Maria Rita de Miranda
São Sebastião do Paraíso / MG

 

 

Admirável mundo novo

 

 

          Sabe aquela coisa que a gente não consegue precisar exatamente quando e como aconteceu? É isso! De repente o mundo já não era mais o mesmo. Tudo se transformara em clics. Muito rápido, mecânico, descartável. Em alta: computador, celular, tablete, iphone, ipad que mudam de modelo e utilidade num relâmpago. A gente nem consegue acompanhar. – Esse é o seu celular? Olha o modelo do meu! –Você ainda carrega computador desse tamanho? – Eu só uso este tipo, leve, pequeno e prático. Essa conversa é comum e o consumidor fica eufórico querendo ter o último dos modelos. Não pode ficar para trás.
          As crianças mal sabem falar e já clicam as teclas com os minúsculos dedinhos. Os olhos brilham ao ver as telas acesas. Geração eletrônica. Utilizam os computadores e similares para tudo: escrever, jogar, pesquisar, ouvir música, fofocar etc.
          A internet aproxima a todos. As diversas redes sociais estão aí para quem delas quiser fazer uso. As pessoas têm milhares de amigos sem nunca se encontrarem pessoalmente. Fotos de todas as espécies são publicadas. A exposição da vida de cada um é grande. E não é que tem gente que se interessa em saber o que fulano comeu, o que veste, onde faz compras, para onde viaja, com quem fica, as gracinhas que os filhos fazem? Tem gosto para tudo mesmo.
          Quanto mais seguidores uma pessoa tem, quanto mais amigos virtuais acumula, maior é o seu status. Namoros e até casamentos são oferecidos on line. Casais se formam à distância para se conhecerem pessoalmente depois de algum tempo. Que coisa mais chata! Penso que muitas decepções vêm à baila ao se depararem frente a frente. O conhecimento mútuo se adquire no contato do dia a dia. Mas tem vezes que estes encontros acabam dando certo, não dá para negar.
          Já foi o tempo que para fazer pesquisas várias fontes eram utilizadas, tendo o pesquisador de ler muito para chegar a resultados. Pesquisar hoje? É com um clic. Muitas vezes nem se lê o que foi encontrado. Existe tanta informação que o conhecimento de fato, fica difícil de adquirir.
          Fico pensando nas antigas gráficas. Quanto trabalho para ordenar os textos. A era digital facilitou muito. Desapareceram algumas profissões, mas outras foram surgindo. Será que os livros impressos desaparecerão? Milhares de títulos são oferecidos on line. Gosto ainda de manusear livros de papel. São mais aconchegantes.
          Falando da era tecnológica, não posso deixar de citar a medicina. Médicos deixam de lado os diagnósticos através dos exames clínicos, tato, conversa. Os aparelhos estão aí para servi-los. É mais fácil pedir exames sofisticados. É a tecnologia a serviço da medicina. Que bom!
          Não estou ficando ultrapassada. Aos poucos me adapto às mudanças. Coitado de quem não o faz. Estou certa de que, apesar dos pesares, mesmo com tantas facilidades à mão, sempre terão pessoas ouvindo músicas no velho rádio, segurando um livro para ler, encontrando-se à tarde com os amigos, flertando (palavra antiga!) olho no olho.
          Em toda conversa certamente terá alguém disposto a defender a nova era e exclamar: - este é nosso admirável mundo novo!

 

 

 
 
Publicado no Livro de Ouro do Conto Brasileiro - Edição 2018 - Agosto de 2018