A presença e ajuda dos adultos fazem a vida se tornar mais bela. Um tempo que não  volta mais.

 

 

 

 

 
 
Publicado no Livro "O Jogo da Vida" - Edição 2018 - Outubro de 2018