Valdirene de Assunção Pereira
Santa Maria / RS

 

 

Naquela noite

            

          

           Márcia gostava de caminhar e como havia perdido o horário do ônibus, e a noite estava muito estrelada, achou interessante dar uma esticada nas pernas, afinal entre sua casa e a escola onde estudava eram poucos quarteirões.
           Era muito difícil ela andar sozinha de noite nas ruas, pois tinha um colega de turma, que morava próximo de sua casa e a acompanhava até o seu portão, os dois eram muito amigos e aproveitavam para conversar, trocar algumas ideias, colocar as fofocas em dia, entretanto hoje o colega não tinha ido a aula, estava de plantão, ele trabalhava como Policial Militar. O Regimento da Brigada Militar também ficava a poucas quadras de sua residência.
           Ela vinha caminhando tranquilamente, sua aula havia terminado mais cedo, a professora do próximo período estava de licença maternidade e a direção da escola não tinha colocado nenhum professor substituto no lugar da professora até aquele momento.
           Márcia caminhava em linha reta pela avenida, quando se aproximou do cruzamento de ruas, que ela fez menção de parar e olhar se estava vindo algum carro para poder atravessar as ruas com segurança, foi quando começou a ouvir gritos e ver gente correndo naquela rua em sua direção, e em seguida começaram os tiros, muitos tiros, uma rajada de balas.            Naquele momento, ela não sabia se parava, se regressava ao trajeto percorrido anteriormente, se corria em frente, foi neste mesmo instante que percebeu a gravidade do fato, quando viu o homem cair duro no chão, bem na sua frente, o sangue daquele corpo imóvel escorria ligeiramente na via, os gritos tornaram-se mais altos, desesperados, prontamente a sirene da polícia ecoou. Márcia estava trêmula, apavorada, aquela cena terrível fez com que ela conseguisse refletir com exatidão, retornou o trajeto e correu, entrou na farmácia que ainda estava aberta, sorte dela que eram poucos passos, visto que suas pernas ainda tremiam, e estava gelada, petrificada, muito assustada.
           Entrou aos prantos na farmácia, em pânico. Explicou o acontecido, os funcionários trouxeram-lhe um copo de água, eles tinham ouvido os barulhos, comentavam que o motivo do tiroteio seria uma briga de rivais.
           Todos os envolvidos na cena do crime foram presos, o homem caído aguardava perícia, o óbito foi certo. A rua foi interditada, a Polícia ficou por ali. Márcia seguiu seu caminho, muito nervosa, chorando ainda, quando se aproximou de casa, não teve coragem de ficar sozinha, bateu à porta da casa da vizinha, para quem contou todo o acontecido, relatou seu medo, sua insegurança. Afinal, nunca havia presenciado ninguém morrer em sua frente antes. Tudo isso aconteceu naquela noite
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Conto publicado no "Naquela noite" - Contos selecionados
Edição Especial - Novembro de 2020

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