Helena Maria S. Matos Ferreira
Guapimirim / RJ

 

 

Mudança de estação

 

        

       

É quase inverno. O outono já se despede com um jeito meio frio. As roupas quentes na cor e na tecitura predominam nas lojas e também nos corpos meio escondidos. Mas existem os mais ousados com seus físicos expostos nas camisetas. E as jovenzinhas vestem blusas de mangas compridas mas exibem suas barrigas negativadas. Sempre há como demonstrar sua sensualidade. Até os shorts desfilam nos lugares com baixa temperatura. Coisas de brasileiros e brasileiras que trazem além do sangue europeu, o sangue da Mama África e do sangue indígena dessa terra do Pau Brasil.
O índio e o africano conseguiram desnudar o europeu que com a mistura fez-se mais bonito.
Não temos nada para reclamar. Temos sim de agradecer ao Criador por tanta mistura de raças e diversidade de cores, de cabelos, de peles, de olhos. Por falar em olhos, que beleza a contribuição dos japoneses e dos chineses para a nossa etnia. Olhos puxados, mas cabelos ondulados. Olhos bem abertos, pele tostada, mas cabelos lisos. Que belezura a raça brasileira. Assim como as estações não conseguem personalidade climática, apresentando friacas no verão e veranico no inverno, mostrando humor temperamental, assim também somos nós, com altos e baixos em toda a nossa vida. “Temperatura máxima” em certos momentos e friacas, verdadeiros “icebergs” em ocasiões inoportunas. E quando vai do quente ao gelado em poucos minutos, conforme o clima desse Brasil grandão, gigante?
Assim como não entendemos as mudanças climáticas, pois isso é para os meteorologistas, não entendemos também as nossas próprias variações. Só conseguimos senti-las umas e outras.
É preciso uma constante aprendizagem e aceitação das estações do ano e o que é mais importante das estações da nossa própria existência. Há que vivermos cada uma delas com sabedoria que, quase sempre, só adquirimos a partir do outono, aquela maturidade mais serena, mais esclarecedora de que estamos aqui nesse mundo de passagem. Quando percebemos, o nosso tempo já parece esgotado. Será? Ou será?  

 

 
 
Publicado no Livro de Ouro do Conto Brasileiro - Edição 2018 - Agosto de 2018