Gilmar Pereira Lima
Cândido Sales / BA

 

 

A reconquista

Aliás, naquele dia nem consegui atinar de onde ela conseguiu tanta coragem para chegar àquele ponto. Ir conversar comigo depois de tudo que passamos. E, ao nos encontramos, meu peito começou a arfar fortemente. Não me contive:
— Como vai?
— Vou bem. E você?
O tom sério de suas palavras me fez estremecer por alguns segundos. Mas, logo me recompondo sem que ela percebesse nervosismo, respondi:
— Estou tentando melhorar.
— Pensei que estivesse bem.
— E estou. Só que eu estou tentando esquecer que um dia te conheci — disse-lhe cabisbaixo.
— Ora, e por quê? O que fiz foi tão ruim assim para você?
— Para ser sincero: foi.  Jamais poderia esperar isso de uma senhora tão notável. Advogada. Mulher que conhece muito bem as leis. Teus cursos de mestrado e doutorado servem para quê? Para me fazerem sofrer?
— João, você não entende.
— Entendo sim. Só você que não parece entender. E, mais, este lugar é impróprio.
Depois disso, ela ficou pensativa. Então sugeriu:
— Peço-te mil desculpas e o teu perdão! Toparia tudo de novo?
— Topar o quê?
— Refazer nossos, ou melhor, reformular nossos planos.
— Que planos, doutora?
— Ora, que planos!? Os que não foram colocados em prática, lembra?
— A doutora está louca?
— É a única alternativa.
— Tem certeza que não há nenhuma alternativa melhor?
— Tenho.
Fiquei pensativo também por alguns instantes. E menos tenso, menos tímido, observei no fundo dos olhos dela.
— Aceito suas desculpas e lhe perdoo. Um acordo amigável é sempre bom para ambas as partes. Aceito trabalhar novamente com a senhora; afinal como advogados que somos, reformulemos nossos planos de trabalho.


 
 
Poema publicado no livro "Painel de Contos Premiados" - Outubro de 2017