Suzi de Cougo Souto
Florianópolis / SC

 

 

Um conto vivido e escrito

 

 

E aos dezesseis engravidei, com dezessete te ganhei...
Em meus braços te peguei, ninei, mas teus choros eu não calei...
Eram tantas dúvidas, medos e aos meus pais, teus avós eu te entreguei. Estávamos todos juntos e ser deles ou meu não importava, pois pouca diferença eu notava.
Outra paixão, um novo amor e uma nova história se fez. Eu não podia ficar tampouco podia te levar. Mas fiquei de voltar e te buscar. As férias chegaram e teus avós te levaram, mas muitas coisas haviam mudado. Uma delas foi perceber que a saudade bateu e que você até adoeceu e que teu amor não era mais meu!
Minha vida se encaminhou e outro filho então em meus braços se aninhou. Mas aquele vazio que você deixou um rombo sofrido em meu coração ficou. Eu via você crescer e a minha mãe você recorrer. Eu tentava me enganar e a todos querer provar que a decisão certa havia tomado e por você havia zelado.
As visitas aconteciam cada vez mais raras, você crescia, competia se divertia e eu a distância apenas via... Tinha a minha família e trabalho que muito exigiam. Até que a união acabou e você se chegou, confesso nem acreditei quando naquele dia nós três nos deitamos de uma só vez. Eu estava sonhando e meu coração não estava se agüentando! Mas que final feliz que nada, era tudo fogo de palha e você feliz me falou que iria embora.
Antes o que nos separavam eram apenas os bairros, mas quando a união acabou pro mesmo bairro sua vó procurou e um apartamento perto eu e seu irmão nos mudamos.
Quando você falou do lugar para onde você iria, nem acreditei quando sua pronuncia escutei New Zeland. Com uma amiga comentei e ela um ditado até falou que “os filhos são para o mundo”, eu até pensei ela só pode estar brincando, fala isso por que seu filho mora logo ali na outra rua.
Anos se passaram você casou e um Australiano de neto me presenteou. Uma esperança veio a nascer e amor de vó nem consigo descrever. Para uma visita eu fui com muito medo confesso afinal viajar sozinha e sem saber o dialeto. Mas a tudo encarei e lá cheguei. Respirei fundo para não chorar, mas não pude agüentar. Era um reencontro que mais parecia um encontro. Dos meus braços saiu bebê e agora vejo a minha frente um homem e nem sei o que dizer. Vivemos trinta dias de encontros com o passado, presente e futuro. O amor aquele buraco fechou, a dor se dissipou quando no aeroporto você me deixou.
Foram minutos de olhos nos olhos em que dissemos tudo, um abraço apertado segurando nossos soluços e com sorrisos nos lábios vivia a certeza de que tudo havia mudado que o passado estava solucionado e a ser sua mãe eu havia voltado!


 




Conto publicado no "Livro de Ouro do Conto Brasileiro"
Edição Especial - Outubro de 2020

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