Isabel Cristina Silva Vargas
Pelotas / RS

 

A vida além da janela

 

Quando Bebete conheceu seu marido, antes dos vinte anos, costumava ir com ele e seus familiares a um sítio na zona rural que foi adquirido na ocasião. Era um lugar de imensa tranquilidade e diversão. Anos mais tarde seus filhos também desfrutaram daquela beleza.
Quando abria a janela da casa o que se descortinava à sua frente eram flores e árvores. O aroma inebriante das flores adentrava os sentidos. Camélias rosadas, jasmim miúdo com um cheirinho suave, mais à frente o jasmim normal, maior, com aroma mais forte. Vasos com diversas flores ornavam a frente da casa onde sentavam e passavam a tarde conversando e comendo frutas que lá nasciam.
A árvore de nozes era a que mais disputada entre goiaba, figo, maça, laranja, bergamota, tangerina, ameixa de mais de uma qualidade e uma infinidade de outras frutas. Havia um cavalo com o qual faziam brincadeiras, cães, galinhas, leitão.
Da janela, além da cancela, ficavam os trilhos do trem que fazia aquele trajeto regularmente. Uma festa ver imensos comboios. Mais de cinquenta vagões, carregados com lenha, animais, gasolina e toda uma gama de mercadorias que faziam a linha férrea funcionar bastante.
Era um mundo encantado, que se vislumbrava quando abriam as vidraças e os olhos, divisando as coisas daquele cotidiano rural que transmitia muita singeleza, mas também o que é de real valor, a vida, os momentos em família, em comunhão com a natureza, fazendo armazenar na memória belos momentos que se tornaram doces recordações mesmo tendo decorrido muitos anos.

 

 

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Painel de Contos Premiados" - Outubro de 2017