Anchieta Alves de Santana
Uruçuí / PI

Um beijo na oligarquia

           Naquela manhã tropical de setembro, mais uma aula de História estava programada para acontecer na sala 7, da Unidade Escolar Cícero Coelho. Era um dia de apresentação de Seminários sobre os aspectos político-administrativos de Urussuhy. Isto a partir de uma pesquisa que vinha sendo orientada pela professora Maria dos Anjos Gomes Lima, desde o último mês de junho daquele ano letivo. Os alunos, num total de 23, que cursavam o 1º Ano do Ensino Médio, foram motivados a conhecerem a engenharia política do seu município. Para tanto, foram a campo, colheram informações e fotografias, tabularam dados, organizaram o ambiente, redigiram o roteiro de apresentação, preparam slides e definiram a relatora do evento.
          Como fruto da pesquisa de campo, era possível perceber ali, adornando a sala de aula, diversas fotografias de políticos que gestaram o município desde os primórdios. Dentre estas imagens, devidamente identificas com nomes, linhagem familiar e período de gestão, via-se: Erotides Lima, Manuel Leal, Cícero Rodrigues Coelho, Leodegário Mousinho, Rogério Carvalho, Ribamar Coelho, José Cavalcante e Maria do Espírito Santo.
          Para o ato de apresentação, representantes de outras turmas e docentes foram convidados. E ali, espremidos numa sala, estavam alunos, professores e gestores da escola. A relatora apresentava nítidos sinais de nervosismo.
          Após uma pequena explanação da professora Maria dos Anjos, a relatora o evento, Didi Fonseca, iniciou a apresentação dos resultados. Falou de como tinha acontecido a pesquisa, quais os participantes, quem foram os entrevistados, onde e quando. Citou, também, as dificuldades para ter acesso às fontes documentais. E ainda, que o livro, “Uruçuí, Sua História, Sua Gente”, publicado pelo professor José Patrício Franco, foi base fundamental para o desenvolvimento do trabalho.      
         Sobre os gestores municipais, Didi Fonseca, assim se expressou:
Fundado em 23 de junho de 1902, através da Lei nº 290, da Assembleia Legislativa Estadual, mas instalado apenas em 7 de setembro desse mesmo ano, o município de  Urussuhy, no período que vai desde sua instalação até 2020,  foi gestado apenas pelos sobrenomes: CARVALHO, LIMA/LEITE e COELHO/LEAL. Logo no dia da instalação do município, numa cerimônia acontecida na residência do Major Raimundo Theófilo Santos, foi indicado como primeiro Intendente(Prefeito), Rogério José de Carvalho. Até então, ele não tinha a patente de Coronel. Ficou no poder por quatorze anos ininterruptos. Só deixou a função quando o grupo que ele apoiava perdeu o poder no Estado. Em 1917, um novo grupo político, com apoio de Erotides Lima e a família Leite, assume o poder, elegendo Thomas William Pearce. No mandato seguinte, a partir de 1921, é Erotides Lima quem passa a ser gestor municipal. Fica no poder até 1928. Erotides volta ao poder em 1930, indicado como Interventor. No mandato que se inicia em 1929, Manuel Mendes Leal assume a gestão.  No período de intervenção, que vai de outubro de 1930 a novembro de 1947, acontece uma grande rotatividade no poder, na seguinte ordem: Erotides Rosa Lima(1930), Pedro Paulo da Silva(1931), Raimundo Borges de Oliveira(1931), Artur Leodegário Mousinho(1930), Raimundo Nonato de Carvalho(1932), Artur Leodegário Mousinho(1932), José Olympio Cavalcante(1934 a 1936),  Cícero Rodrigues Coelho(1936 a 1937), José Olympio Cavalcante(1945),  Manuel Mendes leal(1946), Artur Cavalcante Coelho(1947), Getúlio das Chagas Leitão, última indicação(1947). Para gestão de 1948 a 1950, é eleito diretamente, Cícero Rodrigues Coelho. De 1951 a 1954, é eleito Manuel Mendes Leal. De 1955 a 1958, Francisco Rodrigues Coelho;  de 1959 a 1962, José Ribamar Coelho(1ª vez), de 1963 a 1966, Raimundo da Rocha Leal; de 1967 a 1970, José Ribamar Coelho( 2ª vez); de 1971 a 1972, Elmar Leitão de Carvalho(1ª vez); de 1973 a 1976, José Ribamar Coelho ( 3ª vez); de 1977 a 1982, com apoio da família Coelho, foi eleito José Cavalcante Filho;  de 1983 a 1988, José Ribamar Coelho(4ª vez); de 1989 a 1992, Elmar Leitão de Carvalho(2ª vez); de 1993 a 1996, Goethe Rommel Martins Coelho; de 1997 a 2000, Maria do Espírito Santo Bringel Coelho; de 2001 a 2004, Maria do Espírito Santo Bringel Coelho(reeleita); 2005 a 2008, Francisco Donato Linhares de Araújo Filho; de 2009 a 2012, Valdir Soares da Costa; de 2013 a 2016, Débora Renata Coelho de Araújo; de 2017 a 2020, Francisco Wagner Pires Coelho.                                                                                                                                                                      
    E continuou a estudante,
Vale ressaltar que todos os eleitos, de 1948 a 2017, em tese, pertencem ao mesmo agrupamento político. Este, com domínio pleno das famílias COELHO/LEAL. A título de ilustração, Cícero Coelho é pai de Ribamar Coelho, que é pai de Goethe Coelho. Juntos, ficaram 7 mandatos no poder. Manuel Leal é pai de Raimundo Leal. Espírito Santos, antes de ser eleita prefeita, teve como vice, Goethe Coelho; quando eleita, no primeiro mandato, seu vice era Mussoline Carvalho,  filho do primeiro prefeito de Uruçuí. Valdir Soares tinha como vice, Elmar Leitão, um representante do grupo oligárquico que sempre esteve no poder, e que também foi vice de Espírito Santo. Francisco Donato de Araújo Filho teve que casar com uma filha do grupo dominante para, depois, eleger-se prefeito. E, Débora Renata, eleita para gestão 2013/2016, é filha da família Coelho. E ainda, o presidente da Câmara Municipal, gestão 2017/2018, Stanley Carvalho, é neto do primeiro prefeito, Rogério José de Carvalho.  
             À guisa de conclusão, a estudante disse que, em Uruçuí, só quem comungou das práticas dos grupos politicamente dominantes teve a oportunidade de ser gestor municipal. Quem ousou romper essa tradição, nunca logrou êxito. Por fim, ela agradeceu a atenção de todos e deu por encerrada a apresentação dos estudos. A garota foi bastante aplaudida.