Helena Maria S. Matos Ferreira
Guapimirim / RJ

 

 

Um príncipe?

      

           

Lalinha era uma garota cheia de manias e de porquês e para quês. Não entendia porque tinha de acompanhar a tia Mariquinha quando ela ia encontrar-se com o namorado. Por quê? Para quê? Era abominável vê-los rindo de tudo e por nada. Lalinha sentava-se ao lado da tia e ficava emburrada, chupando as balas que o pobre lhe trazia para agradá-la. Amassava os papeis, fazia bolinhas e atirava-as na lixeira que havia na praça onde o casal se encontrava.
Naquela época, os rapazes usavam terno, gravata e sapato social. O que mais aborrecia Lalinha era a chegada do tal namorado. Qual era o nome? Para quê saber? Não lhe interessava. Só sabia que ele descia do ônibus bastante suado, com jeito de cansado e com os sapatos desamarrados. Por que o rapaz não amarrava os cadarços antes de saltar da condução? A gravata nem parava mais no lugar. E o pobrezinho contava as penúrias da viagem e convidava a tia Mariquinha e Lalinha para tomarem uma água. Por que água? Não poderia ser um guaraná? Pois é, para que viajar tanto? Será que não havia uma namorada que lhe agradasse próxima da sua casa?
Lalinha, antipatizada com o rapaz, resolveu não mais acompanhar a tia Mariquinha. A avó da menina então resolveu aquestão: “se Lalinha não vai, Mariquinha também não vai.”
Mariquinha chorou, pediu para a sobrinha acompanhá-la e nada. A garota ficou irredutível. Então um telefonema no único posto telefônico da cidade resolveu aquele impasse: o romance terminou.
Também, quem manda ele descer do ônibus com os sapatos desamarrados?
Ele era um príncipe ou era um sapo?

 

 
 
Poema publicado no livro "Livro de Ouro do Conto Brasileiro Contemporâneo" - Agosto de 2017