José Faria Nunes
Caçu / GO

 

Sem limites (ou o sonho da criança)

 

 

Ao acordar para a vida enlaço-me no fio da tessitura
mágica da aranha em sua teia e me jogo nos braços
do sonho. Sonho que, desde então, proponho buscar.
E ponho-me a edificar monumentos, castelos, torres,
muralhas, mas diferentes das muralhas que dividem,
seja a muralha que surge o elo que aconchegue,
muralha que me sirva de ponte, que possa dar
a meus sonhos a certeza da hábil aranha,
certeza do poder balançar em quaisquer dos fios
entrecruzados de sonhos etéreos, sonhos
de minha incógnita caminhada. Sonhos multicores
onde tudo e nada se somam, coincidentes.
Um e outro análogo à tênue e vaga aventura
como a da criança que se lança ao desconhecido
na busca certa do brinquedo que a seus olhos balança.
Ora da areia úmida da pindaíba em cuja margem nasci
o sonho áureo da criança concretiza-se e de suas mãos
a arte brota como de mãos divinas a edificarem
o universo sonhado: pirâmides, castelos, muralhas...
Pirâmides maiores que as do Egito ou dos Andes
Muralha maior que a da China, castelos maiores
Que os dos reis, rainhas, príncipes e princesas
Dos contos de fada. Maiores e diferentes.
Pirâmides luzidias, museus vivos quais os sonhos
da criança. Castelos áureos, raros, como rara
é a felicidade de órfãos de pais vivos. Órfãos
em pesem os pesares, ainda alimentam sonhos.
Sonho na conformidade dos dizeres proféticos:
que se celebre o amor entre toda criatura.
E sem quaisquer limites. Eis o sonho da criança.

 

 

 

 

 
 
Poema publicado no Livro de Ouro da Poesia Brasileira - Edição 2018 - Agosto de 2018