Yvor Fortunato
Curitiba / PR

 

 

Sem interpretação...

 

 

        Moacir era um exemplo de probidade, e além disso muito religioso, Presidente do Comitê de Defesa da Honra e Decência da comunidade local.
        Casado há mais de quinze anos com Salustiana, uma jovem balzaquiana muito bonita e de predicados morais indiscutíveis, formavam o que se poderia chamar de par perfeito. Só que, financeiramente, as coisas não iam muito bem para o casal. A cervejinha no final da tarde e as compras no armazém minguavam dia a dia, a ponto de Argemiro, velho amigo, começar a se preocupar.
        - Então, Moacir, algum problema? Estou sentindo o amigo um pouco por baixo, meio tristonho... posso fazer alguma coisa para ajudar?
        Moacir, olhos fixos no último copo de cerveja, sussurou como um lamento:
        - ... ela acordou às oito, passou aquele batom bem vermelhão, vestiu uma blusinha branca quase transparente, sem sutiã, botou aquela calça apertadíssima enfiada na bunda, calçou aquelas sandalhonas de salto bem alto, pegou a bolsa e foi...
        Argemiro ficou assim sem entender o que Moacir dizia:
        - Peraí, Moacir... como assim? "Foi"!?
        E Moacir sem tirar os olhos do copo:
        - Foi... E se ela voltar sem dinheiro estou lascado!!!

 

 


 




Conto publicado no livro "Mentiras (mais ou menos) verídicas"
Edição Especial - Agosto de 2021

Visitei a Antologia on line da CBJE e estou recomendando a você.
Anote camarabrasileira.com.br/mentiras21-006.html e recomende aos amigos