Helena Maria S. Matos Ferreira
Guapimirim / RJ

 

 

Mentiras mais ou menos verídicas


 

          Quem nunca contou uma mentira na vida?
          Quem nunca foi “pego na mentira”?
          Até o clima às vezes é mentiroso. Começa um dia frio, chuvoso, de repente torna-se ensolarado. E quem saiu parecendo uma cebola vai se desfazendo rapidamente dos casacos, toucas e luvas. Menos da máscara.
          Mas não era sobre esses tipos de mentira que eu queria falar, mas sim daquela que pode parecer inofensiva e se tornar um tormento na vida de quem a criou ou quem sabe até acontecer um final feliz.
          Adalberto, um jovenzinho, queria namorar uma menina, a Melina, e lhe disse que o pai era fazendeiro. Disse até o nome da fazenda para ela: Estrela Branca.
          A mocinha mostrou-se interessada e fez-lhe várias perguntas e ele as respondia, formando assim um diálogo:
          - Tem plantação?
          - Tem.
          - De quê?
          - De milho.
          - Tem criação?
          - Tem. De galinhas.
          - Só?
          - Não; tem muitas cabeças de gado. Mais de mil! Ah, e tem também um roseiral. Exportamos rosas.
          E não se fazendo de rogado, ampliou a mentira para gado suíno, equino e hortaliças.
          A menina ouviu tudo com atenção e lhe disse:
          - Adalberto, que coincidência! Meu pai também possui uma fazenda com esse mesmo nome e tem tudo como a do seu pai. Só não tem o roseiral, mas sim um enorme orquidário com orquídeas raras e caríssimas.
          Melina pegou-o na mentira, mas ele não se fez mais uma vez de rogado:
          - “Pois é, temos também um enorme apiário.”
          A jovem já estava irritada com todo aquele exibicionismo e jogou a última cartada:
          - “Quando você vai me levar para conhecer a sua propriedade? Fiquei muito curiosa!”
          O adolescente pensou, já meio desesperado, como iria sair de tal enrascada. Um estalo!
          - “Será que ela está fazendo o mesmo jogo que eu?” -Respondeu-lhe, então:
          - “No mesmo dia em que você me levar para conhecer a sua fazenda.”
          Olharam-se bem no fundinho dos olhos e sorriram, demonstrando toda a imaginação fantasiosa da adolescência, ainda latentes em seus corações.
          Deram-se as mãos e foram tomar um sorvete no quiosque da pracinha.
          Para isso Adalberto considerava-se milionário, pois seu cartão dava para pagar a conta e ainda sobrava um pouquinho.

 


 




Conto publicado no livro "Mentiras (mais ou menos) verídicas"
Edição Especial - Agosto de 2021

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