Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA

 

 

A praga que deu fim aos corruptos



        

                   Fazia frio. Era inverno, e eu estava lá. Presenciei tudo! Vi a violência em sua última estância. Eu estava no plenário da câmara dos deputados, bem próximo do presidente que soltava palavras asquerosas a todo o povo de Brasilândia quando ditos legisladores estavam aprovando o retorno da escravidão em nosso país. Não havia ninguém ali que protestasse! Apenas eu e minha amiga Spivak Walbwachs que morava no meu país há anos, e se tornara brasileira. Era uma exímia escritora. Escrevia interpelada por uma força crítica bem profunda em suas formulações discursiva. Ela não pode dizer uma palavra, pois nada podia combater os homens e mulheres sedentos por corrupção. Toda a Câmara estava convicta de que esta era a única saída. Acabar com toda legislação trabalhista no país. O salário mínimo foi cortado ao meio. As pessoas começaram a passar fome. A dor se espalhava como as pragas do Egito.
Spivak era uma velha amiga dos tempos universitários. Nós sempre estávamos envolvidos nas revoluções organizadas pelos alunos. Fomos para casa entristecidos. Naquela madrugada exaustiva e decepcionante, o melhor a fazer é ir para casa tentando procurar entender o que estava acontecendo. Nossos corpos estavam exaustos. Fomos dormir. Meu quarto era grande e tinha duas camas. O cansaço nos fez dormir rapidamente.
            Durante a madrugada eu tive um sonho, tipo revelação. Um anjo aparecia a mim e dizia: “Amanhã é dia de acertar a conta com os corruptos desta nação. Todos serão cometidos por uma praga incurável, doença nenhuma existente na terra se comparada a esta praga que devastará cem porcento de todos os corruptos que foram contaminados por desejo maligno. Deus não fez o homem para escravizar o outro homem! Deus fez o homem ou a mulher para serem livres!
Naquela noite, fria e longa, eu vi o que meus olhos não conseguem decifrar. Eu pensava que os anjos tinham asas e eram brancos. Esses não eram brancos nem tinham formado completo de humanos. Eram seres resplandecentes, coberto por uma intensa luz azul que exalava de seus corpos. Eu tentava fitá-los diretamente mas não conseguia. Falta-me algo, faltava-me a potência da transcendência espiritual, e o meu corpo era apenas um corpo machucado, ferido, dolorido, sofrido, mas não derrotado! O anjo dirigiu-se a mim e disse:
            – Não temais! O que vai acontecer amanhã será inédito neste mundo, não só em Brasilândia, mas em todas as partes do mundo, nesse momento, anjos, milhares deles, estão sendo enviados aos quatro cantos do planeta com o objetivo de avisar aos poucos homens e mulheres deste mundo que não se venderam ao sistema maligno deste mundo. Amanhã, neste mesmo horário, espalhar-se-á por toda terra uma bactéria que só terá os políticos de todas as posições de poder, os juízes que sempre maquinaram em prol aos seus próprios interesses. A Lei, criada para ser posta em prática não funcionava para dar direitos aos trabalhadores. A Lei protegia os poderosos. Altíssimos salários, grandes riquezas acumuladas, desvios e rombos nos cofres públicos e tantas atrocidades cometidas ao longo dos séculos! Todos serão acometidos por uma enfermidade que os extinguirão em poucos minutos, além daqueles que defendiam tais horrendos e macabros homens que perderam a imagem e semelhança de Deus na sangrenta terra dominada por eles.
            Acordei assustado. Tive um sonho ou uma revelação! Fiquei confuso! Mas a ideia estava fixa em minha cabeça: “Algo vai acontecer!”. No mesmo horário de ontem saiu em todos os noticiários a morte instantânea de incontáveis homens e mulheres, apadrilhados e seguidores desses horrendos seres que permitiram ser contaminados pela cobiça, avareza, ódio e desonestidade! O Congresso esvaziou, o STI poucos sobreviveram, mas no congresso praticamente 70 % foram dizimados pela praga.
            Antes eu havia contado o sonho que eu havia tido, mas ela não me deu atenção, no entanto, diante dos horrendos acontecimentos, ela ficou estarrecida, e dizia:
            – Meu amigo, Deus o escolheu para revelar o que hoje estamos vivendo. É morte de todos os lados. A maioria dos políticos, empresários, legisladores, juízes e advogados, entre tantas outras profissões constituídas por corruptos cidadãos que viviam de acordo com uma vida repleta de contrabandos e injustiças. Faziam tudo para continuarem se alimentando do macabro sistema que produzia estratégias capazes de trazer à tona o fim de tantos anos de lutas, guerras e resistência.
            O povo saiu às ruas, fazendo festas, olhando para os céus e adorando o Deus da Verdade que se levantou de sua santa morada para fazer justiça na terra que ele criou, mas não imaginou que o homem chegasse ao ponto em que ele chegou!             Este dia tornou-se o mais importante dia da Terra: o dia da Justiça de Deus! E o mundo reconheceu a existência de um só Deus, aquele que fez os céus e a terra, o que criou o tempo dos viventes, a vida e a morte, o bem e o mal, dando livre arbítrio para os terrestres escolheram o caminho a seguir, mas, infelizmente, o mundo estava descontrolado. Os valores divinos haviam sido abandonados pela maioria dos terráqueos.
Neste mesmo dia, desapareceu da Terra a pandemia que estava a matar mais de 1.000.000 mortos apenas em Brasilândia. Países como a Chinelândia teve que mudar, e a democracia retornou a todos os países dominados por um sistema autoritarista. A Russolândia também se ajustou aos novos tempos de justiça, paz e cidadania. Os novos governos passaram a ter medo da corrupção e faziam tudo conforme a verdade dos fatos. O dinheiro arrecadado era distribuído pela população de forma justa e igualitária. A fome desapareceu. Novos tempos surgiram! A educação e a saúde passaram a ser a pilastra do continente. Filosofia, Sociologia, História, Literatura, Ciência Humanas, Antropologia, entre tantas outras áreas do conhecimento, passaram a estar a serviço da humanidade.
            No mundo, as potências deixaram de ser potências, pois todos os países passaram a ter os mesmos direitos. A praga veio pra ficar, e aí de quem a desafie! Ai de quem se corrompa, pois sabiam que logo pegariam a praga e morreriam instantaneamente.
            Passei a respirar como nunca respirei em minha vida. E Spivak prometeu manter segredo do sonho-revelação que Deus me deu. Não sei por que Deus a mim escolheu. Um professor que, embora defenda a igualdade social e o respeito mútuo entre os povos da terra, não sou merecedor da escolha. Isto não me fez melhor que ninguém, além do mais, o anjo me disse que eu deveria continuar na mesma estrada que eu iniciei: na estrada da verdade e da esperança. E que eu não me desviasse dela porque o anjo enviado por Deus, ficará na Terra até que Deus lhe ordene voltar aos céus!
            Eu sou sortudo. Menino de infância doentia. Adulto que sofreu em silêncio a marca que ele carregava consigo desde o seu nascimento. O anjo também ordenou:
            – Que a ninguém falta a paz! Que a ninguém falta a esperança! Que a fartura atinja a todos! E que não haja guerra, ódio ou rancor, pois todos aqueles que forem tocados por esses vis sentimentos seriam imediatamente extintos da terra, tocados pela praga, não do Egito, nem de nenhuma conspiração de algum ditador. O mundo, agora, estava regido sob as rédeas da vontade de que O criou!
            Acordei do sonho, olhei para o meu lado, e vi Spivak lendo um livro chamado “Pode o Subalterno falar?” E me explicou muita coisa sobre o sistema que ainda impera em nosso sofrido país! Acordei bastante estimulado a continuar a luta contra os opressores! Eles não nos vencerão! Eles terão o fim que merecem, e fiquei a pensar naquele sonho tão bem sonhado! Enquanto eu viver, jamais o esquecerei! Neste mesmo dia, o gigante despertou e invadiu o palácio. Eram incontáveis brasilandianos revoltados com o corrupto governo e com os seus mercenários. Nesse mesmo dia morreram de covid mais de 100 mil pessoas, todos eles políticos mercenários e corruptos legisladores e juízes, além de empresários que faziam parte do sistema, alienados seguidores!
            Fiquei quieto, assustado, mas resiliente e alegre com o que estava a acontecer! Deus se levantou de sua Santa Morada para fazer justiça com as suas próprias mãos!

 

 

 


 




Conto publicado no livro "Mentiras (mais ou menos) verídicas"
Edição Especial - Agosto de 2021

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