Otaviano Maciel de Alencar Filho
Fortaleza / CE

 

 

O vendedor de sonhos

      

A carrocinha de lanches descia a rua quando, de longe, foi avistada por um pequeno guri aparentando ter uns oito anos de idade que, sentado na calçada em frente a sua casa já a aguardava ansiosamente. Não esperou que ela chegasse até onde ele estava e imediatamente correu até o vendedor. O garoto, que já levava algumas moedas, foi logo inquerindo:
- O senhor tem bolo de batata?
O vendedor era um senhor já idoso marcado pelas rugas que o tempo não tardou em lhe perdoar. Em sua mansidão característica, retrucou:
- Não, meu bom menino, hoje não trago bolos. Trago algo muito especial: sonhos recheados com doce de leite. – Respondeu o ancião.
O pequeno não entendendo o que o velho dizia, pois não conhecia esta guloseima, tornou a perguntar-lhe:
- O senhor tem bolo fofo? – Insistiu.
O homem percebeu que o garotinho não tinha escutado sua resposta e aparentava não saber o que era um sonho, então disse:
- Não, meu filho, não estou vendendo bolo de nenhuma qualidade. Estou vendendo apenas sonhos e lhe digo que são muito saborosos. Tomando um em suas mãos mostrou-o ao garoto, que ficou perplexo quando viu aquele pãozinho recheado de doce de leite e coberto de açúcar branquinho como a neve.
- Ah, então o nome disso é sonho? – Perguntou.
- Sim, você nunca provou de um sonho? - Interrogou o vendedor ao menino que não tirava os olhos da carrocinha lotada de sonhos. Talvez, sonhando em saboreá-los!
- Não, senhor. Pensei que sonho era aquilo que a gente tem quando deita dorme e fica vendo coisas passarem na nossa cabeça. – Disse o moleque em sua simplicidade!
 O senhor coçou a cabeça e, balançando-a, deu leve sorriso admirando a ingenuidade do pequenino. Observando que as moedas que ele portava não eram suficientes para comprar o doce, asseverou:
- Sei que você está “doidinho” para provar do sonho, mas seu dinheiro não dá para comprá-lo, então vou fazer o seguinte com você: Vou dá-lo de presente, guarde suas moedas e junte com mais outras para que quando eu passar outro dia com os bolos você possa usá-las, tudo bem?
- O senhor está dizendo que vai me dar de graça este sonho? Inqueriu o pivete, saltitante de alegria.
- Claro, é todo seu. Sonho que é sonho não se vende, não é mesmo? –Respondeu, jubilosamente.
O vendedor então embrulhou o sonho e entregou ao menino, e abaixando-se e tocando em seus pequeninos ombros, falou-lhe, olhando nos olhinhos redondos e amendoados, antes que ele retornasse à sua casa, o seguinte:
- Hoje é o dia de meu aniversário, então resolvi vender sonhos, porque além se serem saborosos seus nomes simbolizam o que há de melhor no ser humano, que é a capacidade de acreditar que um dia nossos sonhos possam se tornar realidade, mesmo diante as adversidades que a vida nos contempla. Já tive muitos sonhos, alguns se realizaram outros nem tanto, contudo não perdi as esperanças de que a qualquer momento eles possam se tornar realidade. Para falar a verdade, ainda tenho sonhos! Espero que seja um eterno sonhador, mas antes de tudo, que seja, no futuro que o aguarda, um homem de bem e que trabalhe muito para que seus sonhos se tornem realidade. Esse é o meu sincero desejo. – Sentenciou.
Estava tão absorto em seus pensamentos que sequer se deu conta de que o menino não estava entendendo nada do que ele estava falando. Quando percebeu que o pequeno fitava-lhe os olhos, sem saber o que falar, encerrou a conversa, dispensando-o.
O menino saiu alegre e saltitante, saboreando o sonho, enquanto o vendedor de guloseimas continuava o seu trajeto, na labuta diária e levando consigo seus sonhos.

 

 
 
Poema publicado no livro "Livro de Ouro do Conto Brasileiro Contemporâneo" - Agosto de 2017