Wagner Gomes
Caçu / GO

 

 

A moça mais linda da rua

 

Ela é parda, é negra, amarela, mulata, vive na rua,
junta lata, papel, alumínio, madeira...
Anda suja, descalça e rasgada, é ignorada.
Ferida nos sentimentos, no rosto, na alma impregnada, a poeira.

Passa a noite na rua, no frio, olhando triste pra lua, deitada em um papelão...
Amanhece faminta, tristonha, olha sozinha para um mundo, sem reação.
Passa na minha frente, na sua, nas frestas da rua se escora no muro.
Anda cambaleante e descoberta, meio nua, procura em outros olhos o futuro.

Eu a vejo, não a entendo, e meu caminho eu sigo, correndo...
Você a vê e passa, sem graça, olha e segue, ela fica na praça.
Mais ela ali está, e imagina, sonha, espera, ela é menina moça,
e na realidade da rua nada muda, tudo continua.

Ela para e pega no chão, apanha da vida, se nega, corre, foge, se esconde.
No meio da tarde ela se senta na guia, olha o trem, o ônibus, os carros.
Nenhum deles para, todos seguem, ninguém sorri, ela chora.

Se sente um lixo, um bicho, sem fé nem capricho,
ela tem olhos verdes, castanhos, negros, perdidos...
Mais ela segue, caminha solitária, fria, mais sempre esguia.
Nas noites, nos dias, abandonada, sozinha na rua, a dor é crua.

Toda descabelada, amarrotada, malcheirosa, sem prosa,
sem mãe, sem pai, sem amigos, sem irmãos...
O mundo passa, a vida leva, segue, e ela sente a dor,
ela inventa, do lixo se alimenta e ninguém vê, ninguém sente.

Toda sociedade olha, passa, critica, e segue...
E ela prossegue na luta, sem lei, sem proteção, sem justiça...
No coração um vazio, na alma apenas um pavor.
Ela sofre de excessos de abandono, sente dor, muito triste, sente falta de amor.

 

 

 

 

 

 

 
 
Poema publicado no Livro de Ouro da Poesia Brasileira - Edição 2018 - Agosto de 2018