Neiva Teresinha Paludo Chemin
Pato Branco / PR

 

 

Perseguição implacável




Naquela noite de outono, Juarez foge em disparada rumo à floresta tentando escapar da assustadora perseguição implacável.
Escondido debaixo de um parreiral, a chuva caia aos cântaros; raios clareavam os arbustos ao redor. Cenário aterrorizador...
Roupas encharcadas, chuva intermitente... Três dias e três noites escondido.
Juarez, conhecido pelo apelido Tuta, era procurado pelo velho, rude e muito violento, pai de Frida, que queria fazer justiça a sua forte e robusta filha, pelo fato de Juarez não aceitar casar com ela.
Frida era muito esperta e dominava as suas presas com facilidade. De toda maneira queria casar com o moço moreno, lindo, jovem e inexperiente, desde o primeiro dia em que o viu.
O velho pai da moça, violento, com arma em punho e seus ferozes cães, procurava Juarez em toda a mata. Uma perseguição mortal. Ninguém dizia não para a sua filha.
Essa situação se tornou insuportável para Tuta... Passar a vida fugindo, se escondendo pelo simples capricho de uma moça mimada?
O velho vingador, não dava tréguas ao belo jovem...
Cansado da perseguição, Tuta fugiu para o Paraguai, que fazia divisa com as terras do seu pai. E lá, ficou por muito tempo sumido.    
O tempo foi passando... De cá pra lá... De lá pra cá... Às escondidas...
E tudo foi se acalmando...
Frida, não era flor de maracujá...   Era sim, flor de espinheiro...
Depois de tudo o que ela havia aprontado, mais uma grande encrenca: abusando de um adolescente, o obrigou ao matrimônio. Seu pai, cego pela defesa da família, desordeira e mentirosa, armou tudo para defendê-la. Logo ela teve um filho. Era uma arapuca. Pai e filha estavam sempre armando confusão com os vizinhos de terra, na venda, no café, até na igreja. Os dois, por onde passavam deixavam rastros de bagunça, confusão.
Após três anos de exílio, Tuta voltou à casa dos pais. Nunca esquecendo do susto e da perseguição pela qual havia passado desde aquela noite de temporal intenso. Dizia ele, tirando o chapéu:
- A vida é malvada.
Um dia, com um parente viajou a Alto da Serra, um lugar no interior de Santa Catarina, onde haveria uma festa.
Várias jovens desfilando e mostrando seus vestidos bonitos...
Noemy, filha de um madeireiro, dono de muitas terras, senhor Emílio, também participava dessa festa com as amigas. Ela era noiva, pela segunda vez, de um rapaz da região chamado Popo.
Vai e vem de brindes sorteados, ela ficou frente a frente com Tuta pela primeira vez. Encanto total de um para o outro... Atração fatal. Ele, moreno encantador; ela, uma princesa dos olhos esverdeados.
A aliança do noivo, Noemy mais que depressa tirou do dedo e a colocou no bolso do vestido. Pelo visto ela era livre. Conversaram e se entenderam. Para surpresa de todos: marcaram casamento.
Desilusão e tristeza para Popo, o ex-noivo.
Nas terras dos pais de Juarez, construíram uma casa modesta e ali foram morar. Eram muito felizes.
Os filhos começaram a chegar: Maria Cristina, as gêmeas Rozana e Rozeli, Sinthia, Stela Maris, Keli e Thaiza.
Fazendo uma cerca, deu ordem ao capataz:
- Olha! Se a próxima for menina nem me chame. Eu vou continuar fazendo a cerca.
Logo veio um menino, Edson Juarez. Porém, adoeceu e virou anjinho lá no céu.
Mais tarde, nasceu outro menino, Maurício. Quanta felicidade!
Todavia, a perseguição implacável, daquela noite de chuva, há muitos anos vivida, Juarez não conseguia esquecer.
Sempre que o tempo escurecia e um temporal se anunciava, ele reunia as crianças ao redor do fogão e contava a história da perseguição implacável. Os olhinhos atentos brilhavam... No final, todos corriam para a cama e, bem cobertos com os brancos lençóis lavados pela mamãe, sonhavam com as aventuras vividas pelo querido e amoroso pai.
Com os filhos crescidos, toda a família mudou-se para uma cidade bonita e acolhedora no Paraná. Construíram uma casa no alto de um morro, onde o vento assobiava feliz.
Nesse lugar, Juarez e Noemy plantaram uma jabuticabeira, um pé de butiá; estenderam uma rede na sacada e viveram rodeados pelo carinho de todas as filhas, do filho e dos netos que nasceram.
Viveram um grande amor. Um amor eterno... 


 




Conto publicado no "Naquela noite" - Contos selecionados
Edição Especial - Agosto de 2020

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