Otaviano Maciel de Alencar Filho
Fortaleza / CE

 

 

A Lua cor de sangue


             Sentado no sofá, defronte à televisão, Guilherme assistia as notícias que eram veiculadas pela emissora de sua predileção enquanto Marta, sua esposa preparava o jantar.  No chão da sala, divertindo-se com um carrinho de brinquedo, estava Jorginho, seu filho de sete anos de idade que, alheio às informações que eram passadas pelo noticiário, permitia a seu pai assimilar completamente as informações que eram repassadas pelo apresentador.
             No último bloco de notícias o apresentador informou que na madrugada do dia seguinte ocorreria um fenômeno natural envolvendo a lua, chamada de “lua de sangue”, pois a mesma ficaria vermelha da cor de sangue e seu tamanho também aumentaria. Depois de explicar detalhadamente de forma científica o raro fenômeno, deu boa noite aos telespectadores e desejou que todos pudessem ter a oportunidade de assistir esse belíssimo evento que só viria a ocorrer novamente daqui a alguns anos.
             Nesse momento, Guilherme percebeu que Jorginho parara de brincar com o carrinho e ficara imóvel, de olho grudado na televisão, então perguntou:
             -O que foi que aconteceu filhinho?
             - Papai, o homem falou que a lua vai ficar cheia de sangue. - Disse o menino assustado.
             A verdade é que se ele fosse explicar como isso acontecia o “pivete” não iria entender. Assim ele preferiu dizer que era o “papai do céu” que ia pintar a lua naquela madrugada, para ela ficar mais bonita.
             - Papai, vamos ver a lua amanhã cedinho? – Perguntou.
             -Sim, claro Jorginho. Eu vou acordar cedo chamar você e sua mãe e nós vamos lá pra fora ver como a lua vai estar bonita, mas agora é hora de você ir dormir para acordar cedo. Levou o pequeno até o quarto e o deitou, beijando-lhe a fronte e cobrindo-lhe com o cobertor.
             O jantar estava pronto e Marta o chamou para fazerem a refeição. Os dois voltaram à sala e demoraram aproximadamente três horas defronte a televisão e finalmente foram deitar ansiosos pela chegada da madrugada.
             Finalmente às cinco horas da manhã todos estavam acordados e puderam apreciar o belo fenômeno. Jorginho extasiado exclamou:
             - Papai, parece sangue mesmo, ela tá toda vermelha e “inchada”. - Disse o moleque!
             - Não filhinho, não é sangue não, já te disse. - Retrucou Guilherme.
             - Hoje à tarde, na escola, vou contar para os meus coleguinhas que eu vi a lua cor de sangue. - Asseverou o menininho.
             Passada meia hora o fenômeno começou a se desfazer e a lua voltou a sua cor normal e todos entraram a residência novamente, tendo Jorginho voltado a dormir. Dona Marta foi fazer o café, pois Guilherme ia sair para o trabalho às seis horas.
             Quando chegou a tarde Jorginho foi para a escola, lá chegando contou para os colegas que ele tinha visto a lua ter ficado da cor de sangue. Muitos de seus coleguinhas não tinham visto o acontecimento e acharam engraçado como ele falava da lua. Logo todos começaram a contar estórias que ouviram da lua. Francivaldo, o mais tagarela da turma, falou que na lua existia um dragão e que São Jorge tinha matado ele com uma espada e o sangue do dragão se espalhou por todo canto e que é por isso que de vez em quando vemos a lua vermelha.  Jorginho interviu na conversa e disse que seu pai havia dito que a cor vermelha era porque “papai do céu” tinha pintado a lua. Conversa vai, conversa vem, ninguém soube dizer o motivo da lua ter ficado daquela cor.
Quando retornou a sua residência Jorginho foi para o quarto e ficou esperando seu pai chegar do trabalho para falar sobre o dia na escola.
             A noite chegou e Guilherme voltou para casa. Quando Jorginho o viu pulou em seus braços e foi logo perguntando:
             - Papai, foi mesmo o “papai do céu” que pintou a lua de vermelho?
             - Sim, filho, tudo o que acontece é ele que faz. – Falou sem reservas!
             - Um coleguinha da sala de aula disse que São Jorge matou um dragão e o sangue dele se espalhou pela lua e foi por isso que ela ficou vermelha. – Sentenciou o menino.
             Guilherme ficou perplexo com a estória de Jorginho e sem saber o que dizer naquele momento, falou:
             - Querido, não se preocupe não, papai vai te explicar direitinho, mas agora vou tomar um banho trocar de roupas e depois a gente conversa, tá?
             - Tá certo papai, mas eu acho que tem mais dragão na lua. - Falou novamente o pirralho.
             - Por que você acha isso? - Perguntou o pai curioso.
             - O senhor não ouviu o homem da televisão dizer que daqui algum tempo a lua vai ficar vermelha de novo. São Jorge vai matar outro Dragão. – Disse a criança em sua inocente e fértil imaginação.

 

 

 


 




Conto publicado no "Naquela noite" - Contos selecionados
Edição Especial - Agosto de 2020

Visitei a Antologia on line da CBJE e estou recomendando a você.
Anote camarabrasileira.com.br/nn20-003.html e recomende aos amigos