Ismar Carpenter Becker
Rio de Janeiro / RJ

 

 

Jaime, o Calhorda - Solidário com a saúde

 

No Brasil do início do descobrimento havia malária, dengue, febre amarela e fazia até tremer os macacos, papagaios , araras e as árvores das florestas tropicais. Passaram-se os séculos e foi eleito pela primeira vez um operário metalúrgico para ser presidente e que prometeu usar as ferramentas da sua profissão para acertar a máquina do desenvolvimento do país, já que seus antecessores intelectuais, caudilhos, ditadores e coronéis não tinham conseguido resolver com sucesso os problemas crônicos da saúde que continuavam do mesmo jeito desde que as naus cabralinas chegaram por essas bandas. Continuava a falta de remédios, cirurgias adiadas até a terceira geração, pacientes morrendo na fila, falta de equipamento, cirurgias sem técnicas modernas, hospitais sucateados, etc...
Jaime, o calhorda, solidário com a população, resolveu ajudar; se apresentou como voluntário num hospital público para auxiliar na enfermagem. Colocou o jaleco branco, crachá, estetoscópio no pescoço e foi à luta.
Ao chegar à enfermaria começou a trabalhar e viu um paciente terminal e, para aliviar a sua dor e sofrimento desligou a aparelhagem , solidário com o racionamento de energia imposto pelo governo. Ao passar por um outro paciente trocou as papeletas do remédio , glicose para um paciente diabético. 0bservou um outro paciente que seria operado de vesícula e, então, para que o paciente pós operado não ficasse caminhando de um lado para outro no quarto, acrescentou na papeleta de operação também uma amputação da perna esquerda. Já num outro internado acrescentou no prontuário exame de próstata cinco vezes ao dia com toque retal e exame PCA. Continuando seu trabalho como voluntário, recomendou uma transfusão de sangue para um paciente terminal e quimioterapia para um paciente que sofria de anemia profunda; já para outro colocou quatro caixas de Lexotam na papeleta de soro . E assim foi Jaime, o calhorda aumentando a voltagem do aparelho de Raio X, reutilizando seringas descartáveis, etc..., até que enjoou do serviço exaustivo de tratar da saúde alheia, aumentou a pressão da caldeira do hospital a caiu no mundo até a próxima atuação calhorda.

 

 

 
Poema publicado no livro "Mutretas, Xavecos e Pilantragens" - Contos - Janeiro de 2018