Maria Ioneida de Lima Braga
Capanema / PA
A tenda
Contou até dez e abriu os olhos.
- Ei, não aconteceu nada.
- Você estava olhando. Vamos contar de novo.
- Não estava nada...
Recomeçou. Um...Dois....até abrir os olhos o coração a mil.
- Mas você disse que...
- Você que olhou antes do tempo. Essas coisas... sabe como é?
- Hã?
- Vamo começar de novo.
- Como assim de novo. Só pod estar de brincadeira?
- Não tô, e dessa vez vai, ou não me chamo Madame Zuleika.
- Sabe o que andam dizen...???
- O quêêê? Seja o que for é mentira!
- Acho que não. Agora mesmo tô aqui só perdendo tempo. Quero meu dinheiro de volta.
- Quem você pensa que eu sou, mocinho?
- Aquela de quem todo mundo fala. E que tão querendo tirar o couro. E é isso que vou fazer já, já, se não me der o meu dinheiro de volta.
- É esse seu nervosismo que deixa sua aura escura. Assim não é possível trabalhar.
- A culpa é minha agora, sua vigarista?
- Tá bom, mas a escolha é sua, certo?
- Certo nada. Quero minha grana.
- Não, isso não. É depois não vai ser preciso. Você morre antes.
- Eu vou por a boca no mundo.
- Vai nada. Sua situação não vai ter volta... Estão me dizendo aqui. Isso só se você falar que ficará assim pra sempre ..Viu? .
- Aí meu Deus do céu. Não faz isso comigo não.
- Ainda quer saber ou vai embora?
- Deixa eu ir. Nunca mais volto aqui juro!
- Vê lá hein? Com essas coisas não se brinca.
Não, não volto não. Vou brincar com essas coisas? Nem morto.
- Morto. Mortinho se falar.
- Té logo.
-Tchau. Te cuida viu?
E ele sai apressado. O importante é fugir o mais rápido possível dali. Cabisbaixo e cego de medo acelera os passos quarteirão a fora. De repente esbarra em alguém que pergunta.
- Sabe onde fica a Tenda?
Meneia a cabeça e aponta.
- Lá ó.
Volta-se rápido e embrenha-se na multidão. Não era nem doido pra falar. Vai que...
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