Teresa Cristina C. de Sousa
Piracuruca / PI

 

 

Aquela noite de pescaria

            

          

            Eu vi que a noite estava escura às margens do rio Piracuruca, natural quando não tinha luar – e Socorro disse que era assim mesmo, mas que as estrelas (que no momento ainda não tinham surgido) eram o bastante para iluminar a pescaria – o que me tranquilizou momentaneamente. E os jacarés? Haveria jacarés por ali?
            Socorro sorriu calmamente em direção às águas escuras engolidas nos leves movimentos do vento. Você leva a rede de pescar, ela me disse. Hum, o peso é sempre para mim. Eu julguei que havia apenas pensado, mas tinha falado alto. Sorri. Felizmente ela não deu muita atenção ao que eu disse. Descemos devagar  o caminho íngreme. E a noite escura? Sim: era um pensamento que não me saía da cabeça.
            Eu era morta de medo de escuro. Só que minha amiga tinha sido criada tomando banhos no rio à luz do luar ou iluminando o caminho com uma lanterna. Mas eu tinha uma lanterna nas mãos. Coisa que Socorro me mandou colocá-la amarrada à cabeça, usando a borracha que havia naquela. Minha amiga queria que eu ficasse com as mãos livres para remar a canoa. Quem entendia a rede de pesca nas águas era Socorro. E o fazia muito bem. Parecia uma linha estendida na superfície das águas. De longe apenas se avistavam as pequeninas bóias de isopor. Mas, de repente, as águas ganharam um barulho alto. Ploc! Gritei assustada. Era um jacaré?
            Jacaré não era.
            - Sério?
            Dei uns dois suspiros de alívio. Em volta da canoa as águas revoltas pelos saltos de algum animal. Remexi-me na proa e segurei o remo de encontro a meu corpo como para me proteger.  Socorro caminhou dentro da canoa, olhando as águas. Andou calmamente e ao falar deixou escapar um sorriso, ou seria um sonho? É um tucunaré, e dos grandes. Hoje eu pego um deles!
            No alto do céu, estrelas surgiram mansamente. Remei de volta para a margem. Meu coração é que ainda estava acelerado deixando escapar meus medos. E minhas lembranças me rondando, rondando...

            "Tempo de criança
            Meu pai lançava no rio
            A tarrafa aberta

            Ah! Era mais por prazer
            Que meu velho pai pescava"


 




Conto publicado no "Naquela noite" - Contos selecionados
Edição Especial - Novembro de 2020

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